Avaliação do estado nutricional de pessoas com deficiência visual
Assessment of the nutritional status of people with visual impairments
Raeline Lopes Lima1, Gilberto de Araújo Costa1, Danilo Carvalho Oliveira2, Odara Maria de Sousa Sá3
1Centro Universitário Santo Agostinho (UNIFSA), Teresina, PI, Brasil
2Centro Universitário de Adamantina (UNIFAI), Secretaria Municipal de Saúde de Americana, Americana, SP, Brasil
3Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil
Recebido: 9 de março de 2024; Aceito: 18 de outubro de 2024.
Correspondência: Danilo Carvalho Oliveira, danilofronteiras@gmail.com
Como citar
Lima RL, Costa GA, Oliveira DC, Sá OMS. Avaliação do estado nutricional de pessoas com deficiência visual. Nutr Bras. 2024;23(4):1085-1096. doi:10.62827/nb.v23i4.3032
Introdução: A alimentação adequada e da prática de atividade física são importantes para melhorar a qualidade de vida de pessoas com deficiência visual. Objetivo: Avaliou-se o estado nutricional de 50 pessoas com deficiência visual. Métodos: Estudo transversal aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP N°: 2.085.112). O diagnóstico nutricional foi realizado por meio de parâmetros antropométricos (peso, altura, índice de massa corporal, circunferência da cintura), composição corporal (dobras cutâneas: tricipital, abdominal, subescapular, suprailíaca, axilar média, coxa e torácica) e ingestão alimentar, calorias, carboidratos, proteínas, lipídios, cálcio, ferro, potássio e vitamina A foram avaliados pelo recordatório de 24 horas. Resultados: Observou-se prevalência de 34% de sobrepeso em pessoas com deficiência visual do sexo feminino e 48% no sexo masculino. Além disso, 37% dos indivíduos do sexo masculino e 39,1% do sexo feminino apresentaram circunferência da cintura com risco muito elevado para doenças cardiovasculares. A ingestão alimentar foi caracterizada como normocalórica, hiperglicídica, hiperproteica, hiperlipídica e deficiente em cálcio, potássio e vitamina A. Conclusão: as pessoas com deficiência visual apresentam sobrepeso, elevada circunferência da cintura e alto percentual de gordura corporal, associados com doenças cardiovasculares, e ingestão alimentar inadequada em macronutrientes e micronutrientes.
Palavras-chave: Pessoas com deficiência visual; avaliação nutricional; consumo alimentar.
Introduction: Adequate nutrition and physical activity are important to improve the quality of life for people with visual impairments. Objective: This study evaluated the nutritional status of 50 individuals with visual impairments. Methods: A cross-sectional study approved by the Research Ethics Committee (No.: 2.085.112). Nutritional diagnosis was performed using anthropometric parameters (weight, height, body mass index, waist circumference), body composition (skin folds: triceps, abdominal, subscapular, suprailiac, mid-axillary, thigh, and chest) and dietary intake. Intake of calories, carbohydrates, proteins, lipids, calcium, iron, potassium, and vitamin A was assessed using a 24-hour recall. Results: A prevalence of 34% overweight was observed in visually impaired females and 48% in males. Additionally, 37% of males and 39.1% of females showed a waist circumference with a very high risk for cardiovascular diseases. Dietary intake was characterized as normocaloric, hyperglycemic, hyperproteinic, hyperlipidic, and deficient in calcium, potassium, and vitamin A. Conclusion: It is concluded that individuals with visual impairments exhibit overweight, high waist circumference, and high body fat percentage, associated with cardiovascular diseases and inadequate intake of macronutrients and micronutrients.
Keywords: People with visual impairments; nutritional assessment; dietary intake.
A deficiência visual pode ser definida como impedimento de caráter orgânico relacionado a doenças oculares que comprometem o funcionamento normal da visão. Esta condição pode resultar na perda total da capacidade visual, ocorrendo com ou sem a percepção de luz, e pode ser tanto herdada quanto adquirida [1-3].
Pessoas com deficiência visual podem apresentar alterações no estado nutricional devido às consequências metabólicas da própria deficiência, bem como pela predisposição a doenças crônicas não transmissíveis e associações com comorbidades [4,5]. A deficiência visual pode aumentar a dependência, diminuir a capacidade de realizar atividades diárias e reduzir a satisfação com a vida, fatores que contribuem para o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade. Esses fatores, contudo, muitas vezes derivam não diretamente da deficiência, mas da falta de experiências práticas [6,7].
Aspecto importante afetado pela perda da capacidade visual é a ingestão alimentar. A visualização de alimentos apetitosos pode despertar o desejo de consumo e aumentar a sensação de bem-estar. Com a perda dessa capacidade sensorial, pode ocorrer uma diminuição no apetite ou no desejo de se alimentar, o que pode refletir adversamente no estado nutricional a longo prazo. Indivíduos com deficiência visual podem ter sua capacidade de consumo significativamente reduzida devido à inabilidade de responder a estímulos visuais, sendo incapazes de obter informações sobre rótulos de produtos de forma independente, o que pode levar à aquisição de alimentos de má qualidade [8,10]. Ademais, pode ocorrer tanto subestimação quanto superestimação das quantidades de alimentos a serem ingeridas, impactando negativamente seu estado nutricional [11,14].
A alimentação adequada e da prática de atividade física são importantes para melhorar a qualidade de vida de pessoas com deficiência visual, são reduzidos estudos na que avaliam seu consumo alimentar e estado nutricional. A caracterização do perfil nutricional dessa população é fundamental, pois proporciona melhor compreensão de suas necessidades e facilita o desenvolvimento de intervenções nutricionais que podem impactar significativamente sua qualidade de vida. Este estudo teve como objetivo avaliar o estado nutricional de pessoas com deficiência visual utilizando parâmetros antropométricos e de ingestão alimentar.
Realizou-se estudo transversal em uma instituição filantrópica de apoio a pessoas com deficiência visual em Teresina, Piauí, com aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (Parecer N°: 2.085.112). Para o diagnóstico nutricional, utilizaram-se parâmetros antropométricos (peso, estatura, circunferência da cintura e IMC) e análise da composição corporal.
Os participantes foram pesados utilizando uma balança mecânica portátil (marca G-Tech®, capacidade de 150Kg) após serem orientados a vestir roupas leves no dia da coleta de dados. A estatura e a circunferência da cintura (CC) foram medidas com o auxílio de uma fita métrica resistente, inelástica e flexível. Durante a medição, os participantes permaneceram em pé, eretos, com o abdômen relaxado, braços ao longo do corpo e pernas paralelas e ligeiramente separadas. As medições foram feitas no ponto médio entre a borda inferior da última costela e o osso do quadril (crista ilíaca). A fita métrica foi posicionada ao redor deste ponto, garantindo que estivesse no mesmo nível em todas as partes da cintura e ajustada sem compressão. As medidas foram classificadas de acordo com a Organização Mundial da Saúde (2000) (Tabela 1).
Tabela 1 - Classificação da circunferência da cintura segundo em gêneros caucasianos
Risco de complicações metabólicas |
Homem |
Mulher |
Aumentado |
>94 |
>80 |
Muito aumentado |
>102 |
>88 |
Após a coleta das medidas de peso e estatura, calculou-se o Índice de Massa Corporal (IMC) utilizando a fórmula: IMC = Peso (kg) / Altura² (m²), e os resultados foram classificados conforme a Organização Mundial da Saúde (2000) (tabela 2).
Tabela 2 - Classificação do IMC segundo a Organização Mundial da Saúde
Classificação |
IMC |
Magreza Grau III |
<16 kg/m² |
Magreza Grau II |
16 a 16,9 kg/m² |
Magreza Grau I |
17 a 18,4 kg/m² |
Eutrofia |
18,5 a 24,9 kg/m² |
Sobrepeso |
25 a 29,9 kg/m² |
Obesidade Grau I |
30 a 34,9 kg/m² |
Obesidade Grau II |
35 a 40 kg/m² |
Obesidade Grau III |
>40 kg/m² |
A mensuração das dobras cutâneas foi realizada com um adipômetro (marca Cesfort®), seguindo o protocolo de Pollock, Jackson e Ward para adultos, para estimativa da densidade corporal e conversão dos valores de densidade em massa gorda em quilogramas, conforme a fórmula de Siri e a classificação do percentual de gordura, utilizou-se Lohman (1998) (Tabela 3).
Tabela 3 - Valores de referência para percentuais de gordura corporal (%MG)
Classificação |
Homens |
Mulheres |
Risco de doenças associadas à desnutrição |
< 5 |
< 8 |
Abaixo da Média |
6 a 14 |
9 a 22 |
Média |
15 |
23 |
Acima da Média |
16 a 24 |
24 a 31 |
Risco de doenças associadas à obesidade |
> 24 |
> 32 |
O consumo alimentar foi avaliado utilizando o método do recordatório de 24 horas, estimando a ingestão de calorias e macronutrientes (carboidratos, proteínas, lipídios), além de micronutrientes como cálcio, ferro, vitamina A e potássio. Para a análise da composição nutricional, utilizaram-se as tabelas TACO e IBGE. Os dados coletados representam apenas a contribuição dos alimentos e/ou bebidas, sem incluir o consumo de suplementos e/ou medicamentos. As recomendações nutricionais seguidas foram as Ingestões Dietéticas de Referência (DRIs), estabelecendo o padrão de adequação nutricional.
Para a análise dos dados, utilizou-se a estatística descritiva (média, valores mínimo e máximo, e desvio padrão). Foram aplicados o teste t de Student, o teste qui-quadrado e o teste de correlação de Spearman, utilizando o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS). O nível de significância adotado foi de p<0,05.
Avaliou-se 50 pessoas com deficiência visual atendidos em órgão filantrópico em Teresina, predominância do sexo masculino 13(54%). Em relação aos parâmetros antropométricos observou-se a média de IMC para o sexo masculino foi 28,17kg/m²+14,2 e para o sexo feminino 27,70kg/m²+7,00, caracterizando sobrepeso tanto no sexo feminino como masculino e a média da circunferência da cintura para o sexo masculino do foi 96,78cm +10,263 e para o sexo feminino foi 85+13,407 cm, risco elevado de doenças cardiovascular. E a média de gordura corporal avaliado para o sexo masculino foi 24,04%+4,5889 e para o sexo feminino 27,00%+6,4555 (Tabela 4), elevado percentual de gordura em ambos os sexos
Tabela 4 - Caracterização de parâmetros antropométricos, IMC, circunferência da cintura e percentual de gordura de pessoas com deficiência visual por sexo
Masculino |
Feminino |
|||||||
Variáveis |
Média |
DP |
Mínimo |
Máximo |
Média |
DP |
Mínimo |
Máximo |
Imc (kg/m²) |
28,17 |
14,2 |
17,4 |
45 |
27,90 |
7,00 |
16,4 |
43,5 |
Cc (cm) |
96,78 |
10,263 |
75 |
121 |
85,00 |
13,407 |
65 |
112 |
Gordura (%) |
24,04 |
4,5889 |
4,4 |
37 |
27,00 |
6,4555 |
17 |
37 |
Em relação à classificação de IMC, observou-se que 8(34%) do sexo feminino apresentou sobrepeso, significância p=0,002 e 13(48,1%) do sexo masculino dos participantes apresentaram sobrepeso, significância p=0,000 (Tabela 5).
Tabela 5 - Classificação do Índice de Massa corporal de pessoas com deficiência visual por sexo
Classificação |
Feminino |
Masculino |
||||||
N |
% |
R |
P |
N |
% |
R |
P |
|
Magreza Grau III |
- |
- |
- |
- |
||||
Magreza Grau II |
1 |
4,3 |
1 |
3,7 |
||||
Magreza Grau I |
1 |
4,3 |
- |
- |
||||
Eutrofia |
6 |
26 |
5 |
18,5 |
||||
Sobrepeso |
8 |
34 |
0,675 |
0,002* |
13 |
48,1 |
0,789 |
0,0001* |
Obesidade Grau I |
3 |
13 |
5 |
18,5 |
||||
Obesidade Grau II |
3 |
13 |
2 |
7,4 |
||||
Obesidade Grau III |
1 |
4,3 |
1 |
3,7 |
Em relação à circunferência da cintura observou-se que do sexo masculino 8(33,3%) apresentaram risco elevado de doenças cardiovasculares e 9(37%) apresentaram risco muito elevado para doenças cardiovasculares e no sexo feminino 5(21,7%) apresentaram risco elevado de doenças cardiovasculares e 9(39,1%) apresentaram risco muito elevado (Tabela 6).
Tabela 6 - Classificação da Circunferência da Cintura de pessoas com deficiência visual por sexo
Classificação |
Masculino |
Feminino |
|||||||
N |
% |
R |
P |
N |
% |
R |
P |
||
Adequado |
10 |
29,6 |
9 |
39,1 |
|||||
Risco aumentado |
8 |
33,3 |
5 |
21,7 |
|||||
Risco Muito Aumentado |
9 |
37,03 |
0,450 |
0,050 |
9 |
39,1 |
0,345 |
0,083 |
Segundo a avaliação de percentual de gordura corporal, 15(55%) do sexo masculino apresentou encontraram-se acima da média e 40% apresentaram risco de doenças associadas a obesidade (p=0,000) e 8(55%) do sexo feminino apresentaram percentuais de gordura acima da média e 12(43,7%) apresentaram risco de doenças associadas a obesidade (p=0,000) (Tabela 7). Para ambos os sexos, neste estudo encontrou-se valores de percentual de gordura considerados acima da média e risco de doenças associadas a obesidade.
Tabela 7 - Classificação do percentual de gordura de pessoas com deficiência visual por sexo
Classificação |
Masculino |
Feminino |
||||||
N |
% |
R |
P |
N |
% |
R |
P |
|
Risco de Doenças Associadas a Desnutrição |
1 |
5 |
- |
- |
||||
Abaixo Da média |
0 |
0 |
2 |
12,5 |
||||
Média |
0 |
0 |
1 |
6,4 |
||||
Acima da Média |
15 |
55 |
8 |
55 |
||||
Risco de Doenças Associadas a obesidade |
11 |
40 |
0,789 |
0,000* |
12 |
43,7 |
0,802 |
0,000* |
A ingestão alimentar, a média de Calorias encontradas foi de 1702,72kcal +768,309, em relação aos macronutrientes, a quantidade de carboidrato ingerida foi 231,56g+110,309, a proteína de 116,36g+73,59, lipídeo de 105,46g+46,953. Dos micronutrientes avaliados, o cálcio teve ingestão média de 728,30 mg+ 300,99, o ferro 11,748mg+4,33, potássio 1608,52mg+959,540 e a vitamina A 264,001µg+179,7974 (Tabela 8).
Tabela 8 - Caracterização da ingestão alimentar de pessoas com deficiência visual por sexo
Nutriente |
Média |
DP |
Mínimo |
Máximo |
Referência |
Calorias (kcal) |
1702,72 |
768,309 |
598 |
3056 |
- |
Carboidrato(g) |
231,56 |
110,309 |
86 |
480 |
- |
Proteína (g) |
116,36 |
73,595 |
34 |
456 |
- |
Lipídeo (g) |
105,46 |
46,953 |
32 |
290 |
- |
Cálcio (mg) |
728,3 |
300,99 |
87 |
1780 |
1000mg |
Ferro (mg) |
11,748 |
4,1953 |
4,4 |
20 |
14mg |
Potássio (mg) |
1608,52 |
959,54 |
352 |
3990 |
3510mg |
Vitamina A (mcg) |
264,001 |
179,7974 |
43 |
623 |
600mcg |
Em relação aos micronutrientes observou-se que o consumo de Cálcio foi de abaixo do recomendado em 76% dos avaliados; 60% apresentaram ingestão adequada de Ferro, e 86% dos participantes consumiram quantidades abaixo do recomendado de Potássio(P=0003) e a 88% consumiam abaixo do recomendado a vitamina A (P=0,005) (Tabela 9).
Tabela 9 - Classificação do percentual de calorias, carboidrato, proteína, lipídeo, cálcio, ferro, potássio e vitamina A ingeridas por pessoas com deficiência visual
Variável |
Classificação |
|||||||
Abaixo do ideal |
Adequado |
Elevado |
||||||
N |
% |
N |
% |
N |
% |
R |
P |
|
Calorias |
21 |
42 |
10 |
20 |
19 |
38 |
||
Carboidrato |
22 |
44 |
9 |
18 |
19 |
38 |
||
Proteína |
21 |
42 |
16 |
36 |
13 |
26 |
||
Lipídeo |
2 |
4 |
8 |
16 |
40 |
80 |
0,455 |
0,005 |
Cálcio |
38 |
76 |
12 |
24 |
- |
- |
||
Ferro |
20 |
40 |
30 |
60 |
- |
- |
||
Potássio |
43 |
86 |
7 |
14 |
- |
- |
0,564 |
0,003* |
Vitamina A |
44 |
88 |
6 |
12 |
- |
- |
0,644 |
0,005 |
Observou-se que o IMC obteve correlação significativa com o aumento da circunferência da cintura (r=0,695 p=0,000) e menos significativa com a ingestão de lipídeos (r=0,477 p=0,000). O aumento do IMC, percentual de gordura e circunferência da cintura entre os deficientes visuais, possivelmente se dá pelo elevado consumo de carboidratos, proteínas e lipídios da dieta, bem como a ingestão de carboidratos de má qualidade e o elevado índice glicêmico.
Tabela 10 - Correlação entre o estado nutricional e ingesta alimentar de pessoas com deficiência visual
Variáveis |
Correlações |
R |
P |
IMC |
CC |
0,695 |
0,000 |
%Gordura |
0,554 |
0,000 |
|
Carboidrato |
0,571 |
0,000 |
|
Lipídeo |
0,477 |
0,000 |
|
Calorias |
0,666 |
0,000 |
|
% GORDURA |
Lipídeo |
0,435 |
0,002 |
CC |
Calorias |
0,485 |
0,000 |
No que se refere ao percentual de gordura, observou-se uma relação direta entre o aumento desse percentual com a ingestão de lipídeos (r=0,435 p=0,000). Com relação a circunferência da cintura observou-se que existe uma relação diretamente proporcional entre o aumento da CC e a ingestão de calorias na dieta (r=0,485 p=0,000).
O presente estudo revelou alterações significativas nos parâmetros antropométricos de indivíduos com deficiência visual, destacando-se a prevalência de sobrepeso e o risco aumentado de complicações de saúde, especialmente doenças cardiovasculares. Esses achados foram baseados nas medições de IMC, circunferência da cintura e percentual de gordura corporal, com ambos os sexos apresentando um percentual de gordura acima da média. Estudos anteriores também indicam uma elevada prevalência de sobrepeso e obesidade nessa população, corroborando com nossos resultados [9,10].
A observação de Barreto et al. (2009) de que os homens com deficiência visual, especialmente os que praticam esportes, tendem a alcançar um estado nutricional eutrófico [4] também foi parcialmente confirmada. Contudo, nosso estudo identificou uma predominância do sobrepeso entre as mulheres, sugerindo a necessidade de abordagens de intervenção nutricional que considerem as diferenças de gênero.
Além disso, o risco elevado de complicações de saúde associadas à obesidade, em especial a adiposidade abdominal, foi evidenciado pelos pontos de corte adotados para a circunferência da cintura, que indicam um risco maior para doenças cardiovasculares [27]. É importante destacar que, embora o consumo energético total tenha se mostrado ligeiramente superior ao recomendado, muitos indivíduos apresentaram uma ingestão inadequada de nutrientes essenciais, como cálcio e vitamina A [19]. Essa inadequação nutricional é ainda mais evidente em áreas rurais, conforme observado em estudos anteriores [2].
Esses achados sugerem que, além dos desafios inerentes à deficiência visual, esses indivíduos enfrentam barreiras nutricionais que podem agravar seu estado de saúde. A análise de correlação entre o estado nutricional e o consumo alimentar aponta para uma relação significativa entre a ingestão de macronutrientes e o aumento do IMC, circunferência da cintura e percentual de gordura corporal. Esses resultados destacam a importância de intervenções nutricionais direcionadas, com foco na educação alimentar e na promoção de hábitos saudáveis, para mitigar os riscos associados ao sobrepeso e à obesidade nesta população vulnerável.
Os dados obtidos neste estudo mostraram que pessoas com deficiência visual estão enfrentando desafios substanciais em termos de estado nutricional e consumo alimentar, com elevadas ingestões de calorias, carboidratos, proteínas e lipídios, e deficiências notáveis em micronutrientes essenciais como cálcio, ferro, potássio e vitamina A. Esses fatores estão associados a um maior risco de sobrepeso, doenças cardiovasculares e um percentual de gordura acima do ideal. As intervenções devem, portanto, ser direcionadas para melhorar o consumo alimentar e promover um estilo de vida mais saudável entre esta população vulnerável.
Conflitos de interesse
Os autores declaram não haver conflitos de interesse de qualquer natureza.
Fontes de financiamento
Financiamento próprio.
Contribuição dos autores
Concepção e desenho da pesquisa: Lima RL, Sá OMS; Coleta de dados: Lima RL, Sá OMS; Análise e interpretação dos dados: Lima RL, Sá OMS; Análise estatística: Costa GA; Redação do manuscrito: Lima RL, Sá OMS; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Oliveira DC.
Referências
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