ARTIGO ORIGINAL
Percepção de educadores da rede pública e privada de Juazeiro-BA sobre ações educativas de promoção à saúde
Joana Aparecida Silva da Rocha Braga1, Luciana Patrícia Brito Lopes2, Simone Luciana Triquez3, Marhla Laiane de Brito Assunção4, José Igor Rodrigues dos Santos1, Rogério Carvalho de Figueredo5, Francis Natally de Almeida Anacleto6, Ferdinando Oliveira Carvalho1
1Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Petrolina, PE, Brasil
2Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Associado (UPE /UEPB), Recife, PE, Brasil
3Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC), Joaçaba, SC, Brasil
4Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano, Recife, PE, Brasil
5Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, GO, Brasil
6Instituto de Educação; Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, RS, Brasil
Recebido em: 26 de abril de 2024; Aceito em: 6 de junho de 2024.
Correspondência: Luciana Patrícia Brito Lopes, lucipatilopes@gmail.com
Como citar
Braga JASR, Lopes LPB, Triquez SL, Assunção MLB, Santos JIR, Figueredo RC, Anacleto FNA, Carvalho FO. Percepção de educadores da rede pública e privada de Juazeiro-BA sobre ações educativas de promoção à saúde. Enferm Bras. 2024;23(2):1570-1579. doi:10.62827/eb.v23i2.4006
Objetivo: Descrever a percepção de professores da rede pública e privada de Juazeiro-BA acerca da importância das ações de educação em saúde na implementação de ações educativas voltadas à promoção da saúde. Métodos: A pesquisa é quanti-qualitativa. A amostra é composta por 33 professores de duas escolas da Educação Básica, sendo uma pública e outra privada do município de Juazeiro, estado da Bahia. O critério de inclusão foi lecionar na Educação Básica e de exclusão aqueles que não assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Para coleta de dados utilizou-se um questionário composto por questões dicotômicas e dissertativas. As informações oriundas das questões dicotômicas foram convertidas em frequência. Já as informações qualitativas foram tratadas pela análise de conteúdo através do software MAXqda 2010. Resultados: Os professores expressam a necessidade do processo de educação em saúde como necessário no ambiente escolar, entretanto não possuem capacitação e relatam não participarem ou promoverem espaços de promoção à saúde. Conclusão: É preciso maior integralidade entre saúde e educação para que assim possam provocar mudanças significativas quanto à formação de jovens e adultos saudáveis e conhecedores de que saúde perpassa apenas a ausência de doença.
Palavras-chave: Serviços de saúde escolar; enfermagem em saúde; comunitária; professores escolares; atenção primária à saúde.
Perception of educators of the plublic and private network of Juazeiro-BA on educational actions of health promotion
Objective: To describe the perception of teachers from public and private schools in Juazeiro-BA regarding the importance of health education actions in the implementation of educational actions aimed at promoting health. Methods: The research is quantitative-qualitative. The sample is made up of 33 teachers from two Basic Education schools, one public and the other private in the municipality of Juazeiro, state of Bahia. The inclusion criterion was teaching in Basic Education and excluding those who did not sign the Free and Informed Consent Form (TCLE). To collect data, a questionnaire composed of dichotomous and essay questions was used. The information from the dichotomous questions was converted into frequency. Qualitative information was treated by content analysis using the MAXqda 2010 software. Results: Teachers express the need for the health education process as necessary in the school environment, however they do not have training and report not participating in or promoting health promotion spaces. Conclusion: Greater integration between health and education is needed so that they can bring about significant changes in the formation of healthy young people and adults who know that health only involves the absence of disease.
Keywords: School health dervices; community health nursing; school teachers; primary health care.
Percepción de los educadores de la red pública y privada de Juazeiro-BA sobre acciones educativas de promoción de la salud
Objetivo: Describir la percepción de profesores de escuelas públicas y privadas de Juazeiro-BA sobre la importancia de las acciones de educación en salud en la implementación de acciones educativas orientadas a la promoción de la salud. Método: La investigación es cuantitativa-cualitativa. La muestra está compuesta por 33 docentes de dos escuelas de Educación Básica, una pública y otra privada del municipio de Juazeiro, estado de Bahía. El criterio de inclusión fue la docencia en Educación Básica y excluir a quienes no firmaron el Formulario de Consentimiento Libre e Informado (TCLE). Para la recolección de datos se utilizó un cuestionario compuesto por preguntas dicotómicas y de ensayo. La información de las preguntas dicotómicas se convirtió en frecuencia. La información cualitativa fue tratada mediante análisis de contenido utilizando el software MAXqda 2010. Resultados: Los docentes manifiestan la necesidad del proceso de educación en salud como necesario en el ámbito escolar, sin embargo no cuentan con capacitación y reportan no participar ni promover espacios de promoción de la salud. Conclusión: Se necesita una mayor integración entre salud y educación para que puedan propiciar cambios significativos en la formación de jóvenes y adultos sanos que sepan que la salud sólo implica ausencia de enfermedad.
Palabras-clave: Servicios de salud escolar; enfermería en salud comunitaria; maestros atención primaria de salud.
A escola é ambiente capaz de promover nas pessoas experiências e aprendizagens significativas que poderão influenciar nas mudanças de estilo de vida. Para estimular essas atitudes são necessárias estratégias de formação para o corpo docente, de ações formativas direcionadas aos alunos e à comunidade em geral ao longo da vida [1].
Frente as necessidades de saúde identificadas, a Estratégia Saúde da Família (ESF) deve se articular com toda a rede de serviços de saúde, com o setor Educação e com outros equipamentos existentes na comunidade, constituindo-se assim um meio de interação entre escola e demais serviços de saúde [4]. Essas ações de educação em saúde são executadas na atualidade pelo Programa Saúde na Escola (PSE) que foi instituído pelo Decreto Presidencial nº 6.286, de 5 de dezembro de 2007.
Além do conhecimento dos temas de saúde, o profissional de educação necessita de preparo em ações educativas voltadas à promoção e prevenção de saúde, instigando a participação e o interesse de adolescentes e jovens quanto aos hábitos saudáveis e qualidade de vida [1]. É válido ressaltar que para promover saúde requer não só embasamento teórico como também domínio prático, tanto por parte dos professores como também dos profissionais de saúde.
Diante disso, torna-se necessária a discussão sobre a inclusão do profissional de saúde, tal como o enfermeiro, no ambiente escolar, de forma contínua, visando auxiliar e articular junto ao PSE as demandas de saúde reais no ambiente escolar e comunidade em que estão inseridos. Há necessidade de integrar às escolas profissionais de saúde e comunidade, no intuito de formar cidadãos com atitudes saudáveis na busca de uma melhor qualidade de vida.
Descreveu-se a percepção de professores da rede pública e privada de Juazeiro-BA acerca da importância das ações de educação em saúde e a implementação de ações educativas voltadas à promoção da saúde.
Este artigo é oriundo da pesquisa de conclusão de curso intitulada Caracterização das Ações de Educação em Saúde no Contexto Escolar: Contribuição e perspectiva do Enfermeiro [9]. A pesquisa de campo foi do tipo exploratória e descritiva de características quali-quantitativas, realizada em duas escolas de Ensino Básico, sendo uma de natureza pública e outra privada, ambas localizadas no município de Juazeiro, estado da Bahia.
Participaram da pesquisa trinta e três educadores (professores, coordenadores, diretores e supervisores), sendo dezessete educadores da escola pública e dezesseis de escola particular do município de Juazeiro, Estado da Bahia. O método adotado para a seleção dos colaboradores da pesquisa foi o não probabilístico por conveniência, considerando o critério de acessibilidade. A seleção das escolas também se deu por meio desse método, tendo como critério a disposição e anuência da direção das escolas com a pesquisa e a oferta de nível de Ensino Fundamental e Médio.
Adotaram-se como critérios de inclusão: a) os educadores apresentarem habilitação em Licenciatura e/ou Pedagogia; b) atuarem há, pelo menos, seis meses na instituição de ensino, seja a pública e/ou privada; e c) todos terem assinado o Termo de Consentimento de Livre e Esclarecido (TCLE). Como critérios de exclusão: a) educadores que estiveram afastados por algum motivo como férias, licença ou ausente no período de realização das entrevistas; e b) não terem assinado o TCLE.
As informações e dados foram coletados nas instituições escolares em horário de funcionamento, de acordo com a disponibilidade de cada professor, no segundo período letivo, ou seja, de agosto a novembro 2017, mediante a utilização de um questionário semiestruturado com quinze questões objetivas e outras abertas/dissertativas que versavam sobre: a) promoção e prevenção de saúde; b) a participação em capacitações voltadas para educação em saúde; e c) as dificuldades encontradas no desenvolvimento dessas atividades no contexto escolar. Ressalta-se que o questionário foi adaptado de Figueredo [7].
O material empírico de natureza quantitativa foi tratado e analisado mediante a sistematização das questões objetivas e com recurso ao software SPSS, versão 21, para refletir a natureza dos dados quantitativos por meio da estatística descritiva. O material de natureza qualitativa foi analisado mediante a sistematização e síntese das questões abertas, que a posterior foram analisadas à luz da técnica de análise de conteúdo [8] e assistida pelo software MAXqda 2010.
Por se tratar de pesquisa envolvendo seres humanos e acatando os preceitos éticos e legais contidos na resolução nº 196/196 do Conselho Nacional de Saúde, o presente estudo foi encaminhado ao Comitê de Ética e Deontologia em Pesquisas da Universidade Federal do Vale do São Francisco, recebendo parecer favorável por meio do protocolo nº 6149.2.616.000.0051-96, seguindo os princípios do Conselho Nacional de Saúde, que incorpora os princípios da bioética do indivíduo e coletividade.
Participaram da pesquisa 33 educadores. Os resultados serão apresentados da seguinte forma: perfil dos entrevistados e três categorizações a partir da análise de conteúdo: “promoção da saúde no contexto escolar”, “formação para atuação”
Os dados qualitativos foram categorizados em: “promoção da saúde no contexto escolar” e “formação para atuação” e analisados minuciosamente de modo que houvesse uma melhor compreensão dos resultados. Já os resultados quantitativos foram descritos em frequência, fundamentados por meio de referenciais teóricos para que assim pudesse elucidar melhor os resultados.
Perfil dos educadores
Os pesquisados em sua maioria são do sexo feminino com formação na área de humanas, atuante no Ensino Fundamental e Médio, possuem especialização e trabalham nas instituições há mais de 10 anos, conforme Tabela 1:
Tabela 1- Perfil dos educadores de uma escola Privada e Pública do município de Juazeiro, BA, Brasil, 2017
Perfil Caracterização |
Escola Privada |
Escola Pública |
Total |
|||
Sexo |
n° |
% |
n° |
% |
n° |
% |
Feminino |
7 |
21,21% |
11 |
33,33% |
18 |
54,55% |
Masculino |
9 |
27,27% |
6 |
18,18% |
15 |
45,45% |
Área de ensino |
||||||
Ciências Biológicas |
5 |
15,15% |
3 |
9,09% |
8 |
24,24% |
Exatas |
4 |
12,12% |
5 |
15,15% |
9 |
27,27% |
Humanas |
7 |
21,21% |
9 |
27,27% |
16 |
48,48% |
Educador de: |
||||||
Fundamental |
2 |
6,06% |
5 |
15,15% |
7 |
21,21% |
Fundamental e EJA |
1 |
3,03% |
2 |
6,06% |
3 |
9,09% |
Fundamental e Médio |
9 |
27,27% |
8 |
24,24% |
17 |
51,52% |
Médio |
4 |
12,12% |
0 |
0,00% |
4 |
12,12% |
Médio e EJA |
0 |
0,00% |
2 |
6,06% |
2 |
6,06% |
Formação |
||||||
Especialização |
5 |
15,15% |
11 |
33,33% |
16 |
48,48% |
Graduação |
9 |
27,27% |
2 |
6,06% |
11 |
33,33% |
Mestrado |
2 |
6,06% |
4 |
12,12% |
6 |
18,18% |
Tempo de formação |
||||||
Menos de 1 ano |
2 |
6,06% |
1 |
3,03% |
3 |
9,09% |
De 1 a 5 anos |
3 |
9,09% |
2 |
6,06% |
5 |
15,15% |
De 6 a 10 anos |
3 |
9,09% |
1 |
3,03% |
4 |
12,12% |
Mais de 10 anos |
8 |
24,24% |
13 |
39,39% |
21 |
63,64% |
Total Geral |
16 |
48,48% |
17 |
51,52% |
33 |
100,00% |
Observa-se também que grande parte dos pesquisados apresentam especialização, contudo não se pode afirmar que essa formação contribui para a promoção e educação em saúde, entretanto sabe-se que quanto maior o nível de escolaridade maior será seu domínio técnico-científico, o que aumenta sua percepção e responsabilidade como indivíduo e sociedade.
Promoção da saúde no contexto escolar
Para os educadores, a concepção de promoção da saúde está relacionada à qualidade de vida, conscientização sobre o cuidado com a saúde, esclarecimento quanto às doenças e acessibilidade a um sistema de saúde de qualidade:
Atividades voltadas para ou que promovam bem-estar do público-alvo e consequentemente, melhoram de qualidade de vida e saúde”. (Professor 3-Ecola Pública)
“Possibilidade de capacitar as pessoas para viver uma vida saudável em todos os aspectos”. (Professor 7 – Escola Pública)
“Plano e programa voltados ao ensinamento da população a uma melhor conduta da qualidade de vida”. (Professor 1 – Escola Privada)
É possível detectar que os professores entendem o conceito de promoção à saúde e que concordam que esse processo resulta em indivíduos mais saudáveis, entretanto ainda há educadores que referenciam a promoção à saúde numa perspectiva medicalocêntrica do cuidar e como uma responsabilidade do Estado, como se pode perceber a seguir:
“O governo oferecer a prevenção das doenças, proporcionando atendimento de qualidade a população”. (Professor 5-Escola Pública)
Quando questionados sobre a percepção de educação em saúde, os termos mais utilizados foram: palestra, levar informação, conscientizar, educar, orientação. Isso ratifica que o ambiente escolar é o local propício para o processo de educação em saúde. Essa perspectiva condiz com os objetivos do Programa Saúde na Escola (PSE) que tem o intuito de promover ações de cunho preventivo e na articulação e promoção de ações voltadas à saúde de jovens adolescentes [9-10].
A perspectiva dos educadores corrobora Faial et al., 2016 e entende-se que a disseminação de conhecimentos e informações para adolescentes e jovens é necessária no processo do cuidado com a saúde e a propagação desse conhecimento no meio escolar e familiar.
Para os entrevistados, a educação em saúde deve ter o foco em ações preventivas, conscientização sobre qualidade de vida. Para eles é importante a participação da família e a oferta de palestras educativas, havendo a necessidade de estimular a prática de atividade física, alimentação saudável:
“Estimular a participação da família, promovendo momentos na área de saúde”. (Professor 6 - Escola Pública)
“São atividades físicas visando estimular as práticas e evitando doenças futuras”. (Professor 8 - Escola Privada)
“Atividade em saúde que estimula a prevenção de doenças e qualidade de vida”. (Professor 1-Escola Privada)
“Toda informação para promover uma qualidade de vida melhor, alimentação, hábitos de higiene e importância da atividade física”. (Professor 10- Escola Pública)
Entretanto quando questionados sobre a participação em atividades educativas em saúde no ambiente escolar, 57,6% (19) dos educadores afirmam não terem participado.
Considera-se que há uma dificuldade de integração entre saúde e educação, embora haja políticas públicas voltadas ao âmbito de saúde na escola, ainda se observa uma certa resistência na interação entre os profissionais de educação e saúde [11].
Sendo assim, há um desafio no que se refere à integração dos profissionais de saúde e educação, já que suas rotinas são distintas, de modo que impedem uma melhor integração entre eles. No entanto, essa integração tende a inovar e reestruturar as responsabilidades voltadas para ações de promoção em saúde que venham fortalecer as atividades dentro do contexto escolar e na comunidade na qual estão inseridos. Dessa forma, transformando a realidade de saúde daquela população [12].
Formação para atuação
Quando se discute o processo de educação em saúde, é necessário atentar-se para o processo de formação dos educadores. Em análise dos dados foi possível perceber que a maioria dos educadores, 57,6% (19) não realizam educação em saúde nas escolas. Dos participantes que não realizam essas ações, 63,1% (12) atribuiram à falta de capacitação, e 31,6% (06) descreveram a falta de materiais.
Dos que afirmaram desenvolver algumas atividades de educação em saúde nas suas aulas, enfatizaram temáticas como: sexualidade, prática de atividade física, alimentação saudável, prevenção de doenças e os diversos cuidados com saúde, corroborando as respostas a seguir:
“Na verdade, trabalho pouco, mas sempre trago textos que abordem assuntos como gravidez na adolescência, DST, AIDS, obesidade e etc.” (Professor 1 –Escola Pública)
“Orientando meus alunos a praticarem esportes, alimentar-se bem, ou seja, comer comidas saudáveis”. (Professor 7 –Escola Pública)
“Em sala no momento das aulas esclarecendo em vários aspectos como alimentação adequada, esclarecimento com prevenção de doenças”. (Professor 16- Escola Pública)
“Aula sobre sexualidade, DST, drogas e doenças”. (Professor 10-Escola Privada)
Quando questionados se já realizaram algum tipo de capacitação sobre saúde na escola é possível perceber que 91% destes nunca realizaram nenhuma atualização sobre saúde do escolar. Apenas 8% dos entrevistados relataram já ter participado de alguma atividade dessa natureza, o que possivelmente está atrelado à formação base desses participantes que é formação na área de saúde e Ciências Biológicas. Segundo eles:
“Sou da saúde do Estado de Pernambuco, por isso tenho um pouco de conhecimento “. (Professor 1 – Escola Pública)
“Sou agente de saúde da rede municipal- participei de capacitação sobre Aedes aegypti, saúde bucal”. (Professor 10- Escola Pública)
A escola deve direcionar estratégias no que diz respeito à capacitação dos profissionais de educação, pois o incentivo ao conhecimento trará melhoria na qualidade das ações desenvolvidas na escola, expandindo o interesse e participação desses professores a trabalharem em conjunto com os demais profissionais, dentre eles, médicos, enfermeiros, odontólogos, nutricionistas, educadores físicos e etc., para que juntos possam construir e capacitar os alunos para o conhecimento no que diz respeito ao cuidado com a saúde e como isso pode influenciar na sua qualidade de vida [13].
É indiscutível o contato que o docente tem com o aluno no ambiente escolar. Esse contato, por sua vez, possibilita identificar alterações de saúde nesses escolares, bem como estar atento às necessidades de promoção de saúde. Quando foram questionados sobre os problemas de saúde identificados nesses alunos na escola as respostas foram:
“Gravidez na adolescência. Álcool e drogas”. (Professor 1 – Escola Pública)
“Obesidade, gripe com frequência (a mesma pessoa)”. (Professor 9 – Escola Pública)
“Desnutrição, alguns casos de obesidade, problemas de vista, higiene bucal”. (Professor 10- Escola Pública)
“Alimentação que não é balanceada para as crianças e adolescentes”. (Professor 7-Escola privada)
As temáticas descritas enfatizam alimentação, obesidade, gravidez, uso abusivo de álcool, são discussões necessárias entre os jovens e adolescentes, o que retrata a falta de ações voltadas em educação em saúde, na importância da alimentação saudável, na prática de atividades físicas e as consequências do sedentarismo.
Essa realidade poderia ser modificada, pois o desenvolvimento de atividades em educação em saúde semeia conhecimentos relevantes na formação de adolescentes e jovens nas escolas, propiciando formação e autoconhecimento, incentivando-os na busca e disseminação de melhoria na qualidade de vida, com mudanças significativas dos hábitos alimentares, prática de atividades físicas e a compreensão quanto à importância nessas ações para um bem-estar físico e mental [14].
O ambiente escolar é propício para implementar ações voltadas para melhoria na qualidade de vida, desde que os educadores passem a perceber a importância do desenvolvimento dessas atividades de forma crítica e reflexiva, com o objetivo de inserir a promoção e prevenção de saúde na escola e comunidade, no intuito de colaborar na formação de pessoas mais comprometidas com a sua saúde, despertando nos alunos a conscientização e o aprendizado do autocuidado [15].
Diante dessa reflexão, ao ser questionado quanto à introdução de tema de educação em saúde no dia a dia da escola, todos os professores relataram ser importante. Isso reflete que embora com as incertezas e dificuldades, esses profissionais acreditam que trabalhar saúde na escola tem fundamental importância no desenvolvimento do aprendizado desses jovens.
Percebeu-se a falta de capacitação em saúde no ambiente escolar, sendo verificado que os educadores não estão preparados para uma abordagem de saúde integrativa e assim retratam a educação e a saúde na escola sob o conceito biomédico.
Para que se alcance sucesso na implementação de ações de educação em saúde previstas pelo PSE, faz-se necessária a formação continuada dos profissionais das duas áreas. Dessa forma, a prática da intersetorialidade no ambiente escolar conseguiu, de forma singular, contribuir para a construção de valores pessoais, crenças e conceitos.
Assim, destaca-se neste trabalho a importância da interação entre os setores da saúde e educação, trabalhando um contexto interdisciplinar e em conformidade com o que as políticas voltadas à educação em saúde nas escolas priorizam. Recomenda-se outros estudos, a fim de destacar ainda mais essa relação dos profissionais de saúde com os educadores, no intuito de fortalecer ações voltadas para essa prática escolar e assim eliminar com a prática individualista e empírica das suas ações.
Conflitos de interesse
Os autores declaram não haver conflitos de interesse de qualquer natureza.
Fontes de financiamento
Financiamento próprio.
Contribuição dos autores.
Concepção e desenho da pesquisa: ROCHA JASB; ANACLETO FNA.; CARVALHO FO. Coleta de dados: ROCHA JASB; ANACLETO FNA. Análise e interpretação dos dados: ANACLETO FNA.; CARVALHO FO. Análise estatística: ANACLETO FNA.; CARVALHO FO. Redação do manuscrito: ROCHA JASB.; LOPES LPB; ASSUNÇÃO MLB. Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: TRIQUEZ SL; SANTOS JIR; FIGUEREDO RC.
Referências
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