ARTIGO OPINIÃO
O papel do preceptor nas residências multiprofissionais em saúde: artigo de opinião
José Fábio de Miranda1, Adelane Renali Coutinho da Silva1, Isabel Tomie Urakawa1, Izabella Fontes dos Reis Andrade1, Laryssa Lorena de Oliveira1
1Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU), Recife, PE, Brasil
Recebido em: 16 de janeiro de 2024; Aceito em: 24 de fevereiro de 2025.
Correspondência: José Fábio de Miranda, fisico.fabiomiranda@gmail.com
Como citar
Miranda JF, Silva ARC, Urakawa IT, Andrade IFR, Oliveira LL. O papel do preceptor nas residências multiprofissionais em saúde: artigo de opinião. Enferm Bras. 2025;24(1):2183–2188. doi:10.62827/eb.v24i1.4048
Com o aumento na formação de indivíduos a nível de graduação, a Residência Multiprofissional em Saúde (RMS) passou a ser oferecida para as diversas categorias profissionais da área da saúde. As atividades são desenvolvidas em regime de dedicação exclusiva, com carga horária de 60h semanais, sob supervisão de um preceptor da instituição de saúde que oferece a residência. Discorrer sobre o papel do preceptor nos programas de RMS, assim como dificuldades enfrentadas. Estudo de opinião, teórico e reflexivo, realizado em 2024, oriundo da experiência dos autores. O preceptor deve participar das etapas de construção do projeto pedagógico, organização das atividades, assim como da supervisão e avaliação do desempenho dos residentes durante suas atividades práticas e teóricas nos campos de atuação. Uma série de dificuldades forma identificadas, como a sobrecarga e a necessidade de capacitações regulares. Este estudo abordou sobre o papel do preceptor na RMS, profissional que desempenha atividades de extrema importância na formação dos residentes. Mas também identificou fragilidades, as quais precisam ser minimizadas para garantir uma experiência com qualidade para os residentes.
Palavras-chave: Preceptoria; internato não médico; equipe de assistência ao paciente.
The role of the preceptor in multidisciplinary health residencies: opinion article
With the increase in the training of individuals at undergraduate level, the Multiprofessional Residency in Health (RMS) began to be offered to the different professional categories in the health area. The activities are carried out on an exclusive basis, with a workload of 60 hours per week, under the supervision of a preceptor from the health institution that offers the residence. To discuss the role of the preceptor in RMS programs, as well as difficulties faced. Opinion study, theoretical and reflective, carried out in 2024, arising from the authors’ experience. The preceptor must participate in the construction stages of the pedagogical project, organization of activities, as well as in the supervision and evaluation of residents’ performance during their practical and theoretical activities in the fields of activity. A series of difficulties were identified, such as overload and the need for regular training. This study addressed the role of the preceptor at RMS, a professional who performs extremely important activities in the training of residents. But it also identified weaknesses, which need to be minimized to ensure quality experience for residents.
Keywords: Preceptorship; Internship; Patient Care Team.
El rol del preceptor en las residencias multidisciplinares de salud: artículo de opinión
Con el incremento en la formación de personas a nivel de pregrado, la Residencia Multiprofesional en Salud (RMS) comenzó a ofrecerse a las diferentes categorías profesionales del área de la salud. Las actividades se realizan de forma exclusiva, con una carga horaria de 60 horas semanales, bajo la supervisión de un preceptor de la institución de salud que ofrece la residencia. Discutir el papel del preceptor en los programas RMS, así como las dificultades enfrentadas. Método: estudio de opinión, teórico y reflexivo, realizado en 2024, a partir de la experiencia de los autores. El preceptor debe participar en las etapas de construcción del proyecto pedagógico, organización de actividades, así como en la supervisión y evaluación del desempeño de los residentes durante sus actividades prácticas y teóricas en los campos de actividad. Se identificaron una serie de dificultades, como la sobrecarga y la necesidad de un entrenamiento regular. Este estudio abordó el papel del preceptor en la RMS, profesional que desempeña actividades de suma importancia en la formación de los residentes. Pero también identificó debilidades que deben minimizarse para garantizar una experiencia de calidad para los residentes.
Palavras-clave: Preceptoría; Internado no Médico; Grupo de Atención al Paciente.
Esse artigo expressa a opinião do autor sobre a temática eximindo qualquer responsabilidade da revista. Embora tenha sido realizada uma avaliação por pares o pensamento aqui expresso pode ser refutado.
This article expresses the author’s opinion on the subject, exempting the journal from any responsibilities. Although a peer review was conducted, the thought expresses here may be refuted.
Este artículo expresa la opinión del autor sobre el tema, eximiendo a la revista de cualquier responsabilidad. Aunque se llevó a cabo una revisión por pares, la idea expresada aquí puede ser refutada.
As Residências Multiprofissionais em Saúde (RMS) proporcionam espaços de reflexão por meio da formação em serviço. Permitem ainda, a transformação de práticas através de uma aprendizagem colaborativa e qualificação de novos profissionais de saúde para o Sistema Único de Saúde (SUS) [1].
Os programas de residência tiveram a sua primeira experiência exitosa em 1978, em São José do Murialdo e em decorrência da sua contribuição para o setor da saúde, vem se expandindo gradualmente [2]. Por meio de parcerias firmadas entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação, as RMS foram regulamentadas pela Lei Federal nº 11.129 de 2005 e regidas como pós-graduação latu sensu. Com o aumento na formação de indivíduos a nível de graduação, essa modalidade passou a ser oferecida para as diversas categorias profissionais da área da saúde como a enfermagem, fisioterapia, fonoaudiologia, farmácia, nutrição, psicologia, odontologia, terapia ocupacional, entre outras [3].
Cabe ressaltar que as atividades dos residentes são desenvolvidas em regime de dedicação exclusiva, com carga horária de 60h semanais. Os programas de residência buscam formar profissionais com base na aprendizagem através da prática nos cenários de saúde. Assim, justifica-se a realização de atividades de forma intensiva, permitindo a imersão nos diversos contextos e serviços de saúde, de forma a proporcionar a aquisição de competências e habilidades técnico-assistenciais, educacionais, gerenciais e de relacionamento com os pacientes, familiares e os próprios profissionais do serviço [4].
Espera-se que os residentes multiprofissionais em saúde desenvolvam um olhar crítico e reflexivo acerca de sua prática profissional e produzam mudanças no processo de trabalho, no modelo técnico assistencial, na formação, e atuem como articuladores na resolução de problemas nos diferentes cenários de assistência do SUS [5].
Para isso, é fundamental que o desenvolvimento das atividades seja acompanhando e supervisionado por um preceptor ou docente integrado na assistência, profissional cujas atribuições estão descritas na Resolução n.2/2012 da Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde (CNRMS). Para tal atividade, necessitam de competências, habilidades e atitudes nas áreas de saúde e educação, alinhando assim, o conhecimento pedagógico à prática [6,7].
Objetiva-se discorrer sobre o papel do preceptor nos programas de RMS, assim como dificuldades enfrentadas.
Trata-se de Estudo de opinião, teórico e reflexivo, realizado em 2024, oriundo da experiência dos autores e fundamentado por revisão na literatura. Os textos utilizados foram escolhidos intencionalmente e por conveniência pelos autores, após pesquisa nas bases de dados que compõem a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e a Scientific Electronic Library Online (SciELO), através dos Descritores em Ciências da Saúde (DECS): “Preceptoria”, “Residência” e “Equipe de Assistência ao Paciente”, utilizando o operador booleano AND em todas as bases.
Desenvolvimento
Com as modificações do ensino nas instituições universitárias, observa-se que os profissionais se formam sem a bagagem teórica necessária para a realização de uma assistência de qualidade. Neste sentido, a RMS pode suprir essa lacuna, gerando um espaço de reflexão sobre o trabalho, assim como inúmeros momentos de aprendizagem [1].
Na RMS, o preceptor deve ser um profissional de nível superior, com graduação e especialização na área do programa e com vínculo empregatício na instituição de saúde que oferece a residência. É responsável por articular a teoria com a prática e proporcionar ao residente em formação a aprendizagem no serviço [7].
Deve participar das etapas de construção do projeto pedagógico, organização das atividades, assim como da supervisão e avaliação do desempenho dos residentes durante suas atividades práticas e teóricas nos campos de atuação [7]. Em suma, esse profissional deve fazer parte de todo o processo de formação em saúde durante a residência, transformando a vivência no campo da saúde em experiências de aprendizagem, estimulando a reflexão dos residentes para gerar um potencial argumentador em sua jornada.
Para isso, deve possuir vasto conhecimento na sua profissão, pois servirá de modelo/exemplo a ser seguido pelos residentes, colaborando com o processo educativo e com a inserção de novos profissionais no mercado de trabalho [8]. Por meio do ensino, o preceptor qualifica a atenção em saúde, considerando que o processo de ensinar e cuidar são dois campos inseparáveis.
Entretanto, a preceptoria é uma função acrescida às atividades diárias de trabalho, fato que gera sobrecarga profissional. Isto porque a prática ainda é pautada pelo modelo biomédico, pela fragmentação do cuidado em que a produção é priorizada em detrimento do modelo da integralidade com abordagens relacionais e colaborativas entre profissionais, usuários, famílias e comunidade [9]. A dificuldade em conciliar as práticas assistenciais e de ensino, com acúmulo de atividades e elevada carga de trabalho é relatada pelos próprios preceptores, os quais entendem que essa fragilidade pode ser um fator que dificulta a construção do processo educativo junto aos residentes.
Outros fatores como a falta de infraestrutura adequada (espaço e recursos inadequados) e de incentivo por parte das instituições, também geram frustração para o desenvolvimento da preceptoria [10]. Frente a isso, faz-se necessário que as atividades de preceptoria sejam reconhecidas pelos gestores, como forma de estímulo e valorização desses profissionais [11].
Também há carência de capacitações periódicas e atividades de desenvolvimento voltadas para o ensino, apesar de ser esperado que estes profissionais se atualizem e aprimorem regularmente. É fundamental que o preceptor possua capacidade para transformar a própria experiência profissional em aprendizagem, além dos saberes de sua especialidade.
Cabe às instituições de ensino e serviço o compromisso com a capacitação pedagógica do preceptor, a fim de reafirmar o seu comprometimento com a saúde da população brasileira, estreitando laços entre saúde e educação [12]. Neste contexto, a educação permanente torna-se um dispositivo importante para instrumentalizar o preceptor em conhecimento e habilidades pedagógicas, bem como em planejamento pedagógico, comunicação eficaz e relacionamento interprofissional [10].
Especificamente para a formação em preceptoria e docência, ainda há poucas ofertas disponíveis, tanto por falta de incentivo institucional à essa formação, quanto, sobretudo, pela não obrigatoriedade da realização desses cursos para o exercício da preceptoria. Tais fatos, podem, implicitamente, ser indícios de que a preparação pedagógica do preceptor não é foco de investimento [11].
Limitações do estudo
Este estudo possui como limitação o método utilizado, por abordar a percepção dos autores, apesar da fundamentação teórica.
Contribuições para a prática
Almeja-se que este estudo possa instigar a realização de mais pesquisas nessa perspectiva, bem como pensar em estratégias para reduzir as lacunas existentes e estimular que mais profissionais se insiram como preceptores nos programas de RMS.
Este estudo abordou sobre o papel do preceptor na RMS, assim como algumas dificuldades encontradas por este profissional, sob a ótica dos autores. O preceptor desempenha papel de extrema importância na formação dos profissionais residentes. Para tal, necessita de conhecimento teórico e prático para o desenvolvimento de suas atividades.
Diante do exposto, faz-se necessário buscar soluções para amenizar uma série de fragilidades apresentadas pelos programas de residência no que tange a valorização e formação dos preceptores.
Conflitos de interesse
Os autores declaram não haver conflitos de interesse de qualquer natureza.
Fontes de financiamento
Financiamento próprio.
Contribuição dos autores
Concepção e desenho da pesquisa: Miranda JF, Silva ARC, Urakawa IT, Andrade IFR, Oliveira LL; Redação do manuscrito: Miranda JF, Silva ARC, Urakawa IT, Andrade IFR, Oliveira LL; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Miranda JF, Silva ARC, Urakawa IT, Andrade IFR, Oliveira LL.
Referências
1. Ministério da Saúde. Política Nacional de Educação Permanente em Saúde: o que se tem produzido para o seu fortalecimento? Brasília: Ministério da Saúde, 2018. 73 p.
2. Silva LB. Residência Multiprofissional em Saúde no Brasil: alguns aspectos da trajetória histórica. Rev Katál [Internet]. 2018[cited 2025 Jan12]; 21(1):200-9. Available from: https://doi.org/10.1590/1982-02592018v21n1p200.
3. Pereira DC, Zanini KP, Cunha JH. Residência Multiprofissional em Saúde, percepção de residentes, preceptores e tutores. Revista Família, Ciclos de Vida e Saúde no Contexto Social [Internet]. 2019[cited 2025 Jan12]; 7(2); 200-10. Available from: https://doi.org/10.18554/refacs.v7i2.2348
4. Silva VC, Viana LO, Rasche AS, Aperibense PG. Residência multiprofissional em saúde: As relações profissionais do enfermeiro-preceptor com os demais atores sociais. RSD [Internet]. 2021[cited 2025 Jan12]; 10(5); 1-14. Available from: https://doi.org/10.33448/rsd-v10i5.15104
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