Cuidados ao paciente pediátrico autista em unidades de emergência hospitalar: uma revisão integrativa
Vanessa Bennemann1, Maria Carlota Borba Brum1
1Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil
Recebido: 7 de outubro de 2024; Aceito: 14 de outubro de 2024.
Correspondência: Vanessa Bennemann, vbennemann@universo.univates.br
Como citar
Bennemann V, Brum MCB. Cuidados ao paciente pediátrico autista em unidades de emergência hospitalar: uma revisão integrativa. Enferm Bras. 2024;23(4):1836-1849. doi:10.62827/eb.v23i4.4026
Introdução: o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento que afeta áreas cruciais como a interação social, a comunicação, o comportamento, o movimento e a cognição; há um aumento global na prevalência deste problema tem gerado maior demanda por atendimento nos setores de emergência, representando um desafio para as equipes de saúde. Objetivo: identificar na literatura informações sobre os cuidados ao paciente pediátrico com Transtorno do Espectro Autista em unidades de emergência hospitalar. Métodos: revisão integrativa construída em seis etapas. A busca bibliográfica ocorreu em maio de 2023, online, na EMBASE, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e na Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (Medline), utilizando os descritores “Nurse Care/Cuidados de Enfermagem”, “Autism/Autismo”, “Hospital/Hospital”. A análise foi realizada de forma descritiva. Resultados: a amostra foi composta por 6 artigos. Dentre os cuidados, os estudos sugerem: adaptações na assistência das emergências para o atendimento das crianças com autismo, em função do estímulo fornecido pelo excesso de ruídos e iluminação; fortalecimento da assistência conjunta, com participação da família nos momentos de atendimento; aprimoramento o conhecimento dos profissionais da equipe sobre a melhor maneira de acolher. Conclusão: este estudo identificou cuidados aos pacientes pediátricos com autismo ao necessitarem de serviços de emergência, fortalecendo a importância da atenção personalizada e especializada. Neste sentido, sugere-se a inclusão deste tema na formação dos profissionais, assim como a promoção de capacitação aos que se encontram nas linhas de frente das emergências.
Palavras-chave: Pediatria; transtorno do espectro autista; serviço hospitalar de emergência; cuidados de enfermagem.
Care for autistic pediatric patients in hospital emergency units: an integrative review
Introduction: Autism Spectrum Disorder (ASD) is a neurodevelopmental disorder that affects crucial areas such as social interaction, communication, behavior, movement and cognition and the global increase in the prevalence of this problem has generated greater demand for care in emergency sectors, representing a challenge for health teams. Objective: to identify in the health sciences literature the care provided to pediatric patients with autism spectrum disorder in hospital emergency unit. Methods: integrative review constructed in six stages. The bibliographic search took place in May 2023, online, in EMBASE, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS) and Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline), using the descriptors “Nurse Care”, “Autism”, “Hospital”. The analysis was performed descriptively. Results: the sample consisted of 6 articles. Among the care provided, the studies suggest: adaptations in emergency care for the care of children with autism, due to the stimulus provided by excessive noise and lighting; strengthening joint care, with family participation during care moments; improving the knowledge of team professionals about the best way to welcome the patient. Conclusion: this study identified care for pediatric patients with autism when they require emergency services, reinforcing the importance of personalized and specialized care. In this sense, it is suggested that this topic be included in the training of professionals, as well as the promotion of training for those who are on the front lines of emergencies.
Keywords: Pediatrics; autism spectrum disorder; emergency service hospital; nursing care.
Atención al paciente pediátrico autista en unidades de urgencia hospitalarias: una revisión integradora
Introducción: el Trastorno del Espectro Autista (TEA) es un trastorno del neurodesarrollo que afecta áreas cruciales como la interacción social, la comunicación, la conducta, el movimiento y la cognición y el aumento global en la prevalencia de este problema ha generado una mayor demanda de atención en sectores de emergencia, representando un desafío para los equipos de salud. Objetivo: identificar la atención a pacientes pediátricos con Trastorno del Espectro Autista en la unidad de emergencia hospitalaria en la literatura de ciencias de la salud. Métodos: revisión integradora construida en seis etapas. La búsqueda bibliográfica se realizó en mayo de 2023, en línea, en Embase, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) y Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (Medline), utilizando los descriptores “Atención de Enfermería”, “Autismo”, “Hospital”. El análisis se realizó de forma descriptiva. Resultados: la muestra estuvo compuesta por 6 artículos. Entre las medidas de atención, estudios sugieren: adaptaciones en la asistencia de emergencia para la atención de niños con autismo, debido al estímulo proporcionado por el exceso de ruido e iluminación; fortalecer la asistencia conjunta, con participación familiar en los momentos de cuidado; mejorar el conocimiento de los profesionales del equipo sobre la mejor forma de dar la bienvenida. Conclusión: este estudio identificó la atención a pacientes pediátricos con autismo cuando requieren servicios de emergencia, fortaleciendo la importancia de la atención personalizada y especializada. En este sentido, se sugiere la inclusión de este tema en la formación de profesionales, así como la promoción de la formación de quienes están en primera línea de emergencias.
Palabras-clave: Pediatría; trastorno del espectro autista; servicio de urgencia en hospital; cuidados de enfermería.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento que afeta áreas cruciais como a interação social, a comunicação, o comportamento, o movimento e a cognição. O início dos sintomas ocorre antes do 2° ano de vida. Crianças diagnosticadas com autismo podem apresentar diferentes níveis (leve, moderado e grave) de comprometimento das áreas do desenvolvimento, da comunicação, da interação social, do comportamento e de interesses restritos ou repetitivos [1,2].
O aumento global na prevalência de pacientes com TEA tem gerado maior demanda por atendimento nos setores de emergência, representando um desafio para as equipes de saúde, que geralmente, não estão preparadas para essa demanda. A literatura destaca as dificuldades de comunicação dos profissionais e o ambiente sensorial inadequado como fatores que complicam a assistência, o que acarreta resultados desfavoráveis [3,4].
O ambiente dos setores de emergência frequentemente é caracterizado por ruídos, conversas, gritos, eletrônicos, luzes fluorescentes brilhantes ou luzes intermitentes, máquinas de telemetria e televisões nos quartos. Consequentemente, indivíduos com TEA apresentam respostas sensoriais atípicas aos estímulos desses ambientes [4,5].
Durante a assistência, é crucial gerenciar a agitação e as barreiras à comunicação, adotando estratégias como a redução de estímulos distrativos, comunicação direta e clara, obtenção de informações junto aos cuidadores, fornecimento de fontes calmantes, com uma abordagem deve ser cautelosa, com o tempo de espera deve ser minimizado [6,7].
Frente à necessidade premente de uma abordagem pediátrica multidisciplinar especializada para pacientes com TEA, que abranja internação, emergência e atendimento ambulatorial [8], surge a hipótese de que a falta de capacitação dos profissionais na emergência pode gerar ansiedade na criança autista, prolongando seu tempo de atendimento e estadia hospitalar.
Destaca-se a necessidade dos profissionais de saúde, especialmente enfermeiros, possuírem conhecimento técnico para assegurar o manejo eficaz dessa população, considerando a assistência direta ao paciente e ao acompanhante. A carência de estudos que explorem os benefícios da atuação da enfermagem na reabilitação desses pacientes evidencia a necessidade de pesquisas adicionais sobre o tema.
Desta forma, justifica-se este estudo pela necessidade de fornecer conhecimento sobre o tema, visto que o TEA afeta aproximadamente uma em cada 100 crianças, e que estes poderão necessitar de serviços de urgência durante as fases do desenvolvimento [9]. identificou-se na literatura informações sobre os cuidados ao paciente pediátrico com TEA em unidades de emergência hospitalar.
A metodologia adotada para este estudo foi a revisão integrativa, a qual foi construída em seis etapas: formulação da questão de pesquisa, busca bibliográfica, extração de dados, avaliação crítica, análise e sumarização dos estudos e síntese do conhecimento [10].
Seguiu-se o checklist Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) [11]. A recomendação PRISMA é uma diretriz amplamente reconhecida e utilizada na elaboração de relatos de revisões sistemáticas e meta-análises.
A questão de pesquisa foi formulada com auxílio da estratégia PICO [12], (acrônimo para P-população, I-intervenção/área de interesse, C-comparação e O-resultado/desfecho), onde a população considerada foi paciente pediátrico autista, a área de interesse consistiu em atendimento em emergência hospitalar, não houve comparação, e o desfecho pesquisado foi o cuidado de enfermagem. Desta forma, a questão norteadora para este estudo foi: “quais as evidências disponíveis na literatura científica das ciências da saúde sobre os cuidados ao paciente pediátrico autista em unidade de emergência hospitalar?”
A busca bibliográfica foi realizada em maio de 2023, online, nas bases EMBASE, no Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), e na Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (Medline) via Pubmed, utilizando os Descritores em Ciências em Saúde (DECS) e Medical Subject Headings (MeSH Database). Os termos de busca, de acordo com a base, foram Nurse Care/Cuidados de Enfermagem; Autism/Autismo; Hospital/Hospital, utilizado os operadores booleanos AND ou OR, conforme Quadro 1. As expressões de busca foram construídas com apoio de um bibliotecário.
Quadro 1 - Estratégia de busca nas bases da Biblioteca Virtual em Saúde. Porto Alegre, RS, Brasil, 2024
LILACS |
(mh:(“Nursing Services” OR “Nursing, Practical” OR “Nursing Service, Hospital” OR “Nursing Care” OR “Developmental Disability Nursing” OR “Pediatric Nursing”) OR ti:(nursing OR enfermagem OR enfermería) OR ab:(nursing OR enfermagem OR enfermería)) AND (mh:(Emergencies OR H02.403.250* OR N02.421.297* OR “Emergency Treatment” OR “First Aid” OR “Emergency Nursing”) OR ti:(Pré-Hospitalar* OR Prehospitalar* OR Pronto-socorro OR “Atención urgente” OR Urgencia OR Emergenc* OR “First Aid” OR “First Aids” OR “Primeros Auxilios” OR “Primeiros Socorros”) OR ab:(Pré-Hospitalar* OR Prehospitalar* OR Pronto-socorro OR “Atención urgente” OR Urgencia OR Emergenc* OR “First Aid” OR “First Aids” OR “Primeros Auxilios” OR “Primeiros Socorros”)) AND (mh:F03.625.164.113* OR ti:(Autis* OR Asperger*) OR ab:(Autis* OR Asperger* |
PubMed |
(Nursing Services[mh] OR “Nursing, Practical”[mh] OR “Nursing Service, Hospital”[mh] OR Nursing Care[mh] OR Developmental Disability Nursing[mh] OR Pediatric Nursing[mh] OR Nursing[tiab]) AND (Emergencies[mh] OR Emergency Medicine[mh] OR Emergency Medical Services[mh] OR Emergency Treatment[mh] OR First Aid[mh] OR Emergency Nursing[mh] OR Emergenc*[tiab] OR Prehospital*[tiab] OR First Aid[tiab] OR First Aids[tiab]) AND (Autism Spectrum Disorder[mh] OR Autis*[tiab] OR Asperger*[tiab]) |
CINAHL |
(MH ( “Nursing Services” OR “Nursing, Practical” OR “Nursing Service, Hospital” OR “Nursing Care” OR “Developmental Disability Nursing” OR “Pediatric Nursing” ) OR TI Nursing OR AB Nursing OR SU Nursing) AND (MH (Emergencies OR “Emergency Medicine” OR “Emergency Medical Services” OR “Emergency Treatment” OR “First Aid” OR “Emergency Nursing” ) OR TI ( Emergenc* OR Prehospital* OR “First Aid” OR “First Aids” ) OR AB ( Emergenc* OR Prehospital* OR “First Aid” OR “First Aids” ) OR SU ( Emergenc* OR Prehospital* OR “First Aid” OR “First Aids” )) AND (MH “Autism Spectrum Disorder” OR TI (Autis* OR Asperger* ) OR AB ( Autis* OR Asperger* ) OR SU ( Autis* OR Asperger* )) |
EMBASE |
(‘nursing’/exp OR nursing:ti,ab,kw) AND (‘emergency’/exp OR ‘emergency medicine’/exp OR ‘emergency health service’/exp OR ‘emergency treatment’/exp OR ‘emergency nursing’/exp OR (Emergenc* OR Prehospital* OR ‘First Aid’ OR ‘First Aids’):ti,ab,kw) AND (‘autism’/exp OR (Autis* OR Asperger*):ti,ab,kw) AND [embase]/lim NOT ([embase]/lim AND [medline]/lim) |
Fonte: dados da pesquisa, 2024
A busca na base de dados e a definição da escolha dos estudos tiveram por base a pertinência do tema de pesquisa, o objetivo do estudo, os principais resultados e as conclusões encontrados pelos autores. Assim, foram utilizados como critérios de inclusão: a) pesquisas que abordem diretamente a assistência de enfermagem ao paciente autista até 12 anos; b) assistência na unidade de emergência hospitalar e emergência pré-hospitalar; c) estudos disponíveis na íntegra; d) acesso aberto; e) idiomas português, inglês e espanhol; f) período de 2013 a 2023.
Como critérios de exclusão foram definidos os seguintes: estudos publicados fora do período indicado; revisões, séries de casos, ata de congresso, relatório, capítulo de livro, que indiquem estudos duplicados e que não venham ao encontro do tema proposto.
Para auxiliar na extração dos dados, foi elaborada pela autora uma tabela de evidências composta pelos itens: título, tipo e desenho do estudo, autor(es)/ano, objetivos, população estudada, contexto e os principais resultados. Os dados foram extraídos e analisados por dois investigadores de forma independente, recorrendo-se a um terceiro revisor em caso de discordância, com a utilização do software Rayyan®.
Respeitaram-se os aspectos éticos, com citação fidedigna das fontes e definições dos autores.
A busca pelos artigos resultou em 9 estudos na LILACS, 6 na Embase, 29 na CINAHL e 16 na Medline, com um total de 60 registros. A Figura 1 apresenta o caminho percorrido, até chegar à amostra de 6 artigos.
Fonte: dados da pesquisa, 2024.
Figura 1 - Fluxograma para seleção dos estudos. Porto Alegre, RS, Brasil, 2024
Em relação ao ano de publicação, foram selecionadas publicações de 2013, 2018, 2019, 2020, 2022 e 2023. A descrição dos estudos se encontra no Quadro 2.
Quadro 2– Descrição das publicações quanto ao título, autor, ano e população. Porto Alegre, RS, 2024
Nº |
Autor /Ano |
Título |
Tipo de estudo |
População |
A1 |
(Harvey et al., 2023) [13] |
Navigating the care of families with a child or children with autistic spectrum disorder |
Pesquisa qualitativa. |
Crianças com graus variados de TEA |
A2 |
(Sandri; Pereira; Corrêa, 2022) [14] |
Cuidado à pessoa com TEA e sua família em pronto atendimento |
Pesquisa exploratória/ descritiva. |
Enfermeiros de Pronto Atendimento em um município de Santa Catarina. |
A3 |
(Schopf et al., 2020) [15] |
An alternative admission process for patients with an autism spectrum disorder and/or an intellectual disability |
Projeto de melhoria da qualidade com abordagem quantitativa |
Pessoas com TEA e/ou deficiência intelectual; familiares e Cuidadores |
A4 |
(Wood et al., 2019) [16] |
Creating a Sensory-Friendly Pediatric Emergency Department |
Pesquisa qualitativa com abordagem participativa e colaborativa |
Crianças com TEA e Distúrbio do Processamento Sensorial; profissionais de Saúde |
A5 |
(Normandin et al., 2018) [17] |
Autism Emergency Care Success: Plan, Collaborate, and Accommodate |
Estudo descritivo |
Crianças com TEA que necessitam de cuidados de emergência, e seus cuidadores. |
A6 |
(Vaz, 2013) [18] |
Visual symbols in healthcare settings for children with learning disabilities and autism spectrum disorder |
Estudo metodológico |
Crianças com dificuldade de aprendizagem e TEA |
Fonte: dados da pesquisa, 2024; TEA: transtorno do espectro do autismo
O Quadro 3 apresenta os objetivos e principais resultados dos artigos selecionados na amostra. Observa-se que há necessidade de adaptações nos serviços para o atendimento dos pacientes pediátricos com TEA, visto que os pacientes podem apresentar alterações de comportamento em função do excesso de ruídos e iluminação.
Neste sentido, torna-se essencial a participação da família nos momentos de atendimento, assim como o conhecimento dos profissionais sobre a melhor maneira de acolher. Destaca-se a importância de atenção personalizada e especializada para as crianças com este diagnóstico.
Quadro 3– Descrição das publicações quanto ao objetivo e principais resultados. Porto Alegre, RS, 2024
Objetivos |
Principais resultados |
|
A1 |
Descrever o trabalho do enfermeiro navegador no contexto do cuidado de crianças no espectro do autismo [13] |
Trata da atuação do enfermeiro na navegação de pacientes com autismo, como uma prática para melhorar o cuidado. O navegador é o porta-voz deste paciente e sua família. É o elo entre a instituição, paciente e família quando há necessidade de internação, preparando o local para receber o paciente. É o profissional que coordena o cuidado em todas as instâncias de saúde, acompanhando as internações nos serviços de emergência e nas intervenções necessárias. |
A2 |
Entender o conhecimento e as práticas dos enfermeiros em relação ao Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) [14] |
Indica cuidados no atendimento como reconhecer as características físicas, comportamentais e intelectuais da criança, ter ambiência adequada para atendimento, buscar o apoio dos pais, dar prioridade no atendimento conforme nível da gravidade, providenciar isolamento ou afastamento, realizar um cuidado humanizado minimizando as interferências para o cuidado e acompanhar as necessidades depois passar pela consulta do pediatra. |
A3 |
Avaliar se a coleta de dados de admissão de enfermagem no pronto-socorro psiquiátrico, realizada em conjunto com enfermeiros e familiares ou cuidadores, resultaria em informações mais completas e precisas em comparação com os dados coletados na unidade de internação após a triagem inicial [15] |
Projeto de melhoria da qualidade com abordagem quantitativa; Aborda sobre a importância da manutenção de enfermeiros especialistas para o cuidado mais preciso, melhorando a coleta de dados na admissão e no decorrer da internação. - Informações mais completas/detalhadas na admissão; - Qualidade na comunicação com fonte confiável (familiares/cuidadores) na avaliação inicial com informações precisas; - Satisfação da equipe de enfermagem, informações mais completas permitiram um cuidado adequado e personalizado, melhorando a eficácia do atendimento; |
A4 |
Criar um ambiente sensorialmente amigável no departamento de emergência pediátrica, adaptado às necessidades das crianças com TEA e Distúrbio do Processamento Sensorial (DPS). Isso incluiu a modificação do ambiente e o treinamento da equipe para fornecer cuidados sensoriais informados [16] |
O estudo descreve o processo de construção de um serviço de emergência pediátrica sensorialmente amigável, com atividades coordenadas pelo enfermeiro, como manutenção de um grupo de profissionais da enfermagem responsáveis pelas adaptações melhorias constantes, ouvir a comunidade e pacientes sobre suas necessidades e experiências em relação à internação, revisar evidências atuais sobre o cuidado necessário, construção de um ambiente tranquilo e confortável, manutenção de visão compartilhada do cuidado, revisão de casos e ajustes no serviço para melhor adaptação e buscar soluções criativas para cada caso. |
A5 |
Explorar e descrever as práticas de atendimento de emergência para crianças com TEA, destacando estratégias que ajudam a melhorar a experiência tanto dos pacientes [17] |
Os autores sugerem cuidados específicos para o atendimento como parceria com cuidadores, estratégias não farmacológicas, utilização de distrações, voz amigável, linguagem concreta e redirecionamento, preparar o atendimento por meio de histórias, verificar qual tipo de comunicação é utilizada pela criança, utilizar linguagem clara e direta e fazer uso de reforços positivos, utilizar símbolos e desenhos, organizar as acomodações para a necessidade da criança no momento do atendimento, engajar a equipe no cuidado e nas modificações necessárias para o atendimento individualizado. |
A6 |
Desenvolver e avaliar a adequação e viabilidade de símbolos visuais clínicos para crianças com dificuldades de aprendizagem e TEA em ambientes de saúde [18] |
Para atender pacientes com TEA os autores construíram símbolos visuais para uso em ambientes de saúde, englobando exame físico, investigações médicas e procedimentos para o tratamento. |
Fonte: dados da pesquisa, 2024; TEA: transtorno do espectro do autismo
Este estudo identificou práticas diversificadas de assistência de enfermagem ao paciente pediátrico autista em unidades de emergência hospitalar. Os resultados demonstram que o atendimento transcende a questão física e que deve ser pautado em comunicação adequada, preparação do ambiente, equipe especializada e capacitada, interação com os pais e com o paciente que permite esse contato, entre outros.
Uma maneira de facilitar a comunicação entre a equipe e paciente foi sugerido no estudo que implantou a utilização de símbolos para o atendimento de saúde. Os símbolos visuais auxiliam as crianças na compreensão de exames, investigações e tratamentos médicos. Embora as explicações verbais sejam oferecidas, o suporte visual pode reforçar o que foi dito, especialmente para aquelas com memória auditiva limitada e dificuldades em reter várias informações ao mesmo tempo. Os símbolos são essenciais para obter a cooperação da criança durante o atendimento [18].
Os profissionais da enfermagem possuem papel primordial na promoção de uma comunicação eficaz e inclusiva, visando o bem-estar e o desenvolvimento dessas crianças. Estratégias de comunicação terapêutica, como o uso do Picture Exchange Communication System (PECS) e a Comunicação Facilitada são recursos que podem ser empregados pelos enfermeiros para facilitar a interação e compreensão das crianças com TEA em situações de doença [19].
Além do mais, cada paciente é um indivíduo único e os cuidados que funcionam para um paciente atendido na emergência pode não funcionar para outro paciente. Por este motivo, o atendimento de emergência bem-sucedido envolve parceria com os cuidadores/família da criança [17].
Neste sentido, pontos importantes que devem ser observados para o atendimento de uma criança com TEA em emergência como a comunicação, o preparo do local, a utilização do lúdico para melhor entendimento, construção de um plano de cuidados com a família e com a equipe multidisciplinar são medidas que poderão auxiliar no sucesso do tratamento [17].
A preocupação com a construção de um ambiente favorável para a criança com TEA também está presente nos estudos selecionados. Utilizando a experiência do paciente e a participação da família na construção da emergência pediátrica própria para estes pacientes, o enfermeiro atua no gerenciamento da manutenção de um ambiente que acolha, realizando transformações conforme as necessidades da clientela [16].
Ambientes propícios para crianças com TEA podem ser pensados e organizados a nível de arquitetura hospitalar integrada à experiência do enfermeiro especialista, pensando na relação com a ambiência e considerando os elementos de estimulação sensorial como contribuintes para o processo terapêutico e a interação do indivíduo com o meio. Desta forma, é possível, por meio da arquitetura, a disponibilização de um ambiente sensorialmente controlado, seguro e planejado, criando um espaço onde podem se comunicar, aprender e interagir [20].
A qualidade do atendimento a pacientes autistas nos departamentos de emergência e emergência psiquiátrica está estreitamente relacionada ao conhecimento e à capacitação da equipe de saúde. Pacientes tendem a se sentir mais satisfeitos quando são atendidos por profissionais especializados. A ausência de informações específicas sobre o paciente pode comprometer o atendimento, especialmente quando indivíduos com TEA e/ou deficiência intelectual não conseguem fornecer informações relevantes durante a internação. Nesses casos, os enfermeiros dependem dos familiares ou cuidadores para obter informações essenciais [15].
Semelhante ao que foi identificado neste estudo, a literatura aponta que práticas psiquiátricas adequadas voltadas ao atendimento de pacientes com TEA representam uma contribuição valiosa para a promoção de uma vida mais plena e saudável destes indivíduos, gerando benefícios a longo prazo [21].
Por outro lado, um estudo realizado com profissionais da enfermagem do Distrito Federal evidenciou que estes trabalhadores se sentem inseguros e despreparados durante a assistência à criança com TEA, devido à incipiência de conhecimento, o que gera uma dependência da família para mediar o cuidado da criança [22]. Este fato demonstra a necessidade de capacitações na área, principalmente em serviços que são considerados porta de entrada para o cuidado hospitalar, como as emergências.
Pacientes que possuem acompanhamento domiciliar e de recursos da comunidade possuem menos chances de necessitarem de cuidados em departamentos de emergência [23]. Neste sentido, sugere-se que os serviços de atenção básica possuam atendimento especializado de enfermagem, visando o acompanhamento dessa clientela, com o fornecimento de serviços de saúde mais amplos e adequados para aqueles necessitados, reduzindo assim a necessidade de cuidados institucionais [14].
O cuidado adequado na atenção básica torna menos traumático o atendimento para a criança com TEA quando surge essa necessidade, trazendo a importância da organização de uma etapa prévia à internação hospitalar. O enfermeiro precisa estar apto e munido de instrumentos, juntamente com a equipe multiprofissional, para auxiliar na triagem e diagnóstico de TEA, objetivando que este achado não ocorra somente na chegada a um serviço de emergência [24].
Por fim, o estudo de Harvey et al[13], descreve um trabalho inovador com enfermeiros navegadores, um profissional que atua como coordenador dos cuidados das crianças com sintomas extremos de transtorno do espectro autista, desenvolvendo desenvolvimento processos individualizados de cuidado que reduzem a interrupção da rotina das crianças que resulta em uma exacerbação do comportamento disruptivo, principalmente em situações mais extremas, como atendimentos de urgência, internações hospitalares e procedimentos intervencionistas.
O acesso a cuidados de saúde é fundamental para crianças com TEA, pois elas podem apresentar inflexibilidade comportamental, comportamentos auto lesivos e sensibilidade sensorial aumentada ou diminuída. Além disso, cerca de 95% das crianças com TEA têm pelo menos uma condição de comorbidade psiquiátrica, neurológica ou física, o que leva à necessidade de atendimento em serviços hospitalares. Neste sentido, disponibilizar acompanhamento na comunidade, com equipes de saúde preparadas para este atendimento, reduz reduzir a procura por serviços de emergência [6,23].
Este estudo sintetiza a literatura sobre o cuidado de enfermagem com crianças com TEA em emergências no período de 10 anos, destacando recursos utilizados em diferentes contextos da assistência que podem auxiliar na organização de serviços de saúde. Como limitação deste estudo, salienta-se a escassez de textos sobre o tema, fato que reforça a necessidade de organização da enfermagem para um atendimento individualizado à criança com TEA.
Esta pesquisa identificou estudos que versaram sobre práticas de assistência de enfermagem ao paciente pediátrico com TEA em unidade de emergência hospitalar, demonstrando estratégias para o atendimento, frente à peculiaridade deles. Também identificou intervenções, por meio de estudos metodológicos, que visam a implementação de melhorias para o atendimento das crianças com TEA nos serviços de emergência.
O número pequeno de estudos na amostra demonstrou a necessidade de mais pesquisas sobre o tema, assim como um maior envolvimento da enfermagem, visando adequação das práticas, para atender os pacientes com TEA de forma a minimizar o impacto do barulho e iluminação excessivos presentes nos setores hospitalares.
Equipes especializadas e com conhecimento sobre o manejo com o paciente com TEA podem auxiliar no curso do atendimento, tornando esse momento menos traumático para a criança. Neste sentido, este estudo reforça a importância da formação na área, do fornecimento de conhecimento sobre o assunto durante a formação acadêmica e de capacitações profissionais de saúde em todos os níveis de atenção, considerando a complexidade desta assistência e a perspectiva de aumento de casos de crianças com TEA, assim como a sensibilização das equipes para a manutenção de atendimento diferenciado a estes pacientes.
Como limitação do estudo, entende-se que uma amostra maior de publicações poderia ter proporcionado mais riqueza de conteúdo, assim como a divulgação de experiências exitosas no cuidado à criança com TEA.
Conflitos de interesse
Os autores declaram não haver conflitos de interesse de qualquer natureza.
Fontes de financiamento
Financiamento próprio.
Contribuição dos autores
Concepção e desenho da pesquisa: Bennemann V, Brum MCB; Coleta de dados: Bennemann V, Brum MCB; Análise e interpretação dos dados: Bennemann V, Brum MCB; Redação do manuscrito: Bennemann V, Brum MCB; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Bennemann V, Brum MCB.
Referências
1. Loubersac J, Michelon C, Ferrando L, Picot MC, Baghdadli A. Predictors of an earlier diagnosis of autism spectrum disorder in children and adolescents: a systematic review (1987–2017). Eur Child Adolesc Psychiatry. 2023;32(3):375–93. Available from: https://doi.org/10.1007/S00787-021-01792-9
2. Araújo MFN, Barbosa IKS, Holanda ATP, Moura CS, Santos JBB, Silva VS, et al. Autismo, níveis e suas limitações: uma revisão integrativa da literatura. PhD Scientific Review. 2022;02(05):8–20. Available from: https://doi.org/10.56238/PHDSV2N5-002
3. Salgado NDM, Pantoja JC, Viana RPF, Pereira RGV. Autism Spectrum Disorder in Children: A Systematic Review of the Increasing Incidence and Diagnosis. Research, Society and Development. 2022;11(13):e512111335748. Available from: https://doi.org/10.33448/RSD-V11I13.35748
4. Bernardino M, Barbalho S, Guedes G, Da Silva D, Paredes NP, Pricila A, et al. Desafios enfrentados pelos profissionais de saúde na hospitalização de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Contribuciones a las ciencias sociales. 2023;16(11):26136–54. Available from: https://doi.org/10.55905/REVCONV.16N.11-081
5. Estevão AR. Vivência das famílias de crianças com autismo em serviços de urgência e emergência: à luz da resiliência familiar [Dissertação]. Curitiba: Universidade Federal do Paraná; 2023.
6. Liu G, Pearl AM, Kong L, Leslie DL, Murray MJ. A Profile on Emergency Department Utilization in Adolescents and Young Adults with Autism Spectrum Disorders. J Autism Dev Disord. 2017;47(2):347–58. Available from: https://doi.org/10.1007/S10803-016-2953-8
7. Mota MVS, Mesquita GC, Silva ALA, Silva NM, Sousa GC. Contribuições da enfermagem na assistência à criança com transtorno do espectro autista: uma revisão da literatura. Revista Baiana de Saúde Pública. 2022;46(3):314–26. Available from: https://doi.org/10.22278/2318-2660.2022.v46.n3.a3746
8. Huber HB, Carter EW. Impact and individualization of peer support arrangements for high school students with autism using structural analysis. Inclusion. 2023;11(1):1–22. Available from: https://dx.doi.org/10.1352/2326-6988-11.1.1
9. Organização Pan-Americana da Saúde. Organização Mundial da Saúde. 2023. Transtorno do espectro autista - OPAS/OMS. Available from: https://www.paho.org/pt/topicos/transtorno-do-espectro-autista
10. Paula CC, Padoin SMM, Galvão CM. Revisão integrativa como ferramenta para tomada de decisão na prática em saúde. Vol. I. Porto Alegre: Moriá Editora; 2018. 52–76 p.
11. Page MJ, McKenzie JE, Bossuyt PM, Boutron I, Hoffmann TC, Mulrow CD, et al. The PRISMA 2020 statement: an updated guideline for reporting systematic reviews. Syst Rev. 2021;10(1):89. Available from: https://dx.doi.org/10.1186/s13643-021-01626-4
12. Santos CMDC, Pimenta CADM, Nobre MRC. The PICO strategy for the research question construction and evidence search. Rev Lat Am Enfermagem. 2007;15(3):508–11. Available from: https://doi.org/10.1590/S0104-11692007000300023
13. Harvey PC, Willis EPE, Brown DJ, Byrne AL, Baldwin APA, Heard D, et al. Navigating the care of families with a child or children with autistic spectrum disorder. Journal of Intellectual Disabilities. 2023;27(4):912–26. Available from: https://dx.doi.org/10.1177/17446295221106001
14. Sandri JV de A, Pereira IA, Corrêa TGLP. Cuidado à pessoa com transtorno do espectro do autismo e sua família em pronto atendimento. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde [Internet]. 2022 Nov 11 [cited 2024 Jul 2];43(2):251–62. Available from: https://dx.doi.org/ 10.5433/1679-0367.2022v43n2p251
15. Schopf D, Stark S, Chiappetta L, Mahmoud K, Fradkin D, Mitchell AM. An alternative admission process for patients with an autism spectrum disorder and/or an intellectual disability. Learning Disability Practice. 2020;23(1):26–32. Available from: https://dx.doi.org/10.7748/ldp.2020.e2026
16. Wood EB, Halverson A, Harrison G, Rosenkranz A. Creating a Sensory-Friendly Pediatric Emergency Department. J Emerg Nurs. 2019;45(4):415–24. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.jen.2018.12.002
17. Normandin PA, Coffey KA, Benotti SA, Doherty DP. Autism Emergency Care Success: Plan, Collaborate, and Accommodate. J Emerg Nurs. 2018;44(6):662–4. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.jen.2018.07.013
18. Vaz I. Visual symbols in healthcare settings for children with learning disabilities and autism spectrum disorder. British Journal of Nursing. 2013;22(3):156–9. Available from: https://dx.doi.org/10.12968/bjon.2013.22.3.156
19. Sena Silva Barbosa MA, Mariana Leal Oliveira. O papel da enfermagem no estabelecimento da comunicação terapêutica com a criança com transtorno autista. Revista Saúde Dos Vales. 2024;5(1). Available from: https://dx.doi.org/ 10.61164/rsv.v5i1.2450
20. Leirião FE, Silva LF, Aguiar VM, Maria YR. A possível contribuição da arquitetura para o transtorno do espectro autista (TEA). Colloquium Socialis. 2023;6(1):20–32. Available from: https://dx.doi.org/10.5747/cs.2022.v6.s150
21. Muniz APMD, Rocha MESB, Araújo BAPR, Périco NA, Zanatta G, Santos LJ, et al. Integrando Práticas Psiquiátricas no Cuidado Multidisciplinar do TEA. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences. 2024;6(1):1358–73. Available from: https://dx.doi.org/10.36557/2674-8169.2024V6N1P1358-1373
22. Oliveira ACA, Morais RCM, Franzoi MAH. Percepções e desafios da equipe de enfermagem frente à hospitalização de crianças com transtornos autísticos. Revista Baiana de Enfermagem. 2019;33. Available from: https://dx.doi.org/10.18471/rbe.v33.28300
23. Liu G, Velott DL, Kong L, Dick AW, Mandell DS, Stein BD, et al. The Association of the medicaid 1915(c) home and community-based services waivers with emergency department Utilization among Youth with Autism Spectrum Disorder. J Autism Dev Disord. 2022;52(4):1587–97. Available from: https://dx.doi.org/10.1007/s10803-021-05060-2
24. Simão DAS, Moutinho LA, Silva TM, Manzo BF. Evidências sobre a assistência à criança com transtorno do espectro do autismo na atenção primária à saúde: revisão integrativa. Revista Contemporânea. 2023;3(9):14688–711. Available from: https://dx.doi.org/10.56083/RCV3N9-067