Enferm Bras. 2024;23(2):1580-1590
doi:10.62827/eb.v23i2.4005

ARTIGO ORIGINAL

Fatores associados a funcionalidade familiar em idosos hospitalizados

Liessa Aparecida Vaz¹, Valeria Nasser Figueiredo¹, Maria Beatriz Guimarães Raponi¹, Patrícia Magnabosco¹, Juliana Pena Porto1

1Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Faculdade de Medicina (FAMED), Minas Gerais, MG, Brasil

Recebido em: 17 de abril de 2024; Aceito em: 30 de abril de 2024.

Correspondência: Liessa Aparecida Vaz, liessavaz23@hotmail.com

Como citar

Vaz LA, Figueiredo VN, Raponi MBG, Magnabosco P, Porto JP. Fatores associados a funcionalidade familiar em idosos hospitalizados. Enferm Bras. 2024;23(2):1580-1590. doi:10.62827/eb.v23i2.4005

Resumo

Objetivo: Analisar a funcionalidade familiar dos idosos hospitalizados e sua possível associação com a capacidade funcional. Métodos: Estudo observacional, com abordagem quantitativa, desenvolvido em um hospital de ensino brasileiro de grande porte. Como instrumentos de coleta dos dados utilizou-se questionário sociodemográfico, clínico e as Escalas de Katz, Lawton, Mini Exame do Estado Mental, depressão geriátrica e APGAR da família. Resultados: Participaram da pesquisa 233 idosos. A maioria deles eram do sexo masculino (147-63,1%), com idade entre 60 e 70 anos (127-54,7%), com hipertensão arterial sistêmica (155-66,5%), eles eram independentes para realizar ABVD (110-47,2%), com cognição preservada (156-67,0%), sinais de depressão (180-77,3%) e boa funcionalidade familiar (138-59,2%). A incidência da disfunção familiar foi maior para idosos que moravam sozinhos (27-61,4%), não praticavam nenhuma religião (22-59,5%) e que possuíam diabetes (42-58,3%). Conclusão: Há associação entre disfunção familiar e o fato de os idosos possuírem diabetes mellitus, morarem sozinhos e não praticarem religião.

Palavras-chave: Enfermagem; família; hospitalização; saúde do idoso.

Abstract

Factors associated with family functionality in hospitalized elderly

Objective: To analyze the family functionality of hospitalized elderly people and its possible association with functional capacity. Methods: Observational study, with a quantitative approach, developed in a large Brazilian teaching hospital. As data collection instruments, a sociodemographic and clinical questionnaire and the Katz and Lawton Scales, Mini Mental State Examination, geriatric depression and family APGAR were used. Results: 233 elderly people participated in the research. The majority of them were male (147-63.1%), aged between 60 and 70 years (127-54.7%), with systemic arterial hypertension (155-66.5%), they were independent to perform BADL (110-47.2%), with preserved cognition (156-67.0%), signs of depression (180-77.3%) and good family functioning (138-59.2%). The incidence of family dysfunction was higher for elderly people who lived alone (27-61.4%), did not practice any religion (22-59.5%) and who had diabetes (42-58.3%). Conclusion: There is an association between family dysfunction and the fact that elderly people have diabetes mellitus, live alone and do not practice religion.

Keywords: Nursing; family; hospitalization; health of the elderly.

Resumen

Factores asociados a la funcionalidad familiar en ancianos hospitalizados

Objetivo: Analizar la funcionalidad familiar de ancianos hospitalizados y su posible asociación con la capacidad funcional. Métodos: Estudio observacional, con abordaje cuantitativo, desarrollado en un gran hospital universitario brasileño. Como instrumentos de recolección de datos se utilizó un cuestionario sociodemográfico, clínico y las Escalas de Katz y Lawton, Mini Examen del Estado Mental, depresión geriátrica y APGAR familiar. Resultados: Participaron de la investigación 233 ancianos. La mayoría eran del sexo masculino (147-63,1%), con edades entre 60 y 70 años (127-54,7%), con hipertensión arterial sistémica (155-66,5%), eran independientes para realizar ABVD (110-47,2%), con cognición conservada (156-67,0%), signos de depresión (180-77,3%) y buen funcionamiento familiar (138-59,2%). La incidencia de disfunción familiar fue mayor entre las personas mayores que vivían solas (27-61,4%), no practicaban ninguna religión (22-59,5%) y tenían diabetes (42-58,3%). Conclusión: Existe asociación entre la disfunción familiar y el hecho de que las personas mayores tengan diabetes mellitus, vivan solas y no practiquen religión.

Palabras-clave: Enfermería; família; hospitalización; salud de los anciano.

Introdução

O mundo passa por um processo de transição demográfica, a diminuição dos níveis de fecundidade e de mortalidade ocorre de forma global. O Brasil é um dos países afetados e tem como resultado a mudança da pirâmide etária que sofreu a redução da base com a diminuição das crianças e o alargamento do ápice com o aumento dos idosos [1]. A expectativa é que em 2030 a população idosa no Brasil deve atingir cerca de 41,6 milhões de indivíduos, enquanto em 2060 a proporção populacional pode chegar a um idoso para cada três brasileiros [2-3].

O processo de envelhecimento, na maioria das vezes, está associado ao desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas também conhecidas como doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e ao comprometimento da capacidade funcional, demandando intervenções contínuas e superespecializadas, que fazem com que esses indivíduos consumam mais os serviços de saúde, necessitem de internação hospitalar e tenham uma permanência mais prolongada, encarecendo demasiadamente o sistema de saúde e prejudicando ainda mais a funcionalidade dos idosos, possibilitando a necessidade de institucionalização e o risco de morte [4-7].

A relação de afeto com a família é um fato significativo, pois quando o idoso tem vínculo emocional e intimidade com alguém, facilita a relação de cuidado. A família é considerada uma instituição, que ao longo do tempo sofre com mudanças na sua constituição e estrutura, para garantir a continuidade e desenvolvimento de seus membros [8].

A avaliação da funcionalidade familiar, permite conhecer aquelas relações em que os membros conseguem viver em harmonia, possuem relação de respeito mútuo, carinho e compreensão e conseguem resolver situações de conflito. Uma organização familiar adequada pode aumentar a qualidade de vida dos idosos, mostrando o quão significativas são as interações familiares e como o suporte familiar é fundamental [9]. Por outro lado, famílias disfuncionais podem provocar conflitos, acarretando um cuidado inapropriado e penoso para os idosos [10].

Conhecer o contexto familiar em que o idoso é inserido é necessário para contribuir com a equipe de saúde, pois o cuidado do idoso no domicílio pode propiciar o convívio familiar, encurtar o tempo de internação hospitalar, reduzir as complicações decorrentes de longos períodos de internações hospitalares, garantir a adesão ao tratamento e possibilitar um melhor prognóstico [11].

Analisou-se a funcionalidade familiar dos idosos hospitalizados e sua possível associação com a capacidade funcional.

Métodos

Trata-se de um estudo observacional, com abordagem quantitativa, desenvolvido em um hospital de ensino brasileiro de grande porte com financiamento próprio.

O estudo teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos (CEP) da Universidade Federal de Uberlândia; CAAE:19650619.8.0000.5152, número do parecer: 4.341.867.

O tamanho amostral total foi estimado em 233 participantes, selecionados através de amostragem aleatória dentre os 4.280 idosos atendidos nos setores Clínica Cirúrgica I (15/6,4%); Cirúrgica II (30/12,9%); Pronto Socorro (158/67,8%); Clínica Médica (18/7,7%) e Oncologia (12/5,2%) do referido hospital, com correção para população finita e ajustamento de recusa de 20%, respeitando-se a densidade populacional dessa comunidade. O nível de confiança foi fixado em 95% e o erro de delineamento em 5,0 %.

Participaram deste estudo as pessoas que possuiam idade igual ou maior que 60 anos, com capacidade cognitiva preservada. Foram excluídos os idosos que apresentavam dificuldades na comunicação verbal. Para a caracterização sóciodemográfica e clínica dos participantes foi prenchido um instumento de coleta de dados criado pelas pesquisadoras responsáveis pelo estudo. Foram obtidas informações quanto a sexo, idade, estado civil, escolaridade, renda, moradia, comorbidades e fatores de risco, uso de orteses e medicações em uso. O período de coleta de dados foi de Outubro de 2021 a Fevereiro de 2022.

A avaliação da capcidade funcional dos idosos se deu pela aplicação dos seguintes testes:

- Escala de Katz, também nomeada como Índice de Atividades Básicas de Vida Diária (ABVD), desenvolvida por Sidney Katz e equipe, que permite mensurar a habilidade do idoso em desempenhar suas atividades cotidianas de forma independente [12].

- Escala de Lawton, também nomeada como Escala de Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD), criada por Lawton e Brody em 1969, que permite avaliar a capacidade de desempenho de atividades mais complexas do dia a dia e se o idoso possui indepenência para viver em comunidade [12].

- Mini Exame do Estado Mental (MEEM), publicado por Folste, Folstein e Mc Houg em 1975, permite o rastreio inicial do estado mental do idoso e é constituído por questões divididas em cinco categorias: orientação temporal e espacial, aprendizagem e memorização de três palavras, atenção e cálculo, linguagem e capacidade construtiva visual [12].

- Escala de depressão geriátrica abreviada, criada por Yesavage em 1983, que contém quinze perguntas com respostas “sim e não” e é utilizada para rastreio de sintomas depressivos na população idosa [12].

Foi aplicado o instrumento A.P.G.A.R da família (instrumento validado para o Brasil e indicado pelo Ministério da Saúde) para mensurar a satisfação do idoso sobre sua família. Este instrumento contém cinco perguntas que permitem evidenciar componentes básicos no funcionamento familiar e adaptação intrafamiliar [12].

A análise estatística foi realizada pelo Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 25. Para avaliar as diferenças entre os grupos, foi utilizado o teste qui-quadrado e foi calculado o Odds-radio (OR) com intervalo de confiança (IC) de 95%. A análise de regressão logística foi realizada para valores significantes.

Resultados

A tabela evidencia os dados sociodemográficos analisados, a relação das características clínicas dos participantes e a incidência da disfunção familiar nos resultados encontrados.

Tabela 1- Análise bivariada e regressão logística envolvendo funcionalidade familiar e as variáveis sociodemográficas/clínicas e hábitos de vida dos participantes. Uberlândia, Minas Gerais, Brasil, 2022

Variáveis Sociodemográficas

e clínicas

Idosos com boa funcionalidade familiar N (%)

Idosos com disfunção familiar (moderada/elevada) N (%)

P1

OR2

OR

AJUSTADA

Sexo

Masculino Feminino

86 (58,5)

52 (60,5)

61 (41,5)

34 (39,5)

0,784

0,92(0,53-1,58)

0,69 (048-1,63)

Idade

60 – 70 anos

71 – 80 anos

Acima de 80 anos

74 (58,3)

32 (56,1)

25 (67,6)

53 (41,7)

25 (43,9)

12 (32,4)

0,872

0,345

1,09 (0,58-2,05)

0,67 (0,30-1,45)

0,40 (0,56-1,25)

Moradia

Sozinho(a)

Cônjuge/companheiro(a)/ filho(a)

17 (38,6)

121 (64,0)

27 (61,4)

68 (36,0)

0,003

2,82 (1,43-5,55)

0,00 (1,29-5,79)

Religião

Sim – praticante Não

123 (62,8)

15 (40,5)

73 (37,2)

22 (59,5)

0,017

2,47 (1,20-5,06)

Escolaridade

Analfabeto

Possui algum grau de escolaridade

31 (58,5)

107 (59,4)

22 (41,5)

73 (40,6)

1,000

1,04 (0,55-1,93)

0,55 (0,60-2,52)

Trabalho

Sim

Não/aposentado(a)

5 (83,3)

133 (58,6)

1 (16,7)

94 (41,4)

0,405

0,28 (0,03-2,46)

HAS3

Não

Sim

45 (57,7)

93 (60,0)

33 (42,3)

62 (40,0)

0,778

0,90 (0,52-1,57)

0,37 (0,38-1,43)

Diabetes

Não

Sim

68 (67,1)

30 (41,7)

53 (32,9)

42 (58,3)

0,000

2,85 (1,61-5,05)

0,00 (1,77-6,61)

Dislipidemia

Não

Sim

99 (60,7)

39 (55,7)

64 (39,3)

31 (44,3)

0,561

1,23 (0,69-2,16)

0,79 (0,57-2,07)

Tabagismo

Não

Sim

48 (60,8)

90 (58,4)

31(39,2)

64 (41,6)

0,779

1,10 (0,63-1,91)

Etilismo

Não

Sim

74 (61,2)

64 (57,1)

47 (38,8)

48 (42,9)

0,594

1,18 (0,70-1,99)

Medicações

Toma todos corretamente

Tem dificuldade

107 (61,1)

31 (53,4)

68 (38,9)

27 (46,6)

0,355

1,37 (0,75-2,49)

0,54 (0,62-2,42)

Fonte: Tabela elaborada pelas autoras, 2022. 1 = referente ao teste qui-quadrado, 2 = Odds-radio, 3 = Hipertensão arterial sistêmica

Conforme Tabela 2, não houve associação entre grau de capacidade cognitiva, capacidade funcional, sinais e sintomas de depressão com disfunção familiar.

Tabela 2Associação entre funcionalidade familiar e capacidade cognitiva, funcional e depressão dos participantes incluídos no estudo (n=233). Uberlândia, Minas Gerais, Brasil, 2021/2022

Variáveis

Boa funcionalidade familiar N (%)

Disfunção
familiar N (%)

P1

Sem Comprometimento cognitivo

90 (60,8)

58 (39,2)

0,580

Com algum comprometimento cognitivo

48 (56,5)

37 (43,5)

Sem dependência para AIVD2

5 (100)

0 (0)

Com alguma dependência para AIVD

133 (58,3)

95 (41,7)

0,81

Sem dependência para ABVD3

71 (64,5)

39 (35,5)

0,142

Com alguma dependência para ABVD

67 (54,5)

56 (45,5)

Sem sinais de depressão

33 (62,3)

20 (37,7)

0,637

Com sinais de depressão

138 (59,2)

95 (40,8)

Fonte: Tabela elaborada pelas autoras, 2022. 1 = referente ao qui-quadrado, 2 = Atividades Instrumentais de Vida Diária, 3 = Atividades Básicas da Vida Diária

Discussão

A taxa de internação hospitalar aumenta, para homens e mulheres, na faixa etária de 60 anos ou mais (15,2%), assim como o risco de internação: de 11,8% aos 60-69 anos, para 17,7% aos 70-79 e 24,2% aos 80 ou mais anos [13]. A amostra deste estudo foi composta, em sua maioria, por idosos entre 60 e 70 anos de idade e do sexo masculino, o que pode ser justificado pelo fato de as mulheres possuírem uma atitude mais preventiva com relação a saúde. Os homens ao contrário, são mais resistentes em relação ao cuidado com a sua saúde e assim adoecem mais, o que resulta na procura pelo serviço de saúde somente quando precisam de tratamento para agravos, o que os tornam mais susceptíveis de serem hospitalizados [14].

Um fator que pode contribuir para a alta taxa de hospitalização entre os idosos é a aposentadoria, pois é um período em que o indivíduo se distancia da vida produtiva e isso propicia o isolamento, a baixa autoestima, depressão e surgimento de outros problemas de saúde [14]. Por outro lado, viver com o parceiro é um significativo indício de bem-estar na velhice e contribui com a funcionalidade e longevidade. Pode-se observar esse benefício com idosos do sexo masculino, pois eles possuem menores chances de se tornarem viúvos [15].

A religião também pode ser um significativo recurso para o enfrentamento de momentos difíceis que podem surgir com o avanço da idade, tais como o declínio das condições de saúde; mudança repentinas; aposentadoria; perdas; isolamento social e familiar. A crença auxilia também na reflexão sobre o propósito de vida dos seres humanos. Por isso o aumento da adesão dos idosos as religiões [16]. Os dados desta investigação corroboram estes fatos, pois mostram maioria de idosos, casados, aposentados e praticantes de alguma religião. No entanto, idosos que não praticavam nenhuma religião tiveram maior incidência de disfunção familiar.

Em termos de saúde, os problemas causados pelo envelhecimento são frequentemente as DCNT que requerem cuidados contínuos e caros, que podem vir acompanhadas de doenças infecciosas e desnutrição [6]. Hipertensão é uma doença crônica, muito comum na população idosa, aumenta sua incidência com o avançar da idade e é fator de risco para outros problemas de saúde que o idoso pode desenvolver [17]. Do mesmo modo é comum encontrarmos idosos com uma ou mais DCNT, elas fazem parte da principal causa de morbimortalidade no mundo [18].

A HAS também foi a DCNT mais encontrada na população investigada, seguida de Diabetes Mellitus e dislipidemias. A disfunção familiar também foi observada para idosos portador de diabetes mellitus. Por se tratar de uma enfermidade de longa duração, o idoso que possui essa doença necessita de cuidados e auxílio durante um bom tempo, logo a família ou a rede de apoio desse idoso precisa estar estruturada para não sofrer durante o tratamento do idoso que possui Diabetes Mellitus. Mas, essa pode ser uma tarefa exaustiva e pode trazer uma sobrecarga aos cuidadores familiares desse idoso, promovendo até um processo de rompimento do equilíbrio familiar [19-20].

Entre os fatores de risco associados ao desenvolvimento de DCNT, foi possível identificar que a maioria dos idosos investigados eram tabagistas e metade deles eram etilistas crônicos. O tabagismo é uma das principais causas evitáveis de morte por doenças não transmissíveis [24]. A ingestão de bebidas alcóolicas pode acarretar prejuízos consideráveis na saúde física e mental de idosos, além de causar comprometimento cognitivo e piora do isolamento social, o que influência diretamente na funcionalidade familiar dos mesmos [25].

Apesar da maioria dos idosos relatar que consegue fazer uso correto das medicações, este fator é preocupante pois múltiplas doenças requerem o uso de múltiplos medicamentos. É habitual encontrar, entre idosos, doses e indicações inadequadas, interações medicamentosas, além do uso de medicamentos de forma excessiva e que não trazem a melhora esperada. Para idosos que possuem polifarmácia e dispõem de problemas de visão, dificuldade de entendimento e pouca escolaridade, o risco de erro na hora da ingestão do medicamento é alto [21-23].

O declínio cognitivo pode ser descrito como um progressivo grupo de distúrbios que podem caracterizar a demência e, assim como a perda gradual da capacidade funcional podem ser influenciados diretamente pela hospitalização, aumentando a chance da piora do quadro de incapacidade e de dependência e influenciando diretamente na qualidade de vida do idoso [26,27].

Os idosos que apresentam o estado de demência também aumentam as chances de possuírem outros problemas de saúde, que proporcionam a polifarmácia, a hospitalização precoce e também o surgimento de problemas em relação a saúde mental do idoso [28,29].

A depressão em idosos é alarmante e também possui associação com perda de capacidade funcional, autonomia, agrava condições sociais, prejudica adesão a tratamentos de saúde e negligência no autocuidado [28].

A família executa um papel de extrema importância com idosos depressivos, é necessário acontecer uma reorganização familiar para conseguir dar o suporte necessário. Foi evidenciado que, nos casos de disfunção familiar, a chance de idosos apresentarem sintomas depressivos foi 5,36 vezes maior em comparação aos que apresentavam bom funcionamento familiar [30].

O bom funcionamento familiar é um grande influenciador de bem-estar e qualidade de vida quando o idoso é respeitado e acolhido no seio familiar. As relações familiares possuem o poder de refletir na saúde de seus membros e com o idoso reflete o cuidado prestado. Para que o idoso possa desfrutar de melhores condições de vida deve haver afeto, respeito e cuidado no convívio familiar [31].

A maioria dos idosos deste estudo mostrou independência para todas as ABVDs, algum comprometimento para realizar AIVDs, cognição preservada, sinais de depressão e boa funcionalidade familiar. Apesar da análise estatística do estudo não ter apresentado associação significante entre a funcionalidade familiar e capacidade funcional, cognitiva ou presença de sinais de depressão, estudos mostraram presença de disfunção familiar significativamente maior nos casos de idosos com depressão [30] e dependência parcial para AIVD (40,4%) e famílias disfuncionais (32,3%) [32].

Conclusão

As variáveis morar sozinho, não praticar religão e DM foram estatisticamente significativas, constituindo fatores de risco expressivos para ocorrência de disfunção familiar em idosos hospitalizados.

Este estudo mostrou associação entre disfunção familiar e o fato de os idosos serem portadores de diabetes melitus, morarem sozinhos e não praticarem religião.

Mais estudos são necessários para conhecer a qualidade das relações familiares e como as equipes de saúde, em especial a de enfermagem, podem ajudar a promover a boa funcionalidade familiar e bem-estar dos idosos.

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflitos de interesse de qualquer natureza.

Fontes de financiamento

Financiamento próprio.

Contribuição dos autores

Concepção e desenho da pesquisa: VAZ LA, PORTO JP; Coleta de dados: VAZ LA; Análise e interpretação dos dados: VAZ LA, PORTO JP, FIGUEIREDO VN, FERREIRA MBG, MAGNABOSCO P; Análise estatística: FIGUEIREDO VN, FERREIRA MBG, MAGNABOSCO P; Redação do manuscrito: VAZ LA, PORTO JP; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: VAZ LA, PORTO JP.

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