Enferm Bras. 2025;24(5):2770-2783
doi: 10.62827/eb.v24i5.4092

ARTIGO ORIGINAL

Saberes e práticas dos profissionais da atenção primária à saúde sobre a política nacional de práticas integrativas e complementares

João Paulo Assunção Borges1, Hugo Ribeiro Zanetti2, João Carlos Garcia da Silva2, Leandra Messias Correia2

1Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Pioneiros, MS, Brasil

2IMEPAC Centro Universitário, Araguari, MG, Brasil

Recebido em: 18 de Setembro de 2025; Aceito em: 25 de Setembro de 2025.

Correspondência: João Paulo Assunção Borges, enf_joaopaulo@yahoo.com.br

Como citar

Borges JPA, Zanetti HR, Silva JCG, Correia LM. Saberes e práticas dos profissionais da atenção primária à saúde sobre a política nacional de práticas integrativas e complementares. Enferm Bras. 2025;24(5):2770-2783. doi:10.62827/eb.v24i5.4092

Resumo

Introdução: A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do Sistema Único de Saúde como estratégia para garantir a integralidade na atenção à saúde. Na Atenção Primária, as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) têm importante inserção, mas ainda requer ampliação da oferta de ações e maior conhecimento por parte dos profissionais de saúde que atuam na rede. Objetivo: Identificou-se e descreveu-se o conhecimento e a percepção dos profissionais da saúde acerca das PICS. Métodos: Pesquisa de campo, transversal, exploratória, realizada por meio de entrevistas para a coleta de dados, configurando um estudo quantitativo. As entrevistas foram conduzidas por meio de um questionário semiestruturado, disponibilizado por meio eletrônico ou físico, contendo perguntas relacionadas ao perfil sociodemográfico e profissional dos participantes, assim como relacionadas ao conhecimento e utilização das PICS na prática. O estudo foi realizado nas unidades de saúde da Atenção Primária do interior de Minas Gerais, com 76 profissionais da saúde que compõem as equipes da APS. Resultados: A maioria dos profissionais afirma ter conhecimento sobre as PICS (n=59) porém possuem pouco experiência básica ou insuficiente sobre o assunto. Dentre as práticas vivenciadas pelos entrevistados, destaca-se a medicina tradicional chinesa/ acupuntura (n=25), fitoterapia (n=24) homeopatia (n=19) e aromaterapia (n=19). Conclusão: Pode-se destacar que parte dos profissionais da saúde refere conhecer e utilizar as PIC em suas práticas na APS. Porém, ainda é considerável a proporção de profissionais que relatam conhecimento insuficiente sobre as terapias complementares, o que limita a sua utilização na prática profissional.

Palavras-chave: Conhecimento; Profissionais de Saúde; Práticas Integrativas e Complementares.

Abstract

Knowledge and practices of primary health care professionals on the national policy of integrative and complementary practices

Introduction: The National Policy on Integrative and Complementary Practices of the Unified Health System is a strategy to ensure comprehensive health care. Integrative and Complementary Health Practices play an important role in primary care, but they still require expanded provision and greater knowledge among healthcare professionals working within the network. Objective: Identified and described the healthcare professionals’ knowledge and perceptions of Complementary Therapies. Methods: This cross-sectional, exploratory field study was conducted through interviews for data collection, configuring a quantitative study. The interviews were conducted using a semi-structured questionnaire, made available electronically or in hard copy, containing questions related to the sociodemographic and professional profile of the participants, as well as their knowledge and use of Complementary Therapies in practice. The study was conducted in Primary Care units in the interior of Minas Gerais, with 76 health professionals who make up the PHC teams. Results: Most professionals reported having knowledge of PICs (n=59) but had little or insufficient basic experience on the subject. Among the practices experienced by the interviewees, traditional Chinese medicine/acupuncture (n=25), herbal medicine (n=24), homeopathy (n=19), and aromatherapy (n=19) stand out. Conclusion: It is noteworthy that some health professionals report knowing and using Complementary Therapies in their Primary Care practices. However, the proportion of professionals who report insufficient knowledge about complementary therapies is still considerable, which limits their use in professional practice.

Keywords: Knowledge; Health Personnel; Complementary Therapies.

Resumen

Conocimientos y prácticas de los profesionales de atención primaria de salud sobre la política nacional de prácticas integrativas y complementarias

Introducción: La Política Nacional de Prácticas Integrativas y Complementarias del Sistema Único de Salud es una estrategia para garantizar la atención integral de la salud. Las Prácticas Integrativas y Complementarias (PICS) desempeñan un papel importante en la atención primaria, pero aún requieren una mayor cobertura y un mayor conocimiento entre los profesionales de la salud que trabajan en la red. Objetivo: Se identificaron y describieron lo conocimiento y las percepciones los profesionales de la salud sobre las PICS. Métodos: Estudio de campo exploratorio, transversal, realizado mediante entrevistas para la recolección de datos, configurando un estudio cuantitativo. Las entrevistas se realizaron mediante un cuestionario semiestructurado, disponible en formato electrónico o impreso, que contenía preguntas relacionadas con el perfil sociodemográfico y profesional de los participantes, así como su conocimiento y uso de las PIC en la práctica. El estudio se realizó en unidades de Atención Primaria del interior de Minas Gerais, con 76 profesionales de la salud que integran los equipos de APS. Resultados: La mayoría de los profesionales reportó tener conocimiento de las PIC (n=59), pero tenía poca o insuficiente experiencia básica sobre el tema. Entre las prácticas experimentadas por los entrevistados, se destacan la medicina tradicional china/acupuntura (n=25), la fitoterapia (n=24), la homeopatía (n=19) y la aromaterapia (n=19). Conclusión: Cabe destacar que algunos profesionales de la salud reportan conocer y utilizar las PIC en sus prácticas de APS. Sin embargo, la proporción de profesionales que refieren tener conocimientos insuficientes sobre las terapias complementarias todavía es considerable, lo que limita su utilización en la práctica profesional.

Palabras-clave: Conocimiento; Personal de Salud; Prácticas Integradoras y Complementarias.

Introdução

O Ministério da Saúde apresenta a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS), para cumprimento de suas atribuições de coordenação e para estabelecimento das políticas para a garantia da integralidade na atenção à saúde. Essa política irá atender as necessidades de se conhecer, apoiar, incorporar e executar experiências que já vêm sendo desenvolvidas na rede pública em outros municípios e em até outros estados [1,2].

No Brasil, desde 2006, tem-se buscado incorporar na Atenção Primária à Saúde (APS) algumas práticas como: plantas medicinais como a fitoterapia e homeopatia; a medicina tradicional chinesa através da acupuntura, medicina antroposófica e termalismo-crenoterapia. Essas práticas buscam estimular os mecanismos naturais de prevenção de agravos e promoção da saúde por meio de tecnologias eficazes e seguras [3,4].

O Ministério da Saúde afirma que os marcos teóricos para a construção da PNPIC no SUS são vários, mas destacam-se o documento da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 2002 com o título Traditional Medicine Strategy 2002-2005 [1]. A PNPIC foi aprovada no SUS, através da portaria n° 971, de 03 de maio de 2006. A PNPIC foi criada primeiramente ofertando: Acupuntura, Homeopatia, Plantas Medicinais e Fitoterápicas no âmbito do SUS. Mas, após isso, em 2017, segundo a Portaria N° 849 de 27 de março, foram ofertadas mais 14 PICS. Com isso, as 12 novas práticas aprovadas em 2018, totalizou 29 PICS disponibilizadas para a população [2,3].

As PICS trazem segurança, eficácia e qualidade na perspectiva da integralidade da atenção à saúde. Dessa forma, consistem em um conjunto de práticas terapêuticas que atendem o indivíduo na sua integralidade, unificando o corpo físico, a mente e o espírito, buscando promover saúde utilizando-se dos meios naturais de tratamento [5].

Diante da relevância das PICS no contexto do SUS e dos benefícios comprovados do seu emprego frente à saúde integral do indivíduo, é evidente a importância de estudar fatores relacionados à implementação das PICS na prática profissional. Identificar e analisar o nível de conhecimento dos profissionais de saúde que atuam na APS, considerada a primeira forma de acesso do usuário à rede de ações e serviços de saúde, pode favorecer a adoção e conscientização acerca das PIC no âmbito dos serviços de saúde da APS.

A realização deste estudo pretende também despertar entre profissionais de saúde a população o interesse em conhecer essas práticas e estimular seu emprego, pois, acredita-se que a PNPIC ainda não esteja firmada nos serviços de saúde do município, em parte devido ao desconhecimento e a outros fatores que possam estar relacionados. O conhecimento acerca dessas práticas e sua inserção na comunidade ainda são limitados.

Acredita-se que os profissionais de saúde não estão familiarizados com este tema, pelo fato de algumas práticas serem consideradas recentes. Acredita-se que o nível de conhecimento seja reduzido, tanto para a população quanto para os profissionais de saúde. Neste estudo, identificou-se e descreveu-se o conhecimento dos profissionais da APS acerca da PNPIC, bem como quais são as práticas implantadas na rede.

Métodos

Trata-se de uma pesquisa de campo, transversal, exploratória, realizada por meio de entrevistas para a coleta de dados, configurando um estudo com abordagem quantitativa. As entrevistas foram conduzidas por meio de um questionário semiestruturado, disponibilizado por meio eletrônico ou físico, contendo perguntas relacionadas ao perfil sociodemográfico e profissional dos participantes, assim como relacionadas ao conhecimento e emprego das PICS na prática. Realizado também uma vasta revisão narrativa da literatura, para construir o arcabouço teórico do estudo e facilitar a discussão com a literatura disponível sobre o tema.

O estudo foi realizado entre os meses de junho e julho nas unidades de saúde da APS do município de Araguari (MG), com os diversos profissionais de saúde que compõem as equipes, dentre eles enfermeiros, técnicos em enfermagem, médicos, agentes comunitários de saúde, entre outros.

Foram incluídos neste estudo os profissionais de saúde que trabalham em UBS e UBSF no município de Araguari- MG, que estão em pleno exercício de suas funções. Foram excluídos deste estudo os profissionais em períodos de férias ou afastamento por motivos de saúde. O participante poderá deixar de participar da pesquisa em qualquer momento a partir do aceite, sem quaisquer prejuízos ou sanções, sendo esta decisão de sua livre escolha e manifestação.

Os profissionais selecionados para a entrevista foram aqueles que trabalham em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF), dentre eles enfermeiros, técnicos em enfermagem, médicos, agentes comunitários de saúde, e demais membros da equipe multiprofissional. Os participantes foram recrutados pelos pesquisadores no local de trabalho. Nesta ocasião, foram apresentados os objetivos da pesquisa e obtido o consentimento em participar do estudo. Sendo apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Após autorização, foi aplicado o questionário de forma presencial com o profissional de saúde, no seu horário e local de trabalho, no momento do aceite ou em outro momento, após agendamento de acordo com a disponibilidade do profissional. A entrevista aconteceu em local reservado, escolhido pelo participante e disponibilizado nas próprias dependências da unidade. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, sob parecer consubstanciado número 6.073.191.

Após a coleta os dados foram registrados no software Excel (versão 2013 para Windows). Os resultados foram apresentados de forma descritiva, organizados em tabelas, expressos em quantidade (n) e porcentagem (%).

Resultados

A tabela 1 demonstra os resultados obtidos a partir da aplicação do questionário. A amostra do estudo foi composta por 76 voluntários sendo composto por 4 médicos, 12 enfermeiros, 13 técnicos de enfermagem, 32 agentes de saúde, 1 farmacêutico, 2 recepcionistas e 12 auxiliares bucais e/ou serviços gerais. Os indivíduos eram predominantemente do sexo feminino (n=71); na faixa etária entre 46 e 65 anos (n=28) com ensino superior completo (n=20). 76----100

Tabela 1 – Caracterização dos profissionais da APS do município, Araguari, Minas Gerais, Brasil, 2025

Características

n (%)

Sexo

Feminino

71(93,4)

Masculino

5(6,6)

Faixa Etária

n (%)

18 a 25

07(9,2)

26 a 35

15 (19,7)

36 a 45

25(32,8)

46 a 65

28(36,8)

Acima de 65

01(1,5)

Escolaridade

n (%)

Ensino Médio Completo

31(40,7)

Ensino Superior Incompleto

08(10,5)

Ensino Superior Completo

20(26,3)

Pós-Graduado

17(22,5)

Profissão

n (%)

Médico

04(5,2)

Enfermeiro

12(15,7)

Técnico de Enfermagem

13(17,1)

Agente de Saúde

32(42,1)

Farmacêutico

01(1,6)

Recepcionista

02(2,6)

Outros

12(15,7)

Fonte: dados da pesquisa, 2025

Em relação às respostas do questionário, todos dos médicos afirmam ter muito pouco conhecimento sobre as práticas integrativas e complementares (n=4), Três deles afirmam não ter experiencia com as PICS. Dentre as práticas vivenciadas pelos médicos entrevistados, destaca-se a aromaterapia (n=01), porém, foi observado que as outras PICS não foram assinaladas no questionário pelos entrevistados.

Os enfermeiros afirmam ter conhecimento parcial sobre as práticas integrativas e complementares (n=07) porém possuem pouco experiência, ou consideram a experiência básica ou insuficiente sobre o assunto. Dentre as práticas vivenciadas pelos enfermeiros entrevistados, destaca-se a medicina tradicional chinesa/ acupuntura (n=06), fitoterapia (n=06) homeopatia (n=04) e aromaterapia (n=04).

A maioria dos técnicos em enfermagem afirmam ter conhecimento parcial sobre as práticas integrativas e complementares (n=07), porém possuem pouca experiência sendo considerada, básica ou insuficiente sobre o assunto. Dentre as práticas vivenciadas pelos entrevistados, destaca-se a imposição de mãos (n=05) e aromaterapia (n=03).

Dentre os Agentes comunitários de Saúde a maioria afirma ter conhecimento parcial sobre as práticas integrativas e complementares (n=16), porém possuem pouca experiência sendo considerada, básica ou insuficiente sobre o assunto. Dentre as práticas vivenciadas pelos ACS entrevistados, destaca-se a medicina tradicional chinesa / acupuntura (n=13), fitoterapia (n=11) e aromaterapia (n=09).

O farmacêutico entrevistado (a) afirma ter pouco conhecimento sobre as práticas integrativas e complementares (n=01) e considera sua experiência básica ou insuficiente sobre o assunto. Dentre as práticas vivenciadas pelo (a) entrevistado (a), destaca-se a homeopatia (n=01), o entrevistado (a) afirma acreditar que as PICS podem ajudar em uma terapia além da farmacoterapia, e ressalta que na unidade onde trabalha não há oferta de nenhuma prática integrativa complementar.

As recepcionistas entrevistadas afirmam ter pouco conhecimento sobre as práticas integrativas e complementares ou não terem conhecimento sobre as PICS (n=02) e relatam nunca terem tido experiencia no uso de práticas integrativas e complementares. Os recepcionistas entrevistados afirmam acreditar que as PICS podem ajudar em uma terapia além da farmacoterapia, e ressaltam que na unidade onde trabalha não há oferta de nenhuma prática integrativa complementar.

Em relação às respostas do questionário dos outros entrevistados como Auxiliares de Saúde Bucal, Dentista e Auxiliares de Serviços Gerais, a maioria afirma ter conhecimento sobre as práticas integrativas e complementares (n=12) porém possuem pouca experiência, sendo considerada básica ou insuficiente sobre o assunto. Dentre as práticas vivenciadas pelos entrevistados, destaca-se a meditação (n=06) e fitoterapia (n=05). Além disso, foi observado que as PICS Apiterapia, Bioenergética e Geoterapia, não foram assinaladas pelos Auxiliares de Saúde Bucal e Auxiliares de Serviços Gerais entrevistados. Todos entrevistados afirmam acreditar que as PICS podem ajudar em uma terapia além da farmacoterapia.

Tabela 2 – Conhecimento dos profissionais da APS sobre as PICS, Araguari, Minas Gerais, Brasil, 2025

Médicos

Enfermeiros

Técnico de enfermagem

Agente de saúde

Farmacêutico

Recepcionista

Outros

Já ouviu falar em práticas integrativas e complementares?

Não, não tem conhecimento sobre o assunto

00

01

01

02

00

01

00

Sim, mas muito pouco
conhecimento sobre o assunto

04

06

10

26

01

01

11

Sim, sei do que se trata e tenho bastante conhecimento

00

05

02

04

00

00

01

Você conhece as práticas integrativas e complementares?

Sim, totalmente

01

02

01

01

00

00

00

Sim, parcialmente

02

07

07

16

00

00

05

Sim, mas muito pouco

01

01

03

12

00

00

05

Não conheço

00

02

02

03

00

02

02

Se sim, na pergunta anterior, você já teve alguma experiência no uso de práticas integrativas e complementares?

Sim, minha experiência é expressiva

01

01

01

04

00

00

01

Sim, minha experiência é moderada

00

04

03

04

00

00

00

Sim, minha experiência é básica ou insuficiente

00

05

05

10

01

00

08

Não

03

02

04

14

00

02

03

Entre as Prática Entre as práticas integrativas complementares, qual que já teve contato ou experiência na aplicação?

Não tive contato ou experiência

03

02

05

09

00

02

03

Aromaterapia

01

04

03

09

00

00

02

Apiterapia

00

00

00

00

00

00

00

Artererapia

00

02

00

08

00

00

01

Ayurveda

00

02

01

01

00

00

00

Biodança

00

00

02

01

00

00

00

Bioenergética

00

00

00

00

00

00

00

Constelação Familiar

00

00

02

01

00

00

01

Cromoterapia

00

00

02

03

00

00

00

Dança Circular

00

01

01

02

00

00

02

Geoterapia

00

00

00

00

00

00

00

Hipnoterapia

00

00

02

00

00

00

00

Homeopatia

01

04

03

07

01

00

03

Imposição de Mãos

01

03

05

01

00

00

01

Medicina Antroposófica / Antroposofia

00

01

01

00

00

00

00

Med. Tradicional Chinesa – Acupuntura

01

06

05

13

00

00

01

Meditação

01

02

02

06

00

00

06

Musicoterapia

00

02

02

02

00

00

02

Naturopatia

00

00

00

01

00

00

00

Osteopatia

00

00

01

00

00

00

00

Ozonioterapia

00

03

01

02

00

00

00

Plantas Medicinais – Fitoterapia

00

06

03

11

00

00

05

Quiropraxia

00

02

00

02

00

00

01

Reflexoterapia

00

00

01

02

00

00

00

Reiki

01

03

03

07

00

00

01

Shantala

00

01

01

00

00

00

00

Terapia Comunitária Integrativa

00

00

01

05

00

00

00

Terapia de Florais

00

03

02

07

00

00

02

Termalismo Social / Crenoterapia

00

00

00

01

00

00

00

Yoga

01

01

03

05

00

00

02

No local onde você trabalha existe oferta de alguma prática integrativa complementar?

Não

01

10

10

21

01

02

10

Sim, de apenas 1 práticas integrativas e complementares

01

01

00

02

00

00

01

Sim, entre 2 e 3 práticas integrativas e complementares

02

01

03

09

00

00

01

Sim, entre 4 e 5 práticas integrativas e complementares

00

00

00

00

00

00

00

Sim, acima de 6 práticas integrativas e complementares

00

00

00

00

00

00

00

Você acredita que as PICS podem ajudar em uma terapia além da farmacoterapia?

Sim

04

12

13

31

01

02

12

Não

00

00

00

1

00

00

00

Fonte: dados da pesquisa, 2025

Discussão

Os resultados apontaram que metade dos profissionais referem ter muito pouco conhecimento sobre o assunto e o restante referiu apresentar conhecimento satisfatório sobre as PICS. As práticas mais conhecidas e relatadas quanta à utilização foram a fitoterapia e acupuntura, seguidas pela aromaterapia e homeopatia.

Os resultados do presente estudo corroboram com outros encontrados na literatura e que evidenciaram que a acupuntura, fitoterapia, aromaterapia e homeopatia são as PICS mais conhecidas entre os profissionais da saúde [6]. As PICS estão cada vez mais adentrando na rede de atenção à saúde em diferentes territórios e contextos. Sua adesão pode ser vista como um novo meio de praticar saúde, incorporando grandes recursos tecnológicos a fim de buscar soluções para os usuários, além da terapêutica farmacológica convencional [7,8].

As práticas citadas no estudo fazem parte da PNPIC, instituída pela portaria nº 971/GM/ MS, de 3 de maio de 2006, publicada no diário oficial da união nº 84, de 4 de maio de 2006. Por esse motivo o Ministério da Saúde (MS), por meio da Portaria nº 971/2006, publicou a Política Nacional de Práticas Integrativas e complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS) para garantir a integralidade nos serviços e, a partir daí, algumas práticas foram legitimadas no SUS [1,2,3].

Os participantes desta pesquisa foram questionados sobre os desafios para implementação dessas práticas e como resposta foi obtido que existe uma falta de profissionais capacitados, falta de estrutura e materiais, investimento e apoio e uma maior divulgação dos benefícios que as práticas podem trazer além de um tratamento medicamentoso [8,9]. Em relação aos conhecimentos dos usuários verifica-se que a população utiliza essas práticas sem acompanhamento adequado por profissionais qualificados, seguindo estratégias de terceiros [10]. Também foram verificadas a baixa oferta desses serviços na APS, a falta de interesse dos profissionais e falta de ações de educação permanente e atualização sobre a temática.

 Em uma pesquisa com 177 médicos e enfermeiros da estratégia saúde da família sobre as PICS na cidade de Florianópolis evidenciou que 88,7% desconhecem as PICS. Por outro lado, 81,4% desses profissionais demonstram que prezam pela adesão dessas atividades na atenção primária e 59,9% expressam um grande interesse sobre maiores orientações e capacitações sobre o assunto [9,11].

Durante a formação profissional em cursos de graduação na área da saúde, a maioria não proporciona conhecimentos sobre as PICS, principalmente no curso de medicina, em que deveria ser abordadas PICS [10,11]. Estudos apontam que existem entraves para inserção e expansão da PNPIC no Brasil e são escassas as instituições que visam formar profissionais que tenham uma visão para além das práticas tradicionais [10,12,13].

Enquanto limitações desta pesquisa, destaca-se seu recorte transversal, tratando-se de uma realidade local em um período limitado. As questões abordadas neste estudo podem ser efetuadas com profissionais da APS em outros municípios para ampliar ainda mais a compreensão do tema. Dentre as contribuições, estudos como este são valiosos, pois possibilitam uma visão panorâmica do cenário das PICS no contexto da APS, podendo contribuir para a compreensão de como essas práticas podem ser efetivamente integradas na APS, ampliando o acesso dos usuários às práticas alternativas.

Conclusão

Este estudo analisou o conhecimento e as percepções dos profissionais da APS, destacando-se que parte destes refere conhecer e utilizar as PICS no seu cotidiano. Porém, ainda é considerável a proporção de profissionais que relatam conhecimento insuficiente sobre as terapias complementares, o que limita a sua utilização na prática profissional.

Haja vista que a APS tem como eixo norteador a integralidade do cuidado, a não utilização das PICS na APS do município ou uso incipiente, torna frágil a assistência integral à saúde da população atendida pela rede de saúde. Faz-se necessário investir na educação permanente em saúde dos profissionais da APS, bem como difundir e fomentar a oferta das PICS para os usuários dos serviços de saúde da APS.

A maioria dos profissionais acreditam que as PICS tragam grandes benefícios para os usuários das APS e até para eles mesmos. Contudo, sentem-se pouco capacitados para trabalharem com essas práticas devido à falta de recursos e formação profissional voltada para as PICS. Percebe-se a necessidade de inserir disciplinas e conteúdos durante os cursos de graduação para promover uma formação mais abrangente, aproximando os profissionais de saúde da PNPIC. Com isso, pode-se estimular maior interesse dos acadêmicos e, por conseguinte, maior adesão e implantação dessas práticas na rotina assistencial.

Pode-se afirmar que as PICS têm grandes possibilidades de inserção nos serviços da APS, configurando uma estratégia de cuidado integral e humanizado para os usuários. Além disso, podem proporcionar que os usuários tornem-se mais ativos no processo de cuidado à saúde, valorizando sua singularidade e sua subjetividade.

Conflitos de Interesse

Os autores declaram não haver conflito de interesse.

Financiamento

Financiamento próprio.

Contribuição dos autores

Concepção e desenho da pesquisa: Borges JPA, Zanetti HR, Silva JCG, Correia LM; Obtenção de dados: Borges JPA, Zanetti HR, Silva JCG, Correia LM; Análise e interpretação de dados: Borges JPA, Zanetti HR, Silva JCG, Correia LM; Redação do manuscrito: Borges JPA, Zanetti HR, Silva JCG, Correia LM; Revisão do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Borges JPA, Zanetti HR, Silva JCG, Correia LM.

Referências

1. Brasil (BR). Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares No SUS – PNPIC-SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pnpic.pdf

2. Landim RLB, Aquino CMF de, Cabral MEG da S, Sousa IMC de. Por que elas fazem práticas integrativas e complementares na Estratégia Saúde da Família?. Physis [Internet]. 2025 [cited 2025 Set 17];35(1):e350118. Available from: https://www.scielo.br/j/physis/a/xPKHxsbcTCTYFD6ySXnhgCL/?lang=pt. doi: https://doi.org/10.1590/S0103-73312025350118pt

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