Enferm Bras. 2025;24(5):2925-2938
doi:10.62827/eb.v24i5.4103

REVISÃO

Práticas integrativas e complementares e o impacto da dança circular na promoção da saúde do idoso: uma revisão de literatura

Amanda Barros Vieira1, Érika Keize de Aguiar Celestino1, Josefa Cristina Soares Gama Coelho1, Reginaldo Oliveira1

1Centro Universitário Campo Limpo Paulista (UNIFACCAMP), Campo Limpo Paulista, SP, Brasil

Recebido em: 1 de Dezembro de 2025; Aceito em: 2 de Dezembro de 2025.

Correspondência: Amanda Barros Vieira, mandybarrosvieira@gmail.com

Como citar

Vieira AB, Celestino EKA, Coelho JCSG, Oliveira R. Práticas integrativas e complementares e o impacto da dança circular na promoção da saúde do idoso: uma revisão de literatura. Enferm Bras. 2025;24(5):2925-2938 doi:10.62827/eb.v24i5.4103

Resumo

Introdução: O envelhecimento demanda estratégias que promovam saúde e qualidade de vida. As Práticas Integrativas e Complementares (PICS) reconhecem o indivíduo em sua integralidade, contemplando dimensões físicas, emocionais e sociais. Nesse contexto, a Dança Circular, reconhecida como recurso terapêutico do Sistema Único de Saúde (SUS), favorece o equilíbrio, a mobilidade e o fortalecimento de vínculos afetivos entre idosos. Objetivo: Compreendeu-se o impacto da dança circular, inserida no contexto das Práticas Integrativas e Complementares, sobre o bem-estar e a funcionalidade da população idosa. Método: Revisão simples de literatura, com busca nas bases Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Foram incluídos estudos publicados entre 2015 e 2025, em língua portuguesa. Dos 49 trabalhos inicialmente identificados, apenas 8 atenderam aos critérios de inclusão. Resultados: Os benefícios consistentes identificados foram o aprimoramento motor, a melhora da mobilidade funcional e a redução de quedas por meio da dança circular, além de diversos outros ganhos. Os achados indicam que a dança circular, ao integrar movimento, emoção e convivência grupal, configura uma prática eficaz para promover um envelhecimento ativo e humanizado. Sua implementação em serviços de saúde contribui para ampliar o cuidado centrado na pessoa e fortalecer práticas acolhedoras. Conclusão: A dança circular configura-se como uma estratégia acessível e de amplo impacto na promoção da saúde do idoso. Sua prática deve ser incentivada nas políticas públicas e incorporada à rotina dos serviços de saúde, fortalecendo ações voltadas ao envelhecimento ativo e à integralidade do cuidado.

Palavras-chave: Dançaterapia; Saúde do Idoso; Terapias Complementares; Promoção da Saúde.

Abstract

Integrative and complementary practices and the impact of circle dancing on promoting health in older adults: a literature review

Introduction: Aging requires strategies that promote health and quality of life. Integrative and Complementary Practices (ICPs) recognize the individual as a whole, considering physical, emotional, and social dimensions. In this context, Circular Dance, recognized as a therapeutic resource by the Brazilian Unified Health System (SUS), promotes balance, mobility, and the strengthening of emotional bonds among older adults. Objective: To understand the impact of Circular Dance, within the context of Integrative and Complementary Practices, on the well-being and functionality of the elderly population. Method: Simple literature review, with searches in the Virtual Health Library (BVS), Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (LILACS), and Scientific Electronic Library Online (SciELO) databases. Studies published between 2015 and 2025 in Portuguese were included. Of the 49 studies initially identified, only 8 met the inclusion criteria. Results: The consistent benefits identified were improved motor skills, improved functional mobility, and reduced falls through circular dance, in addition to several other gains. The findings indicate that circle dancing, by integrating movement, emotion, and group interaction, is an effective practice for promoting active and humanized aging. Its implementation in health services contributes to expanding person-centered care and strengthening welcoming practices. Conclusion: Circular dancing is an accessible strategy with a broad impact on promoting the health of older adults. Its practice should be encouraged in public policies and incorporated into the routine of health services, strengthening actions aimed at active aging and comprehensive care.

Keywords: Dance Therapy; Health of the Elderly; Complementary Therapies; Health Promotion.

Resumen

Prácticas integradoras y complementarias y el impacto de la danza circular en la promoción de la salud de las personas mayores: una revisión bibliográfica

Introducción: El envejecimiento exige estrategias que promuevan la salud y la calidad de vida. Las Prácticas Integrativas y Complementarias (PICS) reconocen al individuo en su totalidad, contemplando las dimensiones físicas, emocionales y sociales. En este contexto, la Danza Circular, reconocida como recurso terapéutico del Sistema Único de Salud (SUS), favorece el equilibrio, la movilidad y el fortalecimiento de los vínculos afectivos entre las personas mayores. Objetivo: Se comprendió el impacto de la Danza Circular, insertada en el contexto de las Prácticas Integrativas y Complementarias, sobre el bienestar y la funcionalidad de la población de edad avanzada. Método: Revisión simple de la literatura, con búsqueda en las bases Biblioteca Virtual en Salud (BVS), Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud (LILACS) y Scientific Electronic Library Online (SciELO). Se incluyeron estudios publicados entre 2015 y 2025, en lengua portuguesa. De los 49 trabajos identificados inicialmente, solo 8 cumplieron los criterios de inclusión. Resultados: Los beneficios consistentes identificados fueron la mejora motora, la mejora de la movilidad funcional y la reducción de caídas mediante la danza circular, además de otras ventajas. Los hallazgos indican que la danza circular, al integrar movimiento, emoción y convivencia grupal, constituye una práctica eficaz para promover un envejecimiento activo y humanizado. Su implementación en los servicios de salud contribuye a ampliar la atención centrada en la persona y a fortalecer las prácticas acogedoras. Conclusión: La danza circular se configura como una estrategia accesible y de amplio impacto en la promoción de la salud de las personas mayores. Su práctica debe fomentarse en las políticas públicas e incorporarse a la rutina de los servicios de salud, fortaleciendo las acciones orientadas al envejecimiento activo y la integralidad de la atención.

Palabras-clave: Danzaterapia; Salud del Anciano; Terapias Complementarias; Promoción de la Salud.

Introdução

O envelhecimento populacional é uma das transformações demográficas mais expressivas do século XXI. Globalmente, o número de pessoas com 60 anos ou mais vem crescendo rapidamente, e estima-se que essa faixa etária quase dobrará entre 2015 e 2050, passando de cerca de 12% para 22% da população mundial. Esse fenômeno ocorre tanto em países desenvolvidos quanto em países de renda média e baixa, implicando mudanças significativas nos sistemas de saúde, previdência e políticas sociais [1].

No Brasil, a população idosa também apresenta crescimento expressivo. Em 2022, pessoas com 60 anos ou mais representavam aproximadamente 15,8% da população, refletindo uma aceleração do processo de envelhecimento em relação às décadas anteriores. Esse cenário evidencia a necessidade de estratégias de cuidado integral, promoção da saúde e políticas públicas voltadas ao bem-estar dessa faixa etária [2].

As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) representam um campo científico em expansão, configurando-se como um saber dedicado ao cuidado integral da pessoa. Priorizam a conservação do bem-estar, a redução de riscos e o fortalecimento da vitalidade. Essas práticas reconhecem que o processo saúde-doença é multifacetado, abrangendo dimensões biológicas, emocionais, sociais e ambientais. Por isso, propõem métodos terapêuticos variados que complementam a medicina tradicional, ampliando a perspectiva de cuidado e valorizando a centralidade do ser humano [3].

As PICS foram incorporadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) como estratégia de promoção da saúde, prevenção de doenças e cuidado integral à população. A regulamentação das profissões de saúde, por meio do Decreto nº 94.406/1987, e as políticas do Ministério da Saúde possibilitaram a inclusão dessas práticas no SUS, reconhecendo seu valor complementar aos cuidados convencionais e ampliando o acesso da população a terapias que promovem bem-estar físico, mental e social [4].

Nesse contexto, o enfermeiro, responsável pela organização e direção dos serviços de Enfermagem e de suas atividades técnicas e auxiliares, além do planejamento, coordenação, execução e avaliação da assistência, desempenha papel central na aplicação dessas práticas. Sua atuação promove escuta acolhedora, fortalece vínculos terapêuticos e garante o cuidado integral ao paciente [5].

Entre as recomendações para um envelhecimento saudável, destaca-se a prática de exercícios físicos, com ênfase na Dança Circular Sagrada, recurso terapêutico oferecido pelo SUS à população. Essa prática tem se mostrado especialmente benéfica para idosos institucionalizados, por favorecer a socialização, o equilíbrio emocional e a melhora da mobilidade e da qualidade de vida [6].

A dança circular é reconhecida como uma das 29 práticas integrativas, destacando-se por seus benefícios à população idosa, como promoção do equilíbrio físico, interação social, bem-estar emocional e melhoria da qualidade de vida por meio do movimento e da convivência grupal [7].

Além disso, reforça-se a perspectiva de que a dança pode ser compreendida como um processo de renovação existencial, proporcionando experiências de autoconhecimento, expressão emocional e reconexão com o próprio corpo. Documentos oficiais do Ministério da Saúde apontam que práticas como a dança fortalecem a autoestima, o equilíbrio emocional e a qualidade de vida, consolidando-a como recurso integrativo no cuidado à saúde [8,9].

Compreendeu-se o impacto da Dança Circular, inserida no contexto das PICS, sobre o bem-estar e a funcionalidade da população idosa.

Métodos

Trata-se de uma revisão simples de literatura, desenvolvida em seis etapas: formulação da questão de pesquisa; estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão dos artigos por meio de busca bibliográfica; extração de dados; avaliação crítica; análise; e síntese dos estudos, resultando na integração do conhecimento produzido [10]. A revisão foi orientada pela seguinte questão norteadora: como a prática da dança circular contribui para a promoção da saúde entre pessoas idosas e qual o papel do enfermeiro na utilização dessa ferramenta?

A busca de artigos foi realizada nas bases Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Foram utilizados descritores oriundos dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): dança circular, saúde do idoso e práticas integrativas e complementares, além da combinação Práticas Integrativas AND Instituições de Longa Permanência. Os descritores foram associados por meio dos operadores booleanos AND e OR, com o objetivo de ampliar e refinar a estratégia de busca.

Foram incluídos artigos publicados entre 2015 e 2025, em língua portuguesa, que abordassem a promoção da saúde por meio da dança circular e respondessem à temática da revisão. Foram excluídos estudos em outros idiomas, fora do período estabelecido ou cujos títulos não apresentavam relação direta com o tema, por não contribuírem para os objetivos da pesquisa.

O processo de seleção ocorreu em três etapas sucessivas: levantamento preliminar dos artigos publicados na última década nas bases selecionada; leitura exploratória para verificar relevância e aderência à temática; e leitura integral para identificar benefícios relacionados ao tema investigado e responder à questão norteadora.

A análise seguiu uma abordagem crítica e interpretativa, permitindo a síntese sistematizada dos achados, a identificação de padrões e contribuições essenciais, bem como a detecção de lacunas na literatura.

Resultados

O levantamento inicial identificou 49 publicações. Foram localizados 44 estudos na base LILACS, utilizando a estratégia de busca “dança circular AND saúde do idoso AND práticas integrativas e complementares”, além das palavras-chave “dançaterapia AND práticas integrativas e complementares AND saúde do idoso”. Após a exclusão de 11 artigos duplicados e a aplicação do filtro temporal de 2015 a 2025, foram eliminados 11 estudos em outro idioma. Dos 27 artigos restantes, procedeu-se à análise integral de resumos e textos completos, resultando na exclusão de 19 títulos que não apresentavam relação direta com a temática proposta. Dessa forma, foram selecionados 8 artigos para compor a revisão. O Gráfico 1 apresenta as principais categorias de resultados de qualidade identificadas nos estudos incluídos.

Na base SciELO, a busca por “dança circular AND saúde do idoso AND práticas integrativas e complementares” identificou 4 estudos. Destes, 1 foi excluído por estar em inglês e 1 por não apresentar relação direta com a temática, totalizando 2 artigos incluídos. A Figura 1 apresenta o fluxograma de seleção dos artigos.

Gráfico 1 - Principais categorias de resultados de qualidade identificadas nos estudos incluídos.

Gráfico, Gráfico de barras

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.

Fonte: Autores (2025).

Diagrama

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.

Fonte: Autores (2025).

Figura 1 - O fluxograma de seleção dos artigos.

O Quadro 1 apresenta a caracterização dos artigos selecionados para compor esta revisão.

Quadro 1 - Caracterização dos estudos analisados na revisão.

N

Autor e Ano

Tipo de Estudo

País

Objetivo

Principais Contribuições

1

Oliveira, Gabriela Maia

[11] (2023)

Tese acadêmica

Brasil

Avaliar se a dança circular contribui para a melhora da capacidade física e funcional de pessoas idosas, analisando seus efeitos sobre mobilidade, equilíbrio, coordenação e bem-estar.

O estudo demonstra que a dança circular é uma prática integrativa eficaz para melhorar a capacidade física e funcional do idoso, indicando ganhos significativos em equilíbrio, mobilidade, força e coordenação motora. Além dos benefícios físicos, aponta também vantagens psicossociais, como maior interação social, elevação da autoestima e fortalecimento do sentimento de pertencimento. Dessa forma, reforça a dança circular como uma estratégia relevante para a promoção da saúde no processo de envelhecimento, contribuindo para ampliar o conjunto de PICS aplicáveis à população idosa.

2

Freire IM, Minayo MCS.

[16] (2023)

Revisão narrativa da literatura

Brasil

Compreender como a dança circular tem sido utilizada como estratégia de cuidado em saúde, identificando seus efeitos, significados e potencialidades no contexto das práticas integrativas e complementares.

O estudo evidencia que a dança circular promove benefícios físicos, emocionais e sociais, configurando-se como um recurso terapêutico integral. Mostra que essa prática favorece a convivência, o fortalecimento de vínculos e o senso de comunidade, especialmente entre pessoas idosas. Além disso, destaca a dança circular como uma ferramenta promotora de bem-estar, expressão corporal e autocuidado, reforçando sua relevância no campo das PICS no SUS. O estudo também aponta lacunas existentes na literatura e incentiva a realização de novas pesquisas com maior rigor metodológico.

3

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

[7] (2023)

Relatório técnico/ documento institucional

Brasil

Apresentar, analisar e divulgar experiências inovadoras associadas às PICS, destacando estratégias, resultados e impactos observados em diferentes serviços e territórios.

O documento fornece diretrizes e orientações para a implementação e o fortalecimento das PICS nos serviços de saúde, sistematizando experiências exitosas que podem ser replicadas e aprimoradas por diferentes municípios e instituições. Reforça o papel das práticas integrativas como componentes essenciais da atenção integral, promovendo bem-estar, autocuidado e terapias seguras. Além disso, contribui para a qualificação de gestores e profissionais, ampliando a compreensão sobre o potencial das PICS no SUS. Por fim, auxilia na expansão dessas práticas em diversos níveis de atenção, consolidando sua relevância nas políticas públicas de saúde

4

Silva KM et al.

[6] (2022)

Estudo qualitativo, descritivo e exploratório

Brasil

Compreender as contribuições da dança circular como prática integrativa e complementar na promoção da saúde de idosos, identificando os significados atribuídos à prática e seus impactos no cotidiano.

O estudo revela que a dança circular fortalece a autonomia, a autoestima e o senso de pertencimento entre os idosos, demonstrando benefícios no bem-estar físico, emocional e social, o que reforça a integralidade do cuidado. Mostra ainda que essa prática incentiva a interação social, o movimento corporal, a alegria e o estímulo cognitivo. Evidencia também que a dança circular promove um envelhecimento ativo, alinhado às diretrizes das PICS no SUS, reforçando sua utilização como uma ferramenta de promoção da saúde acessível e acolhedora.

5

Borges RdeM, Brito CMD, Monteiro CF

[8] (2020)

Estudo qualitativo, de abordagem descritiva e analítica

Brasil

Analisar a dança de roda como prática de lazer e cuidado entre mulheres idosas, compreendendo seus significados, efeitos e contribuições para o envelhecimento saudável.

O estudo demonstra que a dança de roda promove autonomia, autoestima e fortalecimento emocional nas idosas, evidenciando essa prática como um espaço de convivência, troca de experiências e construção coletiva de cuidado. Mostra ainda que o grupo Meninas de Sinhá funciona como uma rede de apoio social, fortalecendo vínculos e reduzindo o isolamento. Além disso, associa a dança ao bem-estar físico e mental, reforçando seu potencial como prática de promoção da saúde. Por fim, contribui para a valorização de manifestações culturais como estratégias de cuidado e lazer para o envelhecimento ativo.

6

Santos, Bruna Daniele Araujo

[12] (2019)

Pesquisa Qualitativa

Brasil

Investigar como a dança circular contribui para a socialização de pessoas idosas, analisando suas percepções, experiências e os efeitos da prática nas relações sociais.

Evidencia a dança circular como uma prática que favorece a socialização dos idosos, ampliando a interação e fortalecendo vínculos afetivos, o que promove acolhimento e reduz a sensação de solidão. Além disso, demonstra impactos positivos no bem-estar emocional, com relatos de alegria, pertencimento e motivação. Por ser um recurso acessível e eficaz, a dança circular contribui significativamente para a convivência e a participação social, reforçando seu papel como importante ferramenta de inclusão social no envelhecimento.

7

Santos MA
[9] (2016

Estudo exploratório-descritivo

Brasil

Investigar a implementação e o impacto das PICS no SUS, identificando desafios, oportunidades e mediações para a promoção da saúde integral.

O estudo evidencia que as PICS são instrumentos estratégicos para a promoção do cuidado integral, ampliando o acesso a terapias complementares. Identifica benefícios físicos, emocionais e sociais associados às práticas, tanto para usuários quanto para profissionais de saúde, ao mesmo tempo em que aponta desafios na implementação e regulamentação dessas práticas no SUS. Destaca ainda a importância da capacitação e sensibilização de gestores e equipes para o sucesso das PICS, contribuindo para fortalecer sua legitimidade dentro das políticas públicas de saúde e incentivando sua integração na atenção básica e especializada.

8

Saraiva AM et al.

[15] (2015)

Estudo qualitativo, descritivo e interpretativo

Brasil

Investigar como as práticas integrativas podem ser utilizadas como recursos terapêuticos no cuidado a idosos institucionalizados, compreendendo suas percepções e significados.

As práticas integrativas demonstram promover bem-estar físico, emocional e social, evidenciando também que fortalecem vínculos afetivos, incentivam a socialização e reduzem sentimentos de isolamento. Indicam-se como estratégias terapêuticas complementares, contribuindo para um cuidado mais humanizado, ao mesmo tempo em que destacam a importância de respeitar as experiências e histórias de vida dos idosos, promovendo autonomia e qualidade de vida. Dessa forma, essas práticas contribuem para a valorização das PICS no contexto institucional, ampliando seu uso como recurso de cuidado.

Fonte: Autores (2025).

Discussão

A análise dos estudos permitiu organizar os achados em categorias temáticas que facilitaram a compreensão dos resultados. De forma geral, os artigos revisados evidenciaram que a dança circular promove benefícios físicos, emocionais e sociais, como melhora da mobilidade, equilíbrio, coordenação, bem-estar emocional e fortalecimento de vínculos. Os dados quantitativos e qualitativos apresentados demonstraram efeitos positivos consistentes, especialmente no aumento da autonomia e na redução do risco de quedas. No entanto, também foram identificadas limitações metodológicas, como amostras pequenas, ausência de padronização das intervenções e predominância de estudos qualitativos, o que restringe a generalização dos achados.

Além disso, a literatura apresenta lacunas importantes, como a escassez de estudos que avaliem a atuação do enfermeiro na condução da dança circular e a ausência de pesquisas com métodos mais robustos, como ensaios clínicos. Ainda falta explorar com maior profundidade a frequência, duração e intensidade ideais da prática para diferentes perfis de idosos. Mesmo assim, a síntese final evidencia que a dança circular se destaca como estratégia integrativa eficaz, favorecendo o envelhecimento ativo e humanizado, ampliando a socialização e fortalecendo práticas de cuidado centradas na pessoa, com potencial para orientar políticas públicas e o trabalho multiprofissional.

A análise dos estudos selecionados fundamenta que a dança, enquanto prática terapêutica, apresenta benefícios significativos para a população idosa, especialmente no que se refere ao equilíbrio e à realização de atividades funcionais do cotidiano, além de favorecer a socialização, o fortalecimento de vínculos e o bem-estar emocional entre os participantes [11].

As pesquisas evidenciam que a dança circular, quando utilizada como prática integrativa, apoia o cuidado à saúde dos idosos ao estimular o movimento, fortalecer as relações sociais e promover maior estabilidade emocional, mostrando-se um recurso importante para uma rotina de envelhecimento mais saudável [12].

Ao analisar e comparar, observa-se que o estudo publicado em periódico científico aborda a dança circular como prática integrativa inserida na promoção da saúde, dialogando com políticas públicas e valorizando dimensões subjetivas, sociais e relacionais, como vínculos, bem-estar e pertencimento comunitário. Já a tese acadêmica adota uma perspectiva mais funcional e biomecânica, evidenciando efeitos mensuráveis da prática sobre mobilidade, equilíbrio, força muscular e desempenho físico, elementos essenciais para a autonomia no envelhecimento [11,12].

Estudos demonstram que, em 2020, havia cerca de 727 milhões de pessoas com 65 anos ou mais no mundo, e projeta-se que esse número continuará a crescer em todos os continentes, alcançando mais de 1,5 bilhão até 2050. Esse aumento da população idosa evidencia a necessidade de políticas públicas e estratégias de cuidado que garantam proteção, saúde e inclusão social dessa parcela da população, conforme preconiza o Estatuto do Idoso [13].

O envelhecimento da população brasileira exige políticas eficazes de saúde e cidadania, o que motivou a promulgação da Lei nº 10.741/2003 — o Estatuto da Pessoa Idosa — que define como idosa a pessoa com 60 anos ou mais e assegura todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, garantindo-lhe oportunidades e facilidades para a preservação da saúde física e mental, assim como o aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade, dignidade e convivência familiar e comunitária [14].

A literatura destaca a dança circular como ferramenta funcional e instrumento de socialização para idosos, pois favorece o encontro coletivo, fortalece vínculos, reduz o isolamento social e contribui para melhorias na saúde física e emocional, mostrando-se uma prática capaz de promover convivência, participação ativa e bem-estar na velhice [15].

Os estudos indicam que a brincadeira de dança de roda realizada pelo grupo Meninas de Sinhá promove saúde e lazer entre mulheres idosas, fortalecendo vínculos comunitários, resgatando memórias, estimulando autonomia e contribuindo para um envelhecimento ativo e significativo, ao unir movimento, convivência e expressão cultural [16].

A associação dos achados evidencia que o movimento corporal, aliado ao canto e ao convívio social, promove lazer, alegria e vitalidade, impactando positivamente o processo de envelhecimento [17]. Essas práticas reduzem o isolamento social, favorecem a construção de vínculos entre os idosos e fortalecem a participação ativa em grupo. Além de acessível, a dança estimula simultaneamente corpo e mente, reforçando a autoestima, o senso de pertencimento e a construção de uma identidade coletiva, elementos essenciais para um envelhecimento saudável e humanizado [18].

Ao relacionar os estudos, observa-se que é oferecida uma compreensão crítica e aprofundada sobre as PICS, descrevendo-as como práticas que produzem mediações complexas entre saberes biomédicos e tradicionais. Aponta-se que sua inclusão no SUS envolve negociações epistemológicas e culturais que reconfiguram modos de cuidar e de compreender a saúde [19]. O relatório da OPAS demonstra como essas mediações teóricas se concretizam no cotidiano dos serviços, apresentando experiências reais de implementação das PICS no Brasil. O documento evidencia que, quando inseridas de forma estruturada, as práticas integrativas fortalecem as redes de atenção, ampliam o cuidado integral e promovem melhores resultados em saúde, fornecendo fundamento e operacionalização [20].

Conclusão

A dança circular configura-se como uma prática integrativa e terapêutica capaz de promover saúde, autonomia e bem-estar integral na terceira idade, ao contemplar dimensões físicas, emocionais, cognitivas e sociais. Além de favorecer equilíbrio funcional, coordenação motora, socialização e redução do risco de quedas, sua implementação em políticas públicas e serviços de saúde fortalece o cuidado integral e humanizado. Ressalta-se, ainda, o papel essencial do enfermeiro na condução segura e adaptada das sessões, estimulando a participação e acompanhando os efeitos sobre a saúde dos idosos, o que evidencia a relevância dessa prática para o envelhecimento ativo.

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflito de interesse.

Financiamento

Financiamento próprio.

Contribuição dos autores

Concepção e desenho da pesquisa: Vieira AB, Celestino EKA, Coelho JCSG, Oliveira R; Redação do manuscrito: Vieira AB, Celestino EKA, Coelho JCSG, Oliveira R; Revisão do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Vieira AB, Celestino EKA, Coelho JCSG, Oliveira R.

Referências

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