Enferm Bras. 2024;23(4):1807-1817
doi: 10.62827/eb.v23i4.4024

ARTIGO ORIGINAL

Percepções das nutrizes participantes de um programa de auxílio financeiro sobre o aleitamento materno

Mayara Águida Porfírio Moura1, Larah Maria Antunes da Silva Alelaf1, Thayná Xavier Macedo1, Daniella Farias Almeida1, Fernanda Raquel Costa Chaves1, Alan da Fonseca Soares1, Márcia Letícia Carvalho Silva1, Lays Máyrah da Silva Alelaf2

1Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina, PI, Brasil

2Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Teresina, PI, Brasil

Recebido: 19 de setembro de 2024; Aceito: 10 de outubro de 2024.

Correspondência: Larah Maria Antunes da Silva Alelaf, larah_alelaf@icloud.com

Como citar

Moura MAP, Alelaf LMAS, Macedo TX, Almeida DF, Chaves FRC, Soares AF, Silva MLC, Alelaf LMS. Percepções das nutrizes participantes de um programa de auxílio financeiro sobre o aleitamento materno. Enferm Bras. 2024;23(4):1807-1817. doi:10.62827/eb.v23i4.4024

Resumo

Introdução: O Aleitamento Materno (AM) contribui de maneira efetiva no adequado crescimento e desenvolvimento da criança e o Programa Auxílio Brasil favorece a promoção do aleitamento, ao proporcionar à mãe subsídios para seu sustento. Entretanto, a interrupção precoce do AM continua sendo um problema de saúde pública. Objetivo: analisar as percepções das nutrizes que são contempladas com os programas de auxílio financeiro governamental sobre a prática do Aleitamento Materno. Métodos: Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva, com abordagem qualitativa, realizada em uma Unidade Básica de Saúde, em Parnaíba – Piauí, com a participação de 12 nutrizes. A coleta de dados foi realizada através de uma entrevista com questões abertas. Resultados: Após a análise de conteúdo de Bardin, construíram-se três categorias: Desafios transversais do aleitamento, apesar do Programa; Conhecimento sobre os aspectos nutricionais; e Realidade das nutrizes que participam do Programa. Os desafios da amamentação mais relatados foram: a presença de dor, de lesão mamilar, de ingurgitamento mamário e problemas de produção láctea. Verificou-se, também, o discernimento das mães quanto à relação entre a boa nutrição materna e a manutenção do aleitamento. Constatou-se que as dificuldades financeiras das nutrizes também apresentam influência nesse processo. Conclusão: A realidade na qual a mãe e o bebê estão inseridos, o conhecimento sobre a nutrição adequada da mãe e os problemas mamários são fatores intervenientes do processo de amamentação.

Palavras-chave: Aleitamento materno; apoio financeiro; saúde materno-infantil.

Abstract

Perceptions of nursing mothers participating in a financial aid program regarding breastfeeding

Introduction: Breastfeeding (BF) effectively contributes to the adequate growth and development of the child and the Auxílio Brasil Program favors the promotion of breastfeeding, by providing the mother with subsidies to support herself. However, early interruption of BF remains a public health problem. Objective: to analyze the perceptions of nursing mothers who receive government financial assistance programs regarding the practice of breastfeeding. Methods: This is an exploratory and descriptive research, with a qualitative approach, carried out in a Basic Health Unit, in Parnaíba – Piauí, with the participation of 12 nursing mothers. Data collection was carried out through an interview with open questions. Results: After Bardin’s content analysis, three categories were constructed: Cross-cutting challenges of breastfeeding, despite the Program; Knowledge about nutritional aspects; and Reality of nursing mothers who participate in the Program. The most reported breastfeeding challenges were: the presence of pain, nipple injury, breast engorgement and milk production problems. The mothers’ discernment regarding the relationship between good maternal nutrition and continued breastfeeding was also verified. Furthermore, it was found that the financial difficulties of nursing mothers also influence this process. Conclusion: It was concluded that the reality in which the mother and baby are inserted, knowledge about the mother’s adequate nutrition and breast problems are intervening factors in the breastfeeding process.

Keywords: Breast feeding; financial support; maternal and child health.

Resumen

Percepciones de madres lactantes que participan en un programa de ayuda financiera sobre lactancia materna

Introducción: La lactancia materna (LM) contribuye efectivamente al adecuado crecimiento y desarrollo del niño y el Programa Auxílio Brasil favorece la promoción de la lactancia materna, proporcionando a la madre subsidios para su sustento. Sin embargo, la interrupción temprana de la LM sigue siendo un problema de salud pública. Objetivo: analizar las percepciones de madres lactantes que reciben programas de asistencia financiera del gobierno sobre la práctica de la Lactancia Materna. Métodos: Se trata de una investigación exploratoria, descriptiva, con enfoque cualitativo, realizada en una Unidad Básica de Salud, en Parnaíba – Piauí, con la participación de 12 madres lactantes. La búsqueda de datos se realizó a través de una entrevista con preguntas abiertas. Resultados: Después del análisis de contenido de Bardin, se construyeron tres categorías: Desafíos transversales de la lactancia materna, a pesar del Programa; Conocimiento sobre aspectos nutricionales; y Realidad de las madres lactantes que participan del Programa. Los desafíos de lactancia materna más reportados fueron: presencia de dolor, lesión en el pezón, congestión mamaria y problemas de producción de leche. También se verificó el discernimiento de las madres sobre la relación entre buena nutrición materna y continuidad de la lactancia materna. Además, se encontró que las dificultades económicas de las madres lactantes también influyen en este proceso. Conclusión: Se concluyó que la realidad en la que se insertan la madre y el bebé, el conocimiento sobre la adecuada nutrición de la madre y los problemas mamarios son factores intervinientes en el proceso de lactancia materna.

Palabras-clave: Lactancia materna; apoyo financiero; salud materno-infantil.

Introdução

O Aleitamento Materno (AM) contribui de maneira efetiva no adequado crescimento e desenvolvimento da criança ao fortalecer o sistema imunológico; prevenir desnutrição, doenças infecciosas e alergias; facilitar a cognição e reforçar o vínculo mãe-filho. Além disso, inclui benefícios maternos, como menor probabilidade de desenvolver câncer de mama e de ovário, proteção contra o diabetes, favorecendo a perda de peso no pós-parto e propiciando maior rapidez na involução uterina [1].

A recomendação do Aleitamento Materno Exclusivo (AME) nos primeiros seis meses de vida da criança e a sua manutenção por dois anos ou mais é consensual. Apesar da melhora significativa dos indicadores de AM no Brasil, nas últimas décadas, a interrupção precoce do AME continua sendo um problema de saúde pública [2].

Para que a mulher possa amamentar e obter resultados satisfatórios, ela precisa de recursos financeiros para ter uma alimentação adequada com nutrientes suficientes para ela e o filho, o que uma parte significativa da população brasileira não possui. Nesse contexto, em 29 de dezembro de 2021, foi sancionada a lei n° 14.284, que institui o Auxílio Brasil, programa de transferência de renda do Governo Federal, e o Programa Alimenta Brasil, que além de beneficiar outras situações, também auxilia na promoção do AM, por proporcionar a mãe subsídios para seu sustento [3].

Considerando a importância da amamentação para o crescimento e desenvolvimento saudável da criança nos seus primeiros meses de vida e os benefícios do Programa Auxílio Brasil para essa prática, justifica-se a realização de uma pesquisa que permita entender como a mulher vivencia esse momento em paralelo com o recebimento dos benefícios do programa e como ele pode auxiliar na garantia de suprimentos.

Analisou-se as percepções das nutrizes que são contempladas com os programas de auxílio financeiro governamental sobre a sua prática de aleitamento materno.

Métodos

Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva, com abordagem qualitativa, o campo de estudo foi uma Unidade Básica de Saúde (UBS) na cidade de Parnaíba. Durante o período da coleta de dados, a unidade escolhida apresentou uma alta demanda de nutrizes cadastradas no programa de auxílio financeiro governamental.

A população de estudo foi constituída de 12 (doze) participantes que consentiram em participar da pesquisa e 1 (uma) que se recusou. Todas as participantes do estudo foram selecionadas seguindo os critérios de inclusão, sendo eles, serem nutrizes que amamentam, exclusivamente ou não, crianças de até dois anos de idade e que recebem benefício do Programa Auxílio Brasil, sem restrição de idade ou de condição socioeconômica e que compareceram à tal UBS para consultas das crianças no serviço de puericultura ou para administração das vacinas, durante os meses de novembro de 2022 a fevereiro de 2023. Foram excluídas as mulheres que se recusaram a participar da pesquisa.

Foram respeitados os aspectos éticos e legais dispostos na resolução n° 466/12 do Conselho Nacional de Saúde que regulamenta as pesquisas com seres humanos. O estudo foi autorizado pela Secretaria de Saúde do Município de Parnaíba e em seguida aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí-UFPI, sob o Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAAE) n° 44508721.9.0000.5214.

As participantes foram orientadas quanto aos objetivos da pesquisa e sua autorização prévia se deu por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), podendo se retirar da pesquisa sem que haja prejuízo para a mesma. O anonimato da identificação de cada participante foi realizado através de números em seus formulários.

A coleta de dados ocorreu presencialmente, de forma individualizada, garantindo a privacidade e conforto das participantes, assim que se colocaram à disposição para participar do estudo. A entrevista foi gravada em aparelho tecnologicamente adequado e posteriormente transcrita na íntegra, para posterior análise de conteúdo. Foi adotado um roteiro de entrevista semiestruturado, com duração média de 20 a 30 minutos, dividido em duas partes: categorização das nutrizes e questões abertas sobre os benefícios garantidos pelo Programa Auxílio Brasil dentro do processo de aleitamento.

A análise das entrevistas foi feita de acordo com a metodologia de Análise de Conteúdo, que Bardin [4] define como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

Resultados e Discussão

Participaram do estudo 12 nutrizes que residiam no bairro Alto Santa Maria, em Parnaíba, na faixa etária de 19 a 35 anos. A maioria das nutrizes vivia com o companheiro, sendo que 6 (50%) mantinham uma união estável e 3 (25 %) eram casadas. O número de filhos variou entre 1 e 6. Quanto ao grau de escolaridade, houve predominância de mulheres que concluíram apenas o ensino fundamental; e 11 (91,7%) não realizavam atividade remunerada, com renda familiar variando entre 400 a 1.200 reais.

Os resultados apresentados descrevem a diversidade das percepções das genitoras quanto ao processo do AM. Por meio da análise de Bardin (2016), foram construídas três categorias: Desafios transversais do aleitamento, apesar do Programa; Conhecimento sobre os aspectos nutricionais; e Realidade das nutrizes que participam do Programa.

Desafios transversais do aleitamento, apesar do Programa:

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), todas as crianças devem receber aleitamento materno e de forma exclusiva até que complete, no mínimo, seis meses de idade, acrescentando a estratégia da alimentação complementar até os dois anos de idade para o melhor desenvolvimento da criança [5].

Entretanto, níveis baixos de conhecimento sobre o AM são desfavoráveis para a amamentação e produzem atitudes menos positivas entre as mulheres, como o desmame precoce [6]. Uma análise estatística realizada em uma província em Zimbabué apresentou que 97% das mães conheciam a vantagem geral do AM, mas a maioria desconhecia informações sobre a técnica da amamentação. Além disso, um estudo realizado no Brasil demonstrou que o número de consultas de puericultura, quando 8 ou mais, teve significância na relação com maior prevalência de aleitamento materno predominante [7].

Nesse contexto, apesar da recomendação e dos benefícios do AM, as dificuldades no início da amamentação são comuns e representam um risco para o desmame precoce. A presença de dor ao amamentar, de lesão mamilar e de ingurgitamento mamário, além de problemas relacionados à produção láctea, ao posicionamento e à pega da criança na mama estão entre os fatores que interferem na continuidade da amamentação [8]. Essas condições podem ser observadas nos seguintes discursos:

Nunca senti dores, mas a médica passou fórmula, porque eu estava tendo pouco leite.”

“Eu senti umas dores no começo, acho que, porque passei um tempo sem ter menino, não sei. Meu peito ficou ferido, no bico, a neném puxava demais. Mas foi rápido.”

“Meu peito “empedrou” no primeiro mês, uma dor horrível, fui parar no (Hospital) Dirceu. Mas depois de um tempo, no outro mês já, já estava dando leite sem dor.”

São inúmeros os fatores que levam as nutrizes a desmamarem precocemente, contribuindo com a baixa prevalência do AME em nosso meio. Entre eles, encontram-se algumas dificuldades enfrentadas pelas nutrizes durante o aleitamento materno, que se não forem precocemente identificadas e tratadas, podem ser importantes causas de interrupção da amamentação [9].

Quanto aos fatores que influenciam o desmame precoce, a crença de que o leite materno seria fraco ou insuficiente para o bebê ganhou destaque nos depoimentos. Frequentemente, as mulheres associam o choro da criança à baixa produção de leite e a não saciedade da criança [6]. Diante disso, a nutriz é levada à complementação alimentar com fórmulas infantis, chás e outros alimentos, ocasionando problemas como: sucção ineficiente, ingurgitamento mamário, lesão mamilar e no final o desmame precoce [10].

A introdução de outros tipos de alimentos antes dos seis meses pode influenciar em prejuízos nutricionais na saúde da criança, tais como: anemia, obesidade, desnutrição, entre outros. Nessa fase, o leite materno supre todas as necessidades nutricionais da criança e a introdução ou substituição do leite materno pode causar danos no organismo do bebê, como na interferência de absorção de ferro. Assim, as crianças estão mais suscetíveis a desenvolver patologias e comorbidades, decorrentes da interrupção do AME [11].

A literatura também traz que uma técnica de amamentação inadequada na pega incorreta e/ou no posicionamento do lactente no colo da mãe acaba desencadeando dificuldades em cascata, pois a postura do binômio mãe-bebê afeta a sucção do lactente o que pode resultar em fissura mamilar e dor [7]. Assim, quando a nutriz sente dor, estresse ou medo, seu organismo não libera ocitocina, hormônio fundamental para a ejeção do leite. Por este motivo, é importante o acompanhamento no pré-natal e puerpério, para identificação precoce e prevenção desses agravos [9].

São muitas as situações em que o aleitamento materno pode não ocorrer de maneira adequada. As crenças e mitos, os problemas relacionados à mama, escolaridade, a dificuldade da pega correta pelo bebê, assim como fatores psicológicos que dificultam a ejeção do leite, são bastante comuns. É, justamente, diante desses casos, que as nutrizes se sentem encorajadas a iniciarem precocemente a alimentação complementar [9].

Diante dessa problemática, os profissionais de saúde têm papel fundamental no incentivo e na orientação do AME, desde a gestação até o pós-parto [6]. Portanto, é necessário que os profissionais atuantes na atenção primária e os especialistas, unam as informações e proporcionem às gestantes e às puérperas apoio e treinamento a respeito da prática da amamentação, desenvolvendo assim a vontade de amamentar e conhecimento quanto a necessidade desse ato [12].

Faz-se importante a educação pré e pós-natal para a amamentação bem-sucedida ao proporcionar autonomia e autoeficácia materna diante dos desafios que são susceptíveis durante o AM, favorecendo a habilidade e a confiança da mãe na capacidade de amamentar.

Conhecimento sobre os aspectos nutricionais:

O discernimento das nutrizes quanto ao AM influência de forma direta na atitude das mesmas quanto à disposição para amamentar [13]. Nesse estudo, foi possível verificar um conhecimento considerável sobre a relação proporcional entre a boa nutrição materna e a manutenção do aleitamento, conforme identificados nas falas a seguir:

Não, lá em casa só como um arroz branco, porque às vezes não tem dinheiro para comprar feijão, eu como mais um ovo frito, porque eu não tenho dinheiro para comprar uma carne para cozinhar ou para tomar um suco. Eu só como “frita”. E coisa frita não dá leite. E ele mama, só que não enche a barriga dele. Ele chora. Aí eu compro Nestogeno 1 que enche a barriga dele. Porque só o peito não enche, porque eu só como “frita”. Eu não tomo um caldo de feijão, que não tem. Eu não tomo suco, que não tem. Compro 5 latas de Nestogeno por mês.”

“É só tomar bastante suco e água, eu me alimento bem e dá tudo certo.”

“Não, ele precisa da fórmula ainda. Acho que eu sempre tive pouco leite, porque eu não comia bem, comia pouco e acho que a comida não era muito saudável. Eu vim comer melhor faz pouco tempo, acho que do ano passado para cá.”

O estado nutricional da nutriz é uma variável importante dentro do processo de amamentação. A restrição do consumo de alimentos ricos em energia e proteína pode vir a intervir de forma negativa no seu estado nutricional, podendo interferir no AM [5].

Uma alimentação regular no pós-parto auxilia na produção do leite materno, evita o enfraquecimento da mãe durante a amamentação e beneficia o bebê com um alimento mais saudável [14].

Para a produção do leite, é necessária ingestão de calorias e de líquidos além do habitual. Por isso, durante o período de amamentação, costuma haver aumento do apetite e da sede da mulher e também algumas mudanças nas preferências alimentares. Acredita-se que um consumo extra de 500 calorias por dia seja o suficiente, pois a maioria das mulheres armazena, durante a gravidez, de 2 kg a 4 kg para serem usados na lactação [15].

A alimentação ideal (variada e equilibrada) de uma nutriz pode não ser acessível para muitas mulheres de famílias com baixa renda, o que pode desestimulá-las a amamentar seus filhos. Por isso, a orientação alimentar de cada nutriz deve ser feita levando-se em consideração, além das preferências e dos hábitos culturais, a acessibilidade aos alimentos. Além disso, é importante lembrar que as mulheres produzem leite de boa qualidade mesmo consumindo dietas abaixo da adequada às nutrizes [15].

Sabe-se a importância do papel do profissional de saúde na orientação sobre alimentação que motivem as condutas positivas e problematizem aquelas que possam ser danosas à saúde das nutrizes. Diante disso, pode-se destacar a importância dos profissionais de saúde em investigar como a nutriz está se alimentando, de fato e a partir desse conhecimento trabalhar as melhores escolhas alimentares a serem feitas [16].

O apoio dos serviços e profissionais de saúde é fundamental para que a amamentação tenha sucesso. Durante as ações educativas dirigidas à mulher e à criança, deve-se enfatizar que o leite materno proporciona inúmeros benefícios nutricionais, imunológicos, econômicos e emocionais para mãe e para criança [17].

Realidade das nutrizes que participam do Programa:

O ato de amamentar pode ocorrer de forma natural ou pode envolver situações que geram ansiedade na nutriz, exige medidas que possam contornar os problemas e, consequentemente, proporcionar prazer e bem-estar tanto para a mãe como para a criança no momento da amamentação [18].

As questões financeiras são elementos importantes, e interferem na percepção de qualidade de vida a que as mães apresentam. A possibilidade de aquisição de itens, que a mulher considera essencial para a sua vida é que leva esta mulher a uma avaliação satisfatória de sua qualidade de vida, em caso contrário, pode provocar a insatisfação [19].

Diante dos relatos, é possível inferir que a realidade das nutrizes também apresenta influência sobre esse processo que vivenciam. As dificuldades financeiras mencionadas pelas mulheres foram desde garantir sua moradia, até proporcionar uma alimentação adequada para os componentes da casa, conforme observado nas falas:

“Eu estou morando de aluguel nessa rua aqui, eu estou pagando energia, estou pagando água e só o aluguel é trezentos reais. Não sobra nem pra comer direito. E tenho que comprar o leite do menino.”

“Ele consegue pagar a comida, ajuda na água e na luz.”

“Ele consegue pagar o leite dele, que ele tem intolerância à lactose, que é caro. Faço as “compra” “pro” outro(filho) também se alimentar. Quando sobra, dá para ajudar na água e na luz também.”

“É mais pra comida e, quando sobra, ajuda na água e luz também.

É possível verificar que a baixa renda familiar foi um fator associado à interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo. Achado preocupante, na medida em que crianças de famílias de baixa renda são mais vulneráveis à morbimortalidade infantil, e a introdução precoce de outros alimentos pode potencializar este risco [20,21].

No Brasil, um estudo sobre a evolução do padrão de AME afirma que mães com melhor nível socioeconômico amamentam mais nos primeiros seis meses; a partir desse momento, esta situação se inverte, passando as mães de baixa renda a amamentarem mais. Este fato pode ser explicado, talvez, pela falta de recursos em complementar o leite materno com outros leites ou alimentos [22].

Portanto, inúmeros são os fatores que exercem influência na prática do aleitamento materno; sendo assim, é necessário fortalecer o incentivo à prática de aleitamento materno exclusivo, por meio de programas e ações que visem à promoção da saúde da criança e prevenção de agravos, proporcionando benefícios tanto para a criança quanto para as mães [23].

Ainda, é destacada a necessidade dos órgãos governamentais para a formulação e implantação de políticas que envolvam uma atenção voltada a um maior número de emprego, moradia, segurança, educação, transporte público e à assistência à saúde, por serem elementos fundamentais para a população no que diz respeito ao alcance de uma boa qualidade de vida [24].

Conclusão

O objetivo deste estudo foi analisar as percepções das nutrizes que são contempladas com os programas de auxílio financeiro governamental sobre a sua prática de aleitamento materno. Com a pesquisa, foi possível identificar que a realidade na qual a mãe e o bebê estão inseridos, o conhecimento sobre a nutrição adequada da mãe para o AM e os problemas mamários relacionados ao aleitamento são fatores intervenientes do processo de amamentação.

A partir dessas considerações, são notórias as dificuldades tanto para iniciar o aleitamento, quanto para levá-lo adiante. Assim, é destacada a relevância do profissional de enfermagem nessa realidade, por proporcionar às nutrizes orientações adequadas e sensibilização sobre o valor da amamentação, levando em consideração os aspectos sociais, econômicos, psicológicos e culturais da nutriz, a fim de fornecer às mães informações necessárias para que a amamentação não seja interrompida precocemente.

Conflitos de interesse

Os autores declaram não ter conflitos de interesse de qualquer natureza.

Fontes de financiamento

Financiamento próprio.

Contribuição dos autores

Concepção e desenho da pesquisa: Moura MAP; Coleta de dados: Alelaf LMAS; Análise e interpretação dos dados: Alelaf LMAS, Macedo TX, Almeida DF, Chaves FRC; Análise estatística: Soares AF, Silva MLC, Alelaf LMS; Redação do manuscrito: Alelaf LMAS, Macedo TX, Almeida DF, Chaves FRC, Soares AF, Silva MLC, Alelaf LMS; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Moura MAP.

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