REVISÃO
Prevalência da dor em professores universitários: uma revisão sistemática
Prevalence of pain in university teachers: a systematic review
Ramon Martins Barbosa1,2,3, Alan Carlos Nery dos Santos2, Marvyn de Santana do Sacramento1,4, Davi Martins Barbosa4, Maria Hortencia Rocha do Nascimento2, Livia Barros de Oliveira Calado2, Isabelle Cedraz Pinho Oliveira2, Ícaro Santos Oliveira2, Jefferson Petto1,5
1Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), Salvador, BA, Brasil
2Faculdade da Região Sisaleira (FARESI), Conceição do Coité, BA, Brasil
3Universidade Salvador (UNIFACS), Salvador, BA, Brasil
4Centro Universitário Adventista do Nordeste (UIAENE), Cachoeira, BA, Brasil
5Faculdade Atenas, Valença, BA, Brasil
6Centro Universitário Faculdade de Tecnologia e Ciências (UniFCT), Salvador, BA, Brasil
Recebido em: 26 de janeiro de 2024; Aceito em: 12 de março de 2024.
Correspondência: Ramon Martins Barbosa, ramonmartinsbarbosa@hotmail.com
Como citar
Barbosa RM, Santos ACN, Sacramento MS, Barbosa DM, Nascimento MHR, Calado LBO, Oliveira ICP, Oliveira IC, Petto J. Prevalência da dor em professores universitários: uma revisão sistemática. Fisioter. Bras. 2024;25(1):1221-1236. doi: 10.62827/fb.v25i1.kg23
Introdução: A dor é um problema de saúde pública mundial, que impacta a população adulta-jovem. Entretanto, está pouco evidente qual a parcela dos professores universitários com dor. Objetivo: Verificar a prevalência da dor em professores universitários brasileiros. Métodos: Revisão sistemática, com registro PROSPERO (CRD42020223759), realizada nas bases PUBMED, EBSCOhost/SPORTdiscus, LILACS, MEDLINE, Portal da BVS, Google Acadêmico e SciELO. Descritores: “Pain”, “Chronic Pain”, “Faculty”, “Faculty, Dental”, “Faculty, Medical”, “Faculty, Nursing”, “Faculty, Pharmacy”. Incluídos: Estudos observacionais; transversais; desenvolvidos com docentes universitários, em instituições de ensino superior brasileiras; que tenham avaliado a prevalência da dor. Excluídos: estudos que não relataram a metodologia para mensuração do desfecho; estudos com instrumentos que não avaliaram a dor como desfecho primário, posteriormente apresentando dados insuficientes para análise dos resultados. O risco de viés avaliado com a escala proposta por Hoy. Resultados: Identificados 1.364 artigos, mas, 6 foram incluídos. Esses eram estudos transversais, publicados entre 2004 e 2015, sendo 4 deles das regiões sul/nordeste. A amostra totalizou 853 professores, sendo 70% mulheres. A prevalência da dor variou entre 36,5% e 96%. A maior percepção da dor autorrelatada foi de intensidade moderada. As principais queixas álgicas foram nas regiões de cervical e lombar. Os estudos possuem moderado a alto risco de viés. Conclusão: Existe uma alta prevalência da dor, bem como uma possível cronificação nos professores universitários. Contudo, estudos com adequado rigor metodológico ainda são necessários para confirmação dos resultados apresentados.
Palavras-Chave: dor; docentes; saúde pública.
Introduction: Pain is a global public health problem, which impacts the young adult population. However, it is unclear what proportion of university professors suffer from pain. Objective: To verify the prevalence of pain in Brazilian university professors. Methods: Systematic review, with PROSPERO registration (CRD42020223759), carried out in the databases PUBMED, EBSCOhost/SPORTdiscus, LILACS, MEDLINE, VHL Portal, Google Scholar and SciELO. Descriptors: “Pain”, “Chronic Pain”, “Faculty”, “Faculty, Dental”, “Faculty, Medical”, “Faculty, Nursing”, “Faculty, Pharmacy”. Included: Observational studies; transversal; developed with university professors, in Brazilian higher education institutions; who have assessed the prevalence of pain. Excluded: studies that did not report the methodology for measuring the outcome; studies with instruments that did not evaluate pain as a primary outcome, subsequently presenting insufficient data to analyze the results. The risk of bias assessed with the scale proposed by Hoy. Results: 1,364 articles were identified, but 6 were included. These were cross-sectional studies, published between 2004 and 2015, 4 of them from the south/northeast regions. The sample totaled 853 teachers, 70% of whom were women. The prevalence of pain varied between 36.5% and 96%. The greatest perception of self-reported pain was of moderate intensity. The main pain complaints were in the cervical and lumbar regions. The studies have moderate to high risk of bias. Conclusion: There is a high prevalence of pain, as well as a possible chronicity in university professors. However, studies with adequate methodological rigor are still necessary to confirm the results presented.
Keywords: pain; teachers; public health.
A dor é um problema de saúde pública mundial, que acarreta altos custos para os órgãos de saúde. Responsável também por impactar em aspectos biopsicossociais e, funcionais da população acometida por tal condição clínica. Somado a isso, é uma condição de saúde, multifatorial e de complexa compreensão. Isso porque, se trata de uma experiência pessoal, influenciada por fatores psicológicos, biológicos, sociais e pela aprendizagem de cada ser humano [1,2]. A duração da sua percepção pelo indivíduo, permite que ela possa ser classificada como aguda ou, crônica [2,3]. Sendo a crônica, caracterizada pela persistência além do fisiológico, podendo ser responsável por efeitos adversos sobre o bem-estar social e psicológico, acarretando absenteísmo e demais atividades do cotidiano [2,4].
Além disso, estima-se globalmente que 25% dos adultos sofram de dor, e que outros 10% são diagnosticados com dor crônica a cada ano [5]. E no Brasil, país com alto índice populacional, evidências sugerem que a prevalência da dor crônica esteja em torno de 29,3% a 76% [6,7]. Esses dados são preocupantes, uma vez que, a dor crônica e as suas comorbidades associadas são as principais causas de incapacidade e cargas de doenças em todo o mundo [8]. Também é sabido que, a dor pode aumentar o risco de mortalidade, desenvolvimento de doenças cardiovasculares e redução nos níveis de atividade física, podendo ser um fator negativo e limitante na qualidade de vida do indivíduo, tornando a atenção a esse fenômeno multidimensional de extrema importância [9,10,11,12].
Pensando nisso, alguns estudos identificaram a população adulta-jovem como um grande percentual dos indivíduos com dor e predisposição a sua persistência [13,14]. Entretanto, está pouco evidente qual a parcela dos professores universitários com dor, e quais são os fatores que podem estar colaborando com a sua cronificação. Deste modo, conhecer a prevalência desse fenômeno na população mencionada, poderá facilitar a criação/adequação de promoções de estratégias no campo das políticas públicas de saúde, bem como, das universidades. Portanto, o objetivo desta revisão foi investigar a prevalência da dor em professores universitários brasileiros.
Tipo de estudo
Trata-se de uma revisão sistemática, desenhada com base na PRISMA [15], para identificar estudos que analisaram a prevalência e características relacionados a dor em professores universitários. Essa revisão sistemática está registrada na PROSPERO sob registro: CRD42020223759.
Critérios de Elegibilidade
Foram incluídos: 1) Estudos observacionais; 2) transversais; 3) publicados em periódicos nacionais ou internacionais; 4) redigidos em inglês ou português; 5) desenvolvidos com docentes universitários, em instituições de ensino superior brasileiros; 6) que tenham avaliado a prevalência da dor; 7) Tais estudos deviam estar disponíveis na íntegra. Não foram realizadas restrições quanto ao período de publicação dos estudos. Contudo, foram excluídos: 8) estudos que não relataram a metodologia aplicada para mensuração do desfecho; 9) estudos com instrumentos que não avaliaram a dor como desfecho primário, posteriormente apresentando dados insuficientes para análise dos resultados; 10) estudos com docentes de outros países e, 11) estudos com inconsistência dos dados relacionados a amostra e seus principais resultados.
Desfecho de interesse
Para o estudo, a dor aguda foi considerada como aquela que geralmente tem como função alertar o indivíduo sobre a existência de alguma lesão, ou disfunção geral no organismo, sendo sentida em um período de até três (3) meses. Já a dor crônica, como aquela sentida em uma mesma localização corporal, por três (3) meses ou mais [2].
Estratégia de busca
As buscas foram realizadas nas bases de dados: PUBMED, EBSCOhost/SPORTdiscus, LILACS, MEDLINE, Portal da BVS, Google Acadêmico e SciELO por dois autores independentes [R.M.B] e [A.C.N.S], entre janeiro de 2023 e dezembro de 2023, mediante os descritores selecionados através dos “Medical Subject Headings” (MESH) e “Descritores em Ciências da Saúde” (DeCS): “Pain”, “Chronic Pain”, “Faculty”, “Faculty, Dental”, “Faculty, Medical”, “Faculty, Nursing”, Faculty, Pharmacy e seus respectivos sinônimos. Foram realizados cruzamentos específicos para cada base de dados, sendo utilizado os operadores booleanos [AND] e [OR] assim descritos no Quadro I.
Quadro I – Estratégias de busca para as bases de dados
Portal Regional |
ti:((pain OR physical suffering) AND (faculty OR teacher OR educator OR educators OR college teacher OR university teachers) |
(ti:(chronic pain)) AND (ti:(faculty OR teacher OR educator OR educators OR college teacher OR university teachers) |
|
(Pain) AND (Chronic pain) AND (Faculty, Dental) AND (Faculty, Medical) AND (Faculty, Nursing) AND (Faculty, Pharmacy) |
|
SCIELO |
(Dor) OR (Sofrimento físico) AND (Docentes) OR (Corpo docente) OR (Educador) OR (Educadores) OR (Professor) OR (Professor Universitário) OR (Professores) OR (Professores Universitários) |
(Dor crônica) AND (Docentes) OR (Corpo docente) OR (Educador) OR (Educadores) OR (Professor) OR (Professor universitário) OR (Professores) OR (Professores universitários) |
|
(Dor) AND (Dor crônica) AND (Docentes) OR (Corpo Docente) OR (Educador) OR (Educadores) OR (Professor) OR (Professor Universitário) OR (Professores) OR (Professores Universitários) AND (Docentes de Odontologia) AND (Docentes de Medicina) AND (Docentes de Farmácia) AND (Docentes de Enfermagem) |
|
PubMed/ |
(“Pain”[Title/Abstract] OR “pain burning”[Title/Abstract] OR “suffering physical”[Title/Abstract] OR ((“Pain”[MeSH Terms] OR “Pain”[All Fields]) AND “Migratory”[Title/Abstract]) OR “pain radiating”[Title/Abstract] OR “pain splitting”[Title/Abstract] OR “Ache”[Title/Abstract] OR “pain crushing”[Title/Abstract]) AND (“chronic pain”[Title/Abstract] OR “chronic pains”[Title/Abstract] OR “widespread chronic pain”[Title/Abstract]) AND (“Faculty”[Title/Abstract] OR “university professor”[Title/Abstract] OR “professors university”[Title/Abstract]) |
(“Pain”[Title/Abstract] OR “pain burning”[Title/Abstract] OR “suffering physical”[Title/Abstract] OR ((“Pain”[MeSH Terms] OR “Pain”[All Fields]) AND “Migratory”[Title/Abstract]) OR “pain radiating”[Title/Abstract] OR “pain splitting”[Title/Abstract] OR “Ache”[Title/Abstract] OR “pain crushing”[Title/Abstract]) AND (“chronic pain”[Title/Abstract] OR “chronic pains”[Title/Abstract] OR “widespread chronic pain”[Title/Abstract]) AND “faculty dental”[Title/Abstract] AND “faculty medical”[Title/Abstract] AND “faculty nursing”[Title/Abstract] |
|
EBSCOhost/ |
TI pain AND TI chronic pain AND TI faculty |
Google |
“Dor” AND “Dor crônica” AND “Professores” |
“Dor” AND “Dor Crônica” AND “Professores Universitários” AND “Docentes de Medicina” AND “Docentes de Farmácia” AND “Docentes de Enfermagem” |
Seleção dos estudos e extração dos dados
A seleção dos estudos foi realizada por dois autores independentes [R.M.B] e [A.C.N.S], sendo que um terceiro revisor [J.P], foi solicitado para eventuais discordâncias. Portanto, os autores realizaram a etapa de seleção dos artigos por meio da leitura minuciosa de títulos e resumos, de modo que, foram para a seleção final os que atenderam aos critérios de elegibilidade supracitados. Conforme mostra a Tabela I, os estudos elegíveis foram selecionados para leitura do texto completo, nova avaliação quanto aos critérios de seleção e recuperação dos dados referentes a: 1) autor e ano de publicação; 2) região do país (localização geográfica); 3) população (características da amostra); 4) exposição; 5) região da dor (localização anatômica); 6) métodos (instrumentos de avaliação da prevalência e fatores relacionados a dor); 7) desfecho (frequência, prevalência e intensidade da dor) e 8) principais resultados obtidos pelos estudos.
Por fim, as referências revisadas e incluídas nesta revisão foram analisadas pelo terceiro revisor [A.C.N.S], com a finalidade de verificar a existência de potenciais estudos não identificados nas buscas às bases de dados eletrônicas selecionadas. A Figura I sumariza as estratégias de seleção dos estudos que compõe o escopo desta revisão sistemática.
Risco de viés
A avaliação do risco de viés dos estudos incluídos foi realizada por meio da ferramenta proposta por Hoy et al [16]. A ferramenta proposta por Hoy et al., é um checklist que foi desenvolvido especificamente para mensurar risco de viés em estudos de prevalência. Sendo pontuado em 10 questões, que se pautava em aspectos metodológicos de viés para fatores relacionados à validade externa e validade interna. Portanto, permitida ao final da análise a classificação dos estudos como: baixo risco de viés, quando obtinham pontuação em no mínimo nove dos critérios; moderado risco de viés para os estudos que preenchiam entre sete e oito dos critérios; e alto risco de viés para os que preenchiam menos de sete dos critérios.
A avaliação do risco de viés foi realizada por dois autores independentes [R.M.B e A.C.N.S], sendo que, a fim de minimizar eventuais discordâncias na pontuação dos artigos, foi consultada a opinião de um terceiro pesquisador [J.P]. Não foram mensurados os níveis de concordância entre examinadores neste estudo.
As buscas realizadas nas bases de dados e as referências analisadas por busca manual retornaram um total de 1.364 artigos. Entretanto, após análise de títulos e resumos pelos autores [R.M.B e A.C..S], 16 foram eliminados por duplicidade, restando 10 artigos. Já em outra etapa, baseada nos critérios de elegibilidade, outros 4 artigos foram excluídos. Os principais motivos de exclusão foram: estudos contendo professores de ensino médio, fundamental e superior em uma mesma análise, desta forma dificultando a extração dos dados e, estudos com inconsistência dos dados referente aos principais resultados aderindo à utilização de questionários pouco explicativo. Por fim, (6) seis artigos [17,18,19,20,21,22] atenderam aos critérios de elegibilidade do estudo, sendo assim, incluídos nessa revisão, conforme sumarizado na Figura I.
Fonte: Elaboração dos autores
Figura I – Fluxograma de seleção dos estudos quem compõem a revisão
Na Tabela I podemos observar que, os estudos foram realizados nas regiões Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, entre os anos de 2004 e 2015. Eles tiveram como tamanho amostral um total de 853 docentes, sendo que mais de 70% da amostra era do sexo feminino. Contudo, cabe salientar que o estudo de Sanchez et al.,2013 [20], não foi contabilizado, pois, não diferenciou na amostra total, a quantidade de participantes por sexo. No que diz respeito às ferramentas para avaliação da prevalência e fatores relacionados a dor, foram utilizados instrumentos validados, sendo eles: Questionário Nórdico para sintomas osteomusculares e o SF-36, e ferramentas estruturadas pelos autores, que avaliaram a características sociodemográficas e relacionadas a dor. Quanto aos resultados, podemos perceber que a prevalência de queixas dolorosas entre os professores, variou entre 36,5% e 96%. Também chama atenção, que a percepção da dor autorrelatada foi referida apenas por um estudo [17], onde 36% referiram dor de intensidade moderada mensurada por meio de uma escala de 0-4 elaborada pelos autores. As regiões anatômicas com maiores queixas dolorosas foram o pescoço, região lombar e ombros. Quando analisada a distribuição geográfica, podemos perceber que a região sul apresentou prevalência da dor em 96%, já a região Nordeste variou entre 36,5% e 73,5%.
Tabela I – Síntese qualitativa dos estudos que analisaram o autorrelato da prevalência e fatores associados a dor em professores universitários
Autor/ano |
Região do País |
Características da População |
Exposição |
Região |
Métodos |
Desfecho |
Principais |
Dallepiane et al., 2004 17 |
Sul - Rio Grande do Sul |
24 docentes, com idade média de 43,88± 8,61 anos. 13 do sexo feminino. Sendo 75% mestres, 20,8% doutores e 4,2% especialistas. 75% possuem 36 horas semanais de trabalho, 20,8% 40 horas semanais de trabalho e 3,2% 30 horas semanais de trabalho. |
Dor |
Coluna, Cabeça, Braços, Pernas, Pés, Ombros e Joelhos. |
- Questionário de Anamnese Clínico ocupacional. - Escala para avaliação da carga psíquica. Ambos elaborados pelos autores |
- Prevalência da dor. - Intensidade da dor. - Localização da dor. |
(%) de respostas: - Prevalência da dor em 96% dos docentes. -60,9% apresentaram dor na região da coluna, 56,5% cabeça, 30,4% braços, 30,4% pernas, 13% pés, 13% ombros e 4,3% joelhos. - 30,4% referiram dor moderada, 26% dor forte, 21,7% suportável e 21,7% dor leve. |
Coelho et al.,2010 18 |
Nordeste - Bahia |
97 docentes, com idade média de 41,00±10,5 anos. 52 do sexo feminino. |
Dor |
Ombros |
- Questionário semiestruturado pelos autores. - SF-36 |
- Prevalência da dor. |
(%) de respostas: -Prevalência da dor em 36,5% dos docentes. |
Continuação Tabela I - Síntese qualitativa dos estudos que analisaram o autorrelato da prevalência e fatores associados a dor em professores universitários
Autor/ano |
Região |
Características da População |
Exposição |
Região |
Métodos |
Desfecho |
Principais |
Suda et al., 201119 |
Sudeste - São Paulo |
50 docentes, com idade média de 42,5±8,1 anos. 30 do sexo feminino. |
Dor |
Pescoço, Ombro, Cotovelos, Punho e Mão, Região dorsal, Região lombar, Quadris, Coxas, Nádegas, Joelhos, Tornozelos |
- Questionário nórdico de sintomas musculo-esquelético. - Questionário sociodemográfico. |
- Prevalência da dor. - Localização da dor. |
(%) de respostas: - Prevalência da dor no último ano foi de 70% no pescoço, 64% região lombar, 50% Ombros, 42% Região dorsal, 34% quadris/coxas/nádegas, 30% joelhos, 28% punho e mão, 22% tornozelo/pés e 20% cotovelo. |
Sanchez et al., 2013 20 |
Centro – Oeste Goiás |
36 docentes, com idade média de 34,89±7,23 anos. |
Dor musculo-esquelética |
Pescoço/Região cervical, Ombros, Braços, Cotovelos, Antebraço, Punho/Mãos/Dedos, Região dorsal, Região Lombar, Quadril/Membros inferiores |
- Questionário nórdico de sintomas osteomusculares. |
- Prevalência da dor. - Localização da dor. |
(%) de respostas: - Prevalência da dor foi de 74,19% para a região lombar, 74,19% pescoço/região cervical, 67,74% ombros, 64,52% região dorsal, 64,52% punhos/mãos/dedos, 58,06% quadril/membros inferiores, 38,71% braços, 22,58% antebraço e 19,35% cotovelos. |
Continua...
Continuação Tabela I - Síntese qualitativa dos estudos que analisaram o autorrelato da prevalência e fatores associados a dor em professores universitários
Autor/ano |
Região do País |
Características da População |
Exposição |
Região |
Métodos |
Desfecho |
Principais |
Coelho et al., 2010 18 |
Nordeste - Bahia |
97 docentes, com idade média de 41,00±10,5 anos. 52 do sexo feminino. |
Dor |
Ombros |
- Questionário semiestruturado pelos autores. - SF-36 |
- Prevalência da dor. |
(%) de respostas: -Prevalência da dor em 36,5% dos docentes. |
Granja et al., 2014 21 |
Sul Paraná |
121 docentes, com idade média 36,7±8,7 anos. 60 eram do sexo feminino. |
Dor |
Pescoço/Região cervical, Ombros, Braços, Cotovelos, Antebraço, Punho/Mãos/Dedos, Região dorsal, Região Lombar, Membros inferiores |
- Questionário sociodemográfico. - Questionário nórdico de sintomas osteomusculares. |
- Prevalência da dor. - Localização da dor. |
(%) de respostas: - Prevalência da dor foi de 50% para pescoço/região cervical, 41% região lombar, 32% região dorsal, 32% membros inferiores, 27% ombros, 20% braços, 18% punhos/mãos/dedos, 9% cotovelos, 4% braços. |
Ceballos et al., 2015 22 |
Nordeste Pernambuco |
525 docentes, com idade igual ou maior que 40 anos. 452 do sexo feminino. |
Dor musculo-esquelética |
Pescoço, Ombros, Cotovelos, Quadris/Coxas, Joelhos, Tornozelo/Pés, Lombar, Pulso e Mãos e Parte Superior das Costas |
- Questionário sociodemográfico e presença da dor. |
- Prevalência da dor. - Localização da dor. |
(%) de respostas: - Prevalência da dor em 73,5% dos docentes. - Prevalência da dor foi de 31,6 para os ombros, 27,8% parte superior das costas, 27,2% pescoço, 24% tornozelo/pés, 18,3% lombar, 18,1% joelhos, 17,9% pulso/mãos, 11% quadris/coxas e 4,4% cotovelos. |
No que diz respeito ao risco de viés, podemos analisar que os artigos elegíveis apresentaram uma pontuação que variou entre 5 e 7 de 10 pontos possíveis. Quanto a classificação 4 estudos apresentaram alto risco de viés [17,19-21] e em 2 o risco foi moderado [18,22]. O maior risco de viés foi analisado entre os critérios de validade externa, representação nacional da população-alvo (6 artigos) [17-22], sistema de amostragem (6 artigos) [17-22] e seleção aleatória (5 artigos) [17-21]. Já com relação a validade interna, definição de caso e instrumento de estudo não foram preenchidos em 5 [17,19-22] e 1 estudos [17], respectivamente, Tabela II.
Tabela II - Avaliação do Risco de Viés através da ferramenta para estudos de prevalência
1.A população alvo do estudo foi uma representação próxima da população nacional? 2. O sistema da amostragem era uma representação verdadeira ou próxima da população alvo? 3. Alguma forma de seleção aleatória foi usada para selecionar a amostra ou foi realizado um censo? 4. A probabilidade de viés de não-resposta foi mínima? 5. Os dados foram coletados diretamente dos indivíduos? 6. No estudo foi utilizada uma definição de caso aceitável? 7. O instrumento de estudo que mede o parâmetro de interesse demonstrou ter confiabilidade e validade? 8. O mesmo modo de coleta de dados foi usado para todos os sujeitos? 9. A duração do menor período de prevalência para o parâmetro de interesse foi apropriada? 10. O numerador e o denominador para o parâmetro de interesse foram apropriados?
Autor/Ano |
Pergunta 1 |
Pergunta 2 |
Pergunta 3 |
Pergunta 4 |
Pergunta 5 |
Pergunta 6 |
Pergunta 7 |
Pergunta 8 |
Pergunta 9 |
Pergunta 10 |
TOTAL |
Dallepiane et al., 200417 |
N |
N |
N |
S |
S |
N |
N |
S |
S |
S |
ALTO |
Coelho et al.,201018 |
N |
N |
N |
S |
S |
S |
S |
S |
S |
S |
MODERADO |
Suda et al., 201119 |
N |
N |
N |
S |
S |
N |
S |
S |
S |
S |
ALTO |
Sanchez et al., 201320 |
N |
N |
N |
S |
S |
N |
S |
S |
S |
S |
ALTO |
Granja et al., 201421 |
N |
N |
N |
S |
S |
N |
S |
S |
S |
S |
ALTO |
Ceballos et al., 201522 |
N |
N |
S |
S |
S |
N |
S |
S |
S |
S |
MODERADO |
Discussão
Identificou-se que a prevalência da dor nos docentes variou entre 36,5 e 96%. Chama a atenção que a maior percepção da dor autorrelatada foi de moderada intensidade. No tocante as regiões anatômicas mais acometidas, destaca-se a região da cervical e lombar. Observamos também que a maioria da população amostral era do sexo feminino. Outro achado interessante é que a região Sul apresenta uma prevalência maior da dor, quando comparada a região Nordeste.
Com relação a prevalência da dor nos docentes do Brasil ela variou entre 36,6 e 96%, sugerindo, que os nossos dados estão e linha com trabalhos internacionais, onde em um estudo com 449 docentes da Etiópia, foi visualizado que a dor variou entre 47% e 85% [23]. Somado a isso, os estudos incluídos sugerem que a dor se deva a fatores biomecânicos, tais como a posição ergonômica inadequada, braços suspensos para escrita em quadros, peso dos livros, diminuição da massa muscular, fadiga muscular, bem como fatores externos, como mobiliários impróprios a postura, carga de trabalho exacerbada e, a forma como os professores ministram as suas aulas [17-22]. Entretanto, essas hipóteses não parecem ser suficientes para justificar a elevada prevalência da dor bem como, a sua possível cronificação em adultos. Assim, evidências tem sugerido que a dor também é influenciada por fatores como a inatividade física, ansiedade, depressão e estresse, assim como a baixa resolutividade por parte dos profissionais teoricamente capacitados [24,25,26,27]. E esses fatores uma vez negligenciados, podem potencializar uma possível transição da dor aguda para a dor crônica.
Além disso, a cronificação da dor está associada a fenômenos cognitivos e emocionais mal adaptativos, como a cinesiofobia, a ruminação de pensamentos negativos e a catastrofização da dor [24,28]. Uma vez que, há uma associação entre duração da dor e a extensão das alterações cerebrais, principalmente em áreas responsáveis pelo componente afetivo-emocional da dor. Assim, essas modificações neuroplásticas estão associadas a perpetuação da dor, muito tempo após a primeira entrada nociceptiva [29,30]. Outro ponto também é que, de acordo com alguns estudos, a angústia crônica na vida cotidiana e o sofrimento na vida profissional, podem acelerar a cronificação da dor [24]. Com base nessa hipótese é plausível sugerir que o medo, o excesso de cobrança por parte das universidades, a insegurança com relação aos vínculos empregatícios, a má remuneração por parte das instituições, bem como, a cobrança excessiva dos alunos, podem acarretar tanto no processamento da dor, influenciando na sua cronificação.
Somado aos dados já apresentados, nossos resultados sugerem maior dor em mulheres. Esses dados podem ser justificados pelo fato de que, fatores culturais como menor resiliência a dor e psicossociais como o gênero, podem estar relacionados a menor expressividade da dor em mulheres [31,32]. Além disso, um outro estudo sugere que papéis sociais femininos parecem estar associados a menor tolerância a dor, e maior probabilidade de comunicar eventos dolorosos33. Outro ponto também é que, a gravidez, o ciclo menstrual e o uso de contraceptivo oral são relacionados a fatores hormonais que podem modificar a responsividade a dor [31,33]. Assim, níveis elevados de prolactina podem provocar uma hipersensibilidade dos nociceptores, consequentemente reduzindo o limiar a dor e aumentando a probabilidade de comunicar a sensação dolorosa [34]. Da mesma forma, níveis reduzidos de testosterona podem aumentar a sensibilidade a estímulos nocivos, sendo evidenciada em estudos que analisaram áreas responsáveis pelo processamento, bem como, modulação da dor [35].
A maior percepção da dor média autorrelatada foi de moderada intensidade. Assim, a percepção da dor pode estar relacionada a fatores afetivos emocionais, como a empatia, a resiliência e o altruísmo, onde um estado emocional negativo pode ser o responsável por aumentar a dor, enquanto um estado resiliente e tolerante, pode diminuir a responsividade a dor [36]. Além disso, a percepção da dor pode ser influenciada por experiências dolorosas prévias, moldadas por fatores culturais como a expressividade a dor, bem como as suas vivências e interpretações [24,37].
Dentre as várias regiões anatômicas com maior queixa dolorosa, destaca-se a região cervical e lombar. Neste sentido, já foi elucidado que em docentes do ensino superior, a prevalência da dor nas regiões cervical e lombar chegou a 74% [20]. Desta forma, hipóteses como o sedentarismo, fatores psicossociais envolvendo o componente afetivo emocional, como ansiedade, estresse e depressão, bem como, a alteração funcional diafragmática também podem ajudar a justificar o aparecimento da dor nessas regiões [38,39,40].
Outro achado interessante é que a região sul apresentou uma prevalência maior de dor, quando comparada a região nordeste. Desta forma, fatores socioeconômicos, tais como condições de trabalho, status sociais e desemprego são variáveis que podem influenciar a dor, uma vez que, existe uma associação entre níveis socioeconômicos mais baixos e taxas mais altas para o aparecimento da dor crônica com maior deficiência [41,42]. Além disso, fatores regionais e culturais como as crenças acerca dos fenômenos dolorosos, a educação em dor e a crítica a responsividade a dor também podem estar relacionados a maior prevalência da dor na região sul [41].
Portanto, apoiado nos dados apresentados visualiza-se a necessidade da implementação de estratégias públicas direcionadas ao bem-estar e saúde dos professores universitários, uma vez que, mesmo esses apresentando um nível de escolaridade elevado, existe uma alta prevalência da dor. Desta forma, estratégias como educação em dor, realização de atividades físicas regularmente, meditação e eliminação das crenças limitantes, podem aumentar a resiliência a dor. Não menos importante, os dados supracitados requerem atenção das universidades e demais instituições de ensino superior e órgãos públicos de saúde, uma vez que, repercute sobre o estado de saúde dos profissionais responsáveis por capacitar os nossos futuros profissionais.
Este estudo possui algumas limitações que precisam ser discutidas. Em primeiro lugar, a generalização dos dados não pode ser realizada para outras populações, uma vez que reflete a realidade dos professores universitários. Em segundo lugar, as ferramentas para coleta dos dados não especificaram as classificações temporais da dor (aguda ou crônica), de mecanismos (nociceptiva, neuroplástica e nociplástica), bem como, se é de origem primária ou secundária, desta forma, limitando a análise e interpretação dos achados. Por fim, a avaliação da qualidade metodológica pela ferramenta proposta por Hoy et al.,[16] apresentou moderada a alto risco de viés, principalmente por critérios relacionados a validade externa. Entretanto, essas limitações não inviabilizam os dados aqui apresentados, tendo em vista que eles estão em consonância com outros apresentados pela literatura.
Há uma alta prevalência da dor em professores universitários. Tal fato carece de atenção por meio das universidades e demais instituições de ensino superior e órgãos públicos de saúde, uma vez que, refletem a realidade dos nossos docentes, responsáveis pelo conteúdo intelectual dos futuros profissionais. Contudo, estudos com adequado rigor metodológico ainda são necessários para confirmação dos resultados apresentados.
Conflitos de interesses:
Os autores declaram não haver conflito de interesse.
Financiamento:
Financiamento próprio.
Contribuição dos autores
Concepção e desenho da pesquisa: Barbosa RM, Santos ACN, Barbosa DV, Sacramento MS, Petto J; Obtenção de dados: Barbosa RM, Santos ACN, Barbosa DV, Sacramento MS, Cedraz I, Hortência M, Calado L, Petto J; Análise e interpretação dos dados: Barbosa RM, Santos ACN, Barbosa DV, Santos I, Sacramento MS, Petto J; Análise estatística: Barbosa RM, Santos ACN, Barbosa DV, Sacramento MS, Petto J; Redação do manuscrito: Barbosa RM, Santos ACN, Barbosa DV, Calado L, Hortência M, Santos I, Sacramento MS, Petto J; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Barbosa RM, Santos ACN, Barbosa DV, Sacramento MS, Petto J.
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