Fatores associados a lesões musculoesqueléticas em bailarinos clássicos profissionais: Revisão de literatura
Associated factors in musculoskeletal Injury in professional ballet dancers: Literature review
Estele Caroline Welter Meereis Lemos1, Clarissa Stefani Teixeira2, Fernando Eduardo Zikan3
1Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, ES, Brasil
2Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC, Brasil
3Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Recebido em: 12 de Junho de 2025; Aceito em: 27 de Agosto de 2025.
Correspondência: Fernando Eduardo Zikan, fernandozikan@hucff.ufrj.br
Como citar
Lemos ECWM, Teixeira CS, Zikan FE. Fatores associados a lesões musculoesqueléticas em bailarinos clássicos profissionais: Revisão de literatura. Fisioter Bras. 2025;26(4):2338-2349. doi:10.62827/fb.v26i4.1084
Introdução: Os movimentos do ballet clássico exigem técnica refinada, com posições articulares e esforços musculares que podem ultrapassar limites cinesiológicos, provocando estresse mecânico e lesões. Objetivo: A proposta do presente estudo foi identificar os locais anatômicos descrever os principais fatores associados a lesões musculoesqueléticas em bailarinos clássicos. Métodos: Foi realizada uma revisão sistematizada da literatura por meio da busca de artigos nos idiomas: português e inglês, indexados nas bases de dados: Science Direct, Scielo, Medline, Pubmed com os termos: injuries, dancing, ballet, physical therapy. Não foi estabelecido limite de ano de publicação. Foram selecionados estudos transversais ou longitudinais que realizaram avaliação de lesões em bailarinos profissionais. Resultados: Foram encontrados 16 estudos, os quais investigaram lesões em companhias de Balé de diferentes países, todos os estudos encontraram uma frequência alta de lesões em bailarinos, em relação as características e fatores associados a lesão, o tornozelo foi o local anatômico mais citado e as lesões nessa articulação foram atribuídas às exigências posturais do balé e ao impacto repetitivo em aterrissagens de saltos. Conclusão: O tornozelo foi o local anatômico acometido por lesões nos estudos investigados devido as posturas do balé e aterrissagens de salto.
Palavras-chave: Dança; Ballet; Lesões de Repetição; Doenças Musculoesqueléticas.
Introduction: Classical ballet movements require highly refined technique, often demanding joint positions and muscular efforts that exceed normal kinesiological limits, leading to mechanical stress and potential injuries. Objective: The purpose of the present study was to identify the anatomical sites and describe the main factors associated with musculoskeletal injuries in classical ballet dancers. Methods: A systematic literature review was conducted through searches in Portuguese and English articles indexed in Science Direct, SciELO, Medline, and PubMed databases, using the keywords: injuries, dancing, ballet, and physical therapy. No publication year restriction was applied. Cross-sectional and longitudinal studies addressing injuries in professional ballet dancers were included. Results: Sixteen studies were identified, analyzing injuries in ballet companies from different countries. All studies reported a high prevalence of injuries among ballet dancers. Regarding anatomical location, the ankle was the most frequently reported site. Injuries in this joint were primarily attributed to the technical postural demands of ballet and the repetitive impact associated with jump landings. Conclusion: The ankle was consistently identified as the most affected anatomical site in the reviewed studies, mainly due to the biomechanical demands of ballet technique and repetitive loading during jumps.
Keywords: Dancing; Ballet, Reinjuries; Musculoskeletal Diseases.
A dança é caracterizada como atividade associada à expressão corporal e à arte, remetendo a graça e a leveza [1]. No entanto, os movimentos executados pelas bailarinas clássicas solicitam o sistema musculoesquelético na aquisição de posições, as quais podem exceder as amplitudes normais de movimento [2], ou seja, podem ultrapassar os limites anatômicos, gerando elevado estresse mecânico nas estruturas envolvidas [2,3].
Quando músculos, tendões, ossos e articulações são repetidamente levados a limites de estresse, a atividade pode atuar como agente patológico ao sistema musculoesquelético. Assim, o balé pode promover modificações que podem se tornar patologias ao longo dos anos de prática, desencadeando variadas lesões [3].
Uma revisão sistemática de lesões musculoesqueléticas e dor em dançarinos descobriu que a definição de um “dançarino lesionado” variou consideravelmente, e em muitos estudos, nenhuma definição foi fornecida, ou era vaga [4]. Uma atualização desta revisão descobriu que o uso de uma definição de lesão melhorou, e que muitos autores incorporaram uma medida de perda de tempo para dançar, ou um componente funcional à definição [5]. Em 2012, a International Association of Dance Medicine and Science fez recomendações sobre a definição de lesão. Eles recomendaram que lesão se refere a um comprometimento anatômico no nível do tecido diagnosticado por um profissional de saúde que resulta em perda de atividade em tempo integral por um ou mais dias [6].
De forma geral, a identificação dos locais anatômicos mais frequentemente lesados e dos fatores associados a lesões é fundamental para a implantação de programas preventivos no intuito de proporcionar a manutenção da integridade física do dançarino, a qual é fundamental para a continuidade da prática do balé. Nesse sentido, as lesões decorrentes dessa prática vêm sendo investigadas por diversos pesquisadores [7,8,9,10,11,12,13,14,15,16,17,18,19] no intuito de determinar os locais e os fatores associados a esta.
Descreveu-se os locais anatômicos mais acometidos e os principais fatores associados a lesões musculoesqueléticas em bailarinos.
Para o desenvolvimento do presente estudo, foi realizada uma revisão sistematizada da literatura, para isso, foi realizada busca de artigos publicados nas línguas inglesa e portuguesa, indexados nas bases de dados: Science Direct, Scielo, Medline, Pubmed. Os termos utilizados para a busca dos artigos, de acordo com os descritores em Ciências da Saúde (DeCS), foram: injuries, dancing, ballet, physical therapy, lesões, dança, balé e fisioterapia. Os indicadores lógicos and e or foram utilizados entre os termos. Não foi inserido limite de data de publicação. Diante desses critérios, foram encontrados para a análise e discussão 31 artigos. Destes, foram excluídos os artigos de revisão, e estudos em que a amostra não era composta por bailarinos profissionais, sendo selecionados para a revisão sistemática 16 artigos, conforme ilustra a Figura 1, os quais abordam investigações através de pesquisas transversais ou longitudinais sobre a incidência de lesões em bailarinos e seus fatores associados.

Figura 1 - Fluxograma da busca de artigos selecionados para a revisão
No Quadro 1 estão ilustrados os 16 artigos selecionados para a presente revisão, os quais abordam estudos transversais através de questionários [7,8,11,12,14,15,19,20,21,22], através de prontuários [16] e longitudinais através de revisões retrospectivas de prontuários [9,13,17,18]. Pode-se observar no Quadro 1 que nove estudos [8,11,15,16,17,18,19,21,22] investigaram lesões em companhias de balé, quatro se reportaram a escolas profissionalizantes [7,12,14,19], e três estudos investigaram prontuários em centros de tratamentos voltados a dançarinos [9,10,13], a duração dos estudos variou entre 17 anos e 0,5 anos, todos os estudos apresentaram elevado número de lesões em relação ao número de amostras.
Tabela 1 – Síntese dos estudos que investigaram lesões em bailarinos clássicos profissionais (elaborado pelos autores)
|
Estudo |
Tipo de Estudo |
Tempo (anos) |
Amostra (n) |
Lesões (n) |
Local de Pesquisa |
|
Jacobs et al. (2017)21 |
TQ |
N |
178 |
17 |
Companhias profissionais de Balé do Canadá, Dinamarca, Israel, e Suécia |
|
Sobrino and Guillen (2017)20 |
TQ |
5 |
145 |
486 |
Companhias Balé da Espanha, que foram tratados no Fremap em Madrid |
|
Sobrino, Cidra and Guillen (2015)22 |
TQ |
5 |
N |
486 |
Companhias Balé da Espanha, que foram tratados no Fremap em Madrid |
|
Twitchett (2008)19 |
TQ |
1 |
42 |
N |
Escolas de Ballet profissionalizantes (Grécia) |
|
Scialom (2006)15 |
TQ |
N |
30 |
15 |
Companhias Balé da Cidade de São Paulo (Brasil) |
|
Luke et al. (2002)12 |
TQ |
0,75 |
39 |
112 |
Escola artes e dança de Natick (EUA) |
|
Solomon, et al. (1999)18 |
LP |
5 |
60 |
101 |
Boston Ballet Company (EUA) |
|
Garrick e Requa (1997)10 |
LP |
17 |
3.826 |
3.960 |
C. for Sports Medicine and Dancemedicine (EUA) |
|
Solomon, et al. (1996)17 |
LP |
3 |
60 |
88 |
Boston Ballet Company (EUA) |
|
Solomon, et al. (1995)16 |
TP |
1 |
70 |
137 |
Boston Ballet Company (EUA) |
|
Macyntire (1994)13 |
LP |
N |
16 |
18 |
Orthopedic Speciality Hospital (EUA) |
|
Groer (1993)11 |
TQ |
1,3 |
36 |
31 |
Companhias de Ballet |
|
McNeal (1990)14 |
TQ |
N |
350 |
658 |
Escolas pré-profissionais |
|
Bowling (1989)8 |
TQ |
0,5 |
141 |
126 |
Companhias de dança do |
|
Garrick (1986)9 |
LP |
5 |
1.055 |
11.141 |
C. for Sports Medicine and |
|
Klemp e Learmonth (1984)7 |
LP |
10 |
47 |
260 |
University of Cape Town Ballet |
Legenda: TP: Transversal através de Prontuários; TQ: Transversal através de Questionários, LP: Longitudinal através de Prontuários, N: Não citado
Em relação aos fatores que foram associados às lesões, foram considerados o somatotipo [19], índice de massa corporal (IMC) [8], tempo de treinamento [11,21], tempo de repouso pós lesão [8], prática de atividades de condicionamento [11] e assimetrias funcionais [13], categoria [14,16,17,18,20,22], idade [8,9,14,16,17,18], sexo [2,9,16,17,19,20,22], demonstrando que os autores estão preocupados em avaliar o perfil do bailarino lesionado.
O diagnóstico das lesões foi verificado na maioria dos artigos [2,8,9,12,13,16,17,18,19,20,22], bem como a origem da lesão [8,9,11,14,16] onde percebemos que há uma preocupação em identificar as causas e o tipo da lesão que acomete os bailarinos.
Além dos fatores associados, os estudos analisados, investigaram a localização anatômica das lesões [2,8,9,10,11,12,13,14,15,16,17,18,20,22]. O local anatômico mais citado foi o tornozelo [2,12,14,16,17,18] dentre os estudos que investigaram a ocorrência de lesões nesse local [2,8,9,10,11,14,15,16,17,18].
Este estudo sugere que a prática do balé é capaz de desencadear inúmeras lesões, principalmente em membros inferiores, onde o tornozelo é apontado como o local mais lesionado. Os autores procuram investigar alguns fatores a fim de relacioná-los ao aparecimento de lesões em bailarinos, sendo que os fatores mais frequentemente investigados nos estudos analisados foram idade, gênero e categoria.
A idade dos bailarinos foi um fator investigado em seis dos 16 artigos [8,9,10,14,16,17], dentre os quais, apenas o de McNeal et al. [14] encontrou associações significativas, identificando que o grupo de bailarinos que possuía idade inferior a 13 anos foi acometido pelo maior número de lesões por esforço repetitivo. O restante dos estudos [8,9,10,12,16,17] observaram associação em relação a esse fator.
Em grande parte dos estudos que procuraram relacionar lesões ao sexo [7,9,15,16,17,19], os autores não puderam afirmar a existência de alguma associação, pois nos estudos não existiu um número suficiente de bailarinos para que a comparação entre os gêneros pudesse ser estabelecida. Por mais que exista uma predominância de lesões no sexo feminino [7,9,16,17], quando os valores relativos são analisados, essa diferença não é estatisticamente significativa. Além disso, existem gestos específicos típicos de bailarinas (sobre as pontas e o “en dehors”) e de bailarinos (portes e saltos mais largos), que podem ser um fator nos diferentes perfis de lesões observados entre os gêneros [20].
Khan et al. [23] afirmam que ainda existe a necessidade de um conhecimento maior sobre a ocorrência das lesões em praticantes de balé clássico, bem como sobre o tempo de treinamento desses indivíduos. Frente a isso, Luke et al. [12] e Groer e Fallon [11] investigaram o tempo e o tipo de treinamento, respectivamente, e verificaram que os dançarinos passam elevado tempo treinando, em média 32 horas por semana [12], e as bailarinas iniciam o trabalho em ponta a partir dos 10 anos de idade [11]. Os autores alertam que esses fatores podem aumentar o risco de lesões de acordo com a idade [20]. No entanto, os pesquisadores que agruparam os dançarinos por categorias, de acordo com o nível de aptidão em balé [14,16,17,18], não encontraram associações significativas com a ocorrência de lesão.
Em relação ao diagnóstico da lesão, sete estudos [7,8,9,12,13,16,18] se preocuparam em investigá-lo, a mais citada foi a tendinite [7,13,16,18], seguido das musculares e ósseas. As lesões ligamentares mais comuns em bailarinos profissionais são as entorses de tornozelo, especialmente envolvendo o ligamento talofibular anterior e o calcaneofibular. Essas lesões ocorrem principalmente durante as aterrissagens de saltos, nas transições rápidas de direção e devido à instabilidade decorrente das posições extremas do balé, como en dehors, relevé e plié profundo. O excesso de inversão e rotação do pé é apontado como um dos principais mecanismos que sobrecarregam os ligamentos laterais do tornozelo, tornando a entorse lateral uma das lesões mais prevalentes na dança clássica [17, 24].
Entre as lesões ósseas, destacam-se as fraturas por estresse, que acometem principalmente os metatarsos, o navicular e a tíbia distal. Elas estão fortemente associadas ao alto volume de treinos repetitivos, sobretudo em exercícios que envolvem saltos, giros e o trabalho em ponta, que geram microtraumas cumulativos nas estruturas ósseas [24,25]. Sobre as lesões musculares, geralmente são distensões e rupturas parciais em músculos da panturrilha (gastrocnêmio e sóleo), isquiotibiais e adutores da coxa. Tais lesões ocorrem frequentemente devido à sobrecarga excêntrica durante o controle das aterrissagens, à fadiga muscular acumulada e à amplitude extrema exigida pelas posições do balé [17, 26].
Além dos fatores já citados, as variáveis antropométricas também vêm sendo alvo de estudos em bailarinos, a fim de identificar as relações com a ocorrência de lesões. As variáveis apresentadas pelos estudos analisados foram: somatotipo corporal, percentual de gordura corporal, índice de massa corporal [8,19,27]. Bowling [8] investigou a relação entre o índice de massa corporal e as lesões, sendo que o mesmo não encontrou nenhuma associação significativa. Twitchett et al. [19] procuraram relacionar o somatotipo corporal e o percentual de gordura com lesões e revelaram que os participantes com mais baixos percentuais de gordura e do somatotipo mesomorfo foram os mais afetados por lesões de repetição, as quais são comuns na dança devido à natureza repetitiva dos movimentos realizados.
A afirmação de Twitchett et al. [19] vai ao encontro dos autores que reportaram a origem da lesão [9,12,13,16,18], sendo que todos apontam o estresse repetitivo como o fator mais propenso a desencadear lesões. McNeal et al. [14] destacam que a maioria dos dançarinos mencionam dor durante os treinos da dança, no entanto, continuam repetindo os mesmos movimentos, aumentando dessa forma o risco de lesões. De acordo com Macintyre [13], se a atividade estiver causando fadiga muscular e não for interrompida, o padrão de movimento da articulação pode ficar descoordenado, resultando mais facilmente em lesões.
Mais de 15% dos dançarinos de balé lesionados declararam que não relataram suas lesões no estudo de Jacobs et al. [26] o que pode desencadear uma disfunção de cadeias cinéticas, Macintyre [13] verificou que elas são comuns em dançarinos de balé lesionados, no entanto, o autor não conseguiu afirmar se as disfunções são secundárias, em resposta à lesão, ou se são causadoras da lesão. O mesmo autor afirma que as disfunções de cadeia cinética residual, associadas com reabilitação incompleta de lesão, pode ser fator predisponente a outra lesão, pois uma disfunção não tratada na cadeia cinética é capaz de causar um maior estresse biomecânico sob outras articulações, predispondo o indivíduo a uma disfunção compensatória no lado contralateral.
Diante dos fatores associados a lesões, foram observadas dificuldades em relacionar os dados dos diferentes artigos, o que torna as revisões relativamente limitadas [4]. Fato esse constatado pelos próprios autores [9,16,17], os quais sugerem uma padronização dos questionários e agrupamento de dados. No entanto, foi verificado um consenso em relação a origem da lesão estar relacionada ao estresse repetitivo.
Em relação ao local anatômico pode-se observar uma relativa padronização dos dados em membros inferiores, sendo que os locais anatômicos mais citados foram: tornozelo, pé e joelho, respectivamente. Diversos autores [12,28,29,30] afirmam que as extremidades inferiores são as mais atingidas por lesões decorrentes da prática do balé, assim como afirmam, esse fato pode ser facilmente explicado devido a esses membros serem extremamente exigidos nas diversas posições do balé e nas aterrissagens de saltos [30].
Quanto aos membros superiores, além de escassos estudos investigarem lesões nesses locais, os membros foram particularizados em ombro, antebraço e mão em apenas três artigos [16,18,19], sendo que nos demais artigos os membros superiores foram tratados como um todo [8,9]. Em relação à coluna vertebral, a única região especificada foi a lombar por Solomon et al. [16,18], os demais pesquisadores referiram coluna vertebral como um todo quando esta foi investigada [7,9,11,16].
Garrick et al [9] sugerem que o maior número de lesões na articulação do tornozelo pode ser decorrente de uma mobilidade articular exagerada apresentada por alguns bailarinos, pois de acordo com Krasnow e Kobban [29], o aumento da hipermobilidade articular em bailarinos os predispõem a apresentarem entorses e lesões ligamentares em tornozelo. Corroborando a essa informação, Zikan [31] investigou lesões em bailarinos e encontrou que 56% das lesões eram decorrentes de trauma articular, sendo que 88,5% estavam entre os indivíduos classificados como hipermóveis.
Noh e Morris [32] salientam que a avaliação cuidadosa dos locais anatômicos acometidos por lesões e de fatores associados é muito importante para que seja realizada uma intervenção de forma preventiva em dançarinos. Com a adoção dessa prática é possível identificar de maneira mais eficiente os fatores que aumentam os riscos para a saúde de dançarinos e facilitar a implantação de programas preventivos de lesões [33].
De acordo com Groer [11], uma das hipóteses para a prevenção das lesões seria a prática de uma atividade de condicionamento físico, buscando a preparação dos músculos e articulações para realizar uma atividade intensa, pois esses autores verificaram que apenas 25% dos dançarinos profissionais questionados em seu estudo participavam de atividades de condicionamento físico (musculação, ciclismo e pilates) e esse grupo de bailarinos vivenciou menos lesões em relação aos 75% que não participam de atividades de condicionamento.
O tratamento das lesões dos bailarinos também foi foco de investigação, além dos autores que fizeram pesquisa diretamente nos prontuários de dançarinos [7,8,9,16,18], outros investigaram a procura de assistência no caso de serem acometidos por lesões [8,12,15]. Os resultados reportam que a maioria dos bailarinos procurou algum tipo de assistência para o tratamento e, segundo os estudos que investigaram o tipo de tratamento mais procurado por bailarinos [8,12,16,18], o fisioterápico foi o principal.
Nesse sentido, é importante valorizar a atuação conjunta dos profissionais da saúde e professores de dança, pois, poderão ser capazes de contribuir beneficamente para o melhor desempenho técnico dos bailarinos e de diminuir a vulnerabilidade destes ao aparecimento de lesões [33]. Assim como entender os motivos que afastam os bailarinos de um acompanhamento constante para evitar lesões [4,34,35] A alta prevalência de lesões por uso excessivo no presente estudo demonstra a necessidade de estabelecer medidas preventivas no balé. Melhorar o treinamento em escolas de balé e equipes médicas especializadas, incluindo médicos, treinadores e fisioterapeutas [20].
Foi verificado um grande número de lesões nos bailarinos clássicos profissionais investigados, sendo que o tornozelo foi o local anatômico mais citado por lesões possivelmente devido à exigência das posições durante a prática do balé e fator mais associado a lesões foi o estresse repetitivo.
Conflitos de Interesse
Os autores declaram não haver conflitos de interesse de qualquer natureza.
Fontes de Financiamento
Não houve financiamento.
Contribuição dos Autores
Concepção e desenho da pesquisa: Meereis-Lemos ECW, Teixeira CS; Análise e Interpretação dos dados: Meereis-Lemos ECW; Teixeira CS. Redação do Manuscrito: Meereis-Lemos ECW; Teixeira CS; Zikan FE. Revisão do Manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Meereis-Lemos ECW; Zikan FE.
Referências
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